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A escola deve combater o cyberbullying e falar sobre cidadania digital

 

cyberbullying não

A escola deve combater o cyberbullying e falar sobre cidadania digital, artigo de Claudio Sassaki

Combater o bullying – no ambiente físico ou virtual – é construir uma sociedade mais conectada com os valores humanos

Um adolescente de 16 anos cometeu suicídio, após ter sido alvo de homofobia na internet. A mãe, em um relato emocionante, afirmou: “Peço que vigiem, porque essa internet está doente”. Embora especialistas apontem que não é correto estabelecer uma única causa para um suicídio – que tem múltiplos fatores –, eles ponderam que comentários negativos nas redes sociais podem ser um gatilho.

As situações de agressão e sofrimento, decorrentes do cyberbullying nas redes sociais, compõem um fenômeno que demanda uma forte atenção de toda a sociedade: sobretudo de pais, responsáveis e educadores. Há anos defendo, firmemente, a importância da mediação para o uso das redes por crianças e adolescentes, além da capacitação desses jovens para uma exposição que apresenta riscos.

Explicando melhor… a escola e a família precisam ensinar os jovens a lidar com as oportunidades, os riscos e os desafios de estarem conectados. A pesquisa TIC Kids Online Brasil – 2019, do Cetic.br|NIC.br, mostra que quando desafiados a julgar as próprias habilidades na internet, 68% dos jovens brasileiros acreditam saber mais do que os pais; 72% afirmam conhecer muito sobre como usar a rede. No entanto, da teoria à prática, a mesma pesquisa aponta que 33% desses jovens não sabem verificar se uma informação encontrada na internet está correta.”.

No entanto, da teoria à prática, em um experimento da mesma organização, 30% dos jovens não souberam verificar se determinada informação na internet estava correta. Esse dado é relevante, porque prova que o nativo digital precisa de orientação; da mediação de professores. E isso inclui orientação sobre o comportamento com relação às pessoas; o refletir sobre como os próprios comentários afetam e como somos afetados por opiniões postadas nas redes. O uso da tecnologia deve ser bem orientado! É aqui que entra a educação para o exercício responsável da cidadania digital.

Educar para a cidadania digital vai além da disseminação da compreensão de conceitos como pegadas digitais. O aluno tem que ser preparado para ver e compreender a relevância desse conhecimento. Esse aprendizado envolve disponibilizar insumos para um alcance pleno da cidadania – ou seja, uma aprendizagem significativa, relevante para o cotidiano do aluno e que o ensine a lidar com questões de saúde da mente frente a questões como o cyberbullying.

Defendo a disciplina de Educação Digital como ferramenta pedagógica para que as escolas possam combater a propagação do preconceito, de atos de intolerância e discursos de ódio on-line, sobretudo nas redes sociais. Com sequências didáticas apoiadas em casos reais, o conteúdo deve ter o objetivo de disseminar entre os alunos com idades entre 13 e 17 anos a noção de que a liberdade de expressão não deve ser confundida com manifestação irrestrita de opinião preconceituosa. Por meio de questões e dinâmicas que despertam empatia, os alunos devem ser convidados a refletir individualmente sobre o tema e debatê-lo em grupo. Assuntos correlatos como limites da privacidade, cyberbullying e assédio on-line são abordados.

Nessa disciplina de Educação Digital, as competências gerais que dialogam com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) podem ser conhecimento; autogestão; pensamento científico, crítico e criativo; repertório cultural; comunicação; cultura digital; argumentação; autoconhecimento e autocuidado; empatia e cooperação; e responsabilidade e cidadania.

Entre as competências e habilidades socioemocionais, destaque para empatia, pensamento crítico, colaboração, argumentação e autonomia. Os eixos estruturantes estão alinhados à investigação científica e mediação e intervenção sociocultural. Nos temas, detox de conteúdo (despadronizando a beleza) e relacionamentos: amizades on-line, tecnologia para estudo, estratégia de busca e avaliação de fontes – informações dentro da perspectiva da autogestão e das boas práticas.

Acredito que a educação digital é uma das formas mais eficientes para combater o uso equivocado das redes sociais e de aplicativos como WhatsApp. Capacitar o aluno para reconhecer quando se está diante de uma fake news, por exemplo, é muito importante. Entretanto, o mais significativo é ter senso crítico e empatia diante de qualquer informação disponível. Combater o bullying – no ambiente físico ou virtual – é construir uma sociedade mais conectada com os valores humanos.

Claudio Sassaki | Graduado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Educação pela Stanford University e cofundador da Geekie, empresa que desenvolveu a primeira plataforma de educação baseada em dados no Brasil

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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