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Divulgação científica em tempos de Fake News: é preciso conversar com a população

 

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Divulgação científica em tempos de Fake News: é preciso conversar com a população, artigo de Lázaro Araújo Santos

Divulgar o conhecimento científico é uma importante forma de combater as fake News que bombardeiam a população cotidianamente, sobretudo no cenário pandêmico no qual nos encontramos

 

Divulgação científica em tempos de Fake News: é preciso conversar com a população

Lázaro Araújo Santos¹

¹Programa de Pós Graduação em Educação Científica – UESB

Nos últimos anos, termos, conceitos, técnicas e outros objetos antes restritos ao meio acadêmico, permearam os noticiários, postes em redes sociais e midiáticas, além das entrevistas em diferentes tipos de programa na televisão. No entanto, assim como o aumento da presença das ciências, houve também um aumento na deflagração de falsas notícias.

Essa contradição entre informação e desinformação se deve, dentre outros fatores, a distância na qual o mundo científico/ acadêmico se encontra da maior parte da população. Existe ainda, infelizmente, aquele ideário no qual o cientista é visto como ser a parte da sociedade, e no alto de sua torre de marfim, todo o resto parece não o abalar.

Contudo, enquanto os pesquisadores e estudiosos se preocupam apenas com as teorias, experimentos e publicações de trabalhos para o apreço somente dos seus pares. Pessoas, com intenção no mínimo duvidosa, divulgam notícias falsas usando afirmações como “pesquisadores de universidades internacionais descobriram…”, “doutor em ciências afirmou que…” ou “foi comprovado cientificamente que…” para validar suas afirmações errôneas.

O fato de nos encontrarmos numa sociedade onde poucas pessoas sabem sobre ciências e/ou como identificar incongruências nessas notícias, intensificam mais ainda a necessidade de os cientistas saírem de seus pedestais e castelos (universidades e outras instituições de pesquisa) e passem a dialogar com a comunidade.

É notório que alfabetizar cientificamente uma população com o tamanho da brasileira é um desafio por si só gigantesco. Contudo, se não contarmos com a participação dos especialistas nas diferentes áreas do saber, o desafio passa a ser impossível.

O que se alevanta, na maioria das vezes, é que a ação de falar sobre ciências com o público leigo é um favor que o pesquisador está fazendo. Todavia, assim como Melo et al., (2020), entendemos que divulgar o ser e o fazer científico é obrigação daqueles que estão inseridos na pesquisa, haja vista ser a população que, na grande maioria das vezes, financiam o desenvolvimento das ciências.

Portanto a divulgação científica deve fazer parte de forma indissociável do ser cientista, nossas ações em nossos laboratórios, escritórios, no campo ou em qualquer outro lugar no qual construímos e reconstruimos saberes, devem chegar ao público da forma mais didática possível, pois é ele que irá se beneficiar, direta ou indiretamente, daquilo que estudamos, pesquisamos e sistematizamos.

Ademais divulgar o conhecimento científico é uma importante forma de combater as fake News que bombardeiam a população cotidianamente, sobretudo no cenário pandêmico no qual nos encontramos. Essas falsas notícias são letais, de acordo Pennycook et al. (2020), as fakes News podem levar as pessoas a recorrerem a remédios ineficazes e que podem ser prejudiciais. Induzindo, ainda, a comportamentos exagerados e certas reações que estimulam ao acúmulo de mercadorias e muitas vezes até ações mais perigosas como desenvolver um comportamento de risco e espalhar inadvertidamente o vírus.

Dessa forma é preciso que as pessoas possam ser apresentadas a ciência, tento em vista que entender a ciência nos facilita, a contribuir para controlar e prever as transformações que ocorrem na natureza. Assim, teremos condições de fazer com que essas transformações sejam propostas, para que conduzam a uma melhor qualidade de vida. Isto é, a intenção é colaborar para que essas transformações que envolvem o nosso cotidiano sejam conduzidas para que tenhamos melhores condições de vida (CHASSOT, 2003).

Por fim, entendemos que é preciso mais que o desafio maior é fazer com que as pessoas não apenas tenham interesse pela ciência, mas que nela encontrem respostas a sua curiosidade em compreender a natureza, a sociedade, seu semelhante. Por isso, é pouco provável que apenas pela ciência estar presente no noticiário signifique que as instituições científicas e veículos de comunicação estão cumprindo seu papel de educar ou ajudar o cidadão. A tarefa de educação científica exige muito mais do que frequentes 60 segundos no horário nobre ou página cativa em alguns jornais de boa tiragem (DUARTE, 2004).

Portanto ratificamos aqui a necessidade de nós, pesquisadores e pesquisadoras, dos mais diferentes tipos de objetos, das mais diversas áreas, e das mais destinadas regiões possamos estabelecer um dialogo entre o saber científico e a população, é preciso que instrumentalizemos as pessoas contra essas falsas notícias e outras formas de pseudociências. É somente através da ação conjunta que conseguiremos lutar contra esse obscurantismo e negacionismo que ronda a ciências desde tempos primevos.

Lázaro Araújo Santos; formado em Ciências Biológicas  (IFbaiano), com aperfeiçoamento em Imunologia (FMMESP) especialista em Neurociências  (FAVENI), e atualmente mestrando do programa de pós-graduação em educação científica e formação de professores  (UESB)

 http://lattes.cnpq.br/9405066243024092 

REFERENCIAS

CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 22, p. 89-100, jan. / abr. 2003.

DUARTE, Jorge. Da divulgação científica à comunicação. Associação Brasileira de

Jornalismo Científico, 2004.

MELO, A. H.; ROCHA, M. B.; MICELI, B. S.; SILVA, K. A.; MONERAT, C. A. A divulgação científica relacionada à epidemiologia: o caso da revista superinteressante. Research, Society and Development, v. 9, n. 3, p. e106932489-e106932489, 2020.

PENNYCOOK, G.; MCPHETRES, J.; ZHANG, Y., LU, J. G.; RAND, D. G. Fighting COVID-19 misinformation on social media: Experimental evidence for a scalable accuracy-nudge intervention. Psychological science, v. 31, n. 7, p. 770-780, 2020.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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