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Ações resilientes para um novo olhar sobre as cidades pós pandemia da Covid-19

 

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Ações resilientes para um novo olhar sobre as cidades pós pandemia da Covid-19, artigo de Paulo Sérgio da Silva

A edificação de uma cidade resiliente exige um profundo trabalho que identifique antes de tudo os seus pontos fracos, seus riscos e as vulnerabilidades

O ano de 2020 no Brasil havia iniciado com certa “normalidade” porque há um ditado popular que o tudo no país só “começa depois do carnaval”. A chegada desse grande evento de repercussão nacional e durante cinco dias praticamente “paralisa” algumas atividades, abrangendo praticamente todos os ramos da economia, política e a sociedade de forma geral.

Mas, não foi isso que aconteceu, após a ressaca do carnaval passar e o brasileiro acordando para um ano novo, todos foram surpreendidos com uma pandemia que alastrava o mundo afora e que já apresentava sinais de entrada no país e severos riscos de atingir de forma muito agressiva todas as regiões.

A pandemia denominada de COVID-19 no primeiro momento não causou tanto espanto assim, pois diziam que o vírus “não gosta de calor” e as regiões por onde ele estava circulando e repercutindo de forma avassaladora tinham temperaturas baixas e o risco de se multiplicar aqui no Brasil eram baixos.

As cidades sofreram o reflexo direto dessa pandemia por meio do isolamento social alterando de forma brusca todo o comportamento da circulação de pessoas de pessoas, de veículos, de serviços, da maneira de comprar, de vender, de viver, de morar expondo drasticamente sua capacidade de lidar com o adverso e se manterem dentro de uma “normalidade” funcional.

Um ano após a deflagração da pandemia, percebe-se que essas mudanças não passaram e seus reflexos no comportamento urbano ainda são e serão vistos por muito tempo influenciando no comportamento das cidades, basta um olhar mais atento para esses lugares onde pessoas e prédios reconfiguram as novas paisagens.

A pandemia de alguma forma vai dar novas condições e estratégias para uma possível reconstrução das cidades através do planejamento urbano tornando-as resilientes, saudáveis e para as pessoas em uma (re) inversão de valores que inicie pela mobilidade, passando pela acessibilidade, valorizando os espaços verdes, a inclusão e de enfrentamento as desigualdades.

A edificação de uma cidade resiliente exige um profundo trabalho que identifique antes de tudo os seus pontos fracos, seus riscos e as vulnerabilidades, traçando assim metas que aumentem a sua capacidade de resistência aos danos, sejam naturais ou humanos.

Dessa forma mesmo que a longo prazo as cidades terão de descobrir condições de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar da população através de uma administração que priorize os ambientes de interação das pessoas com o meio em que elas vivem valorizando o local.

No sentido de novos olhares sobre essas paisagens urbanas, listo abaixo alguns que considero importantes para essa nova reconexão entre ambientes e pessoas que foram duramente impactadas e com resiliência podem se tornar mais fortes e integrativas. Após um mergulho sobre a temática nesse tempo de pandemia.

Habitação: Muito mais que um lugar para morar se tornou um lugar para trabalhar, estudar e inteirar, dessa forma, privilegiar investimento na melhoria e ampliação das casas possibilitando o desempenho das múltiplas funções que passou a ter. A resiliência nesse caso se volta para as políticas públicas que atendam a população mais vulnerável e a diminuição do déficit de habilitações.

Home Office: Uma forma de trabalhar fora das empresas, dos grandes centros empresariais, das cabines, dos ambientes formais de negócios. Novas formas de se relacionar trabalho e trabalhador permitindo certa liberdade e tempo para o lazer por exemplo. A resiliência nesse caso consiste em investimentos maciços em conectividade urbana, melhoria de redes e serviços, acesso desse tipo de serviço a população de forma geral.

Educação: As chamadas aulas presenciais continuarão, porém a participação e inserção das aulas online ou virtuais é um caminho sem volta. A experiência de pouco mais de um ano mostrou que é possível ensinar e aprender com as ferramentas de conexão, o ensino a distância já praticava há muito tempo essa modalidade. A resiliência nesse caso consiste em aproveitar essa oportunidade e fazer ampla reforma na educação da base ao ensino superior, deixando os projetos pedagógicos mais práticos, efetivos e expor uma metodologia de ensino-aprendizagem que seja mais inclusiva e participativa.

Políticas Públicas: Ampliação dos programas governamentais de forma mais abrangente para o enfrentamento das desigualdades extremamente necessárias para garantir o acesso para todas as pessoas e não em benefício de grupos. A resiliência nesse caso se volta para colocar em questão a capacidade do gestor público de enfrentar os desafios propostos na pandemia, valorizar os aspectos positivos e torná-los uma política pública universal e não estratificada.

Urbanização: A importância da aplicação desse conceito no sentido mais amplo, muito além de residências e avenidas, valorização das residências, investimentos para diminuição do déficit habitacional e dar condições das pessoas de ampliar seus imóveis ou adquirir um maior. A resiliência nesse caso consiste em a gestão pública promover uma ampla reforma não somente do ponto de vista sanitário, principalmente com a ampliação da capacidade de água tratada e esgoto recolhido como também nos aspectos urbanísticos em busca das cidades saudáveis.

Transporte: O isolamento social promoveu a flexibilização das diversas atividades que a cidade desempenha e bruscamente interferiu no fluxo de pessoas para os mais diversos motivos e, claro, diminuição do número de veículos nas ruas. Aqui a resiliência vai ao encontro das oportunidades e investimentos na qualidade do transporte publico, acessível, inclusivo e da mobilidade.

Comércio: Não se compra mais como antigamente essa é a expressão mais comum que circula no mundo comercial. Novamente o isolamento social promoveu mesmo que a toque de caixa, uma nova forma de produzir, uma nova forma de comprar e de consumir, ditando novas regras ao setor produtivo incentivando-o a novos olhares sobre o consumidor. A resiliência nesse consiste em maciços investimentos em tecnologias, tornando as cidades inteligentes e atrativas, ampliando inclusive as oportunidades de trabalho e renda.

Serviços: A diminuição deslocamento de pessoas para os grandes centros reinventa os pequenos comércios e principalmente aqueles locais, as chamadas lojas de conveniências ou mercadinhos que antes haviam perdido seu espaço para as grandes redes de supermercados. A resiliência aqui consiste nas novas oportunidades para valorização dos pequenos comércios próximos das moradias.

Segurança Pública: O isolamento social mais uma vez interfere no comportamento das pessoas, nesse caso, residências com maior número de pessoas, menor risco de furtos e diminuição da violência na chamada polícia de bairro. A resiliência aqui consiste no incentivo à participação popular na segurança pública.

Lazer: Pessoas e famílias em casa motivaram o meio artístico e cultural a promoverem as Lives, shows e peças de teatro online promovendo a importância desse segmento fora dos anfiteatros, casas noturnas e teatros. A resiliência consiste em investimentos em tecnologias de transmissão, diminuição de custo e de qualidade para a população.

Eventos: Redução drástica de público e a tendência dos eventos virtuais. A resiliência aqui está na ampliação da utilização dos ambientes edificados seja teatros, estádios ou arenas, por exemplo, como plataformas para a produção e transmissão de eventos.

Recreação: As áreas públicas de circulação de pessoas passaram a serem mais procuradas por questões de segurança e também pelo efeito positivo que elas proporcionam sejam nos parques, nas vias de práticas esportivas ou nos clubes. A resiliência aqui é atentar para a ampliação dos espaços coletivos como os parques e áreas livres.

Vejam que do limão a limonada, apesar de toda a dificuldade que as pessoas e as cidades enfrentam diante desse cenário da pandemia ainda é possível pensar em tornar esses riscos em oportunidades não somente de desenvolvimento como também de revalorização das pessoas em uma busca contínua pela qualidade de vida nos diferentes ambientes que vivem.

Dessa forma, as cidades são as pinturas mais realísticas possíveis dos grandes eventos que atinge o mundo ao longo da história, por serem espaços onde vivem a maior parte da população e onde todas as transformações aconteceram com a mesma velocidade que um trem-bala faz a cidade de Pequim à cidade de Hong Kong revela sua capacidade de se (re) inventarem sempre.

Os cenários urbanos nunca mais serão os mesmos porque as pessoas se relacionarão de outra forma e a tendência é a criação de novos elementos que atendem essa nova forma de relacionar na cidade, com a cidade e para a cidade valorizando o antigo (já existente) e criando novos ambientes.

A tradicional organização das cidades destacadas na famosa Carta de Atenas de Le Corbusier habitar, trabalhar, recrear e circular ganham novos elementos que invertem as funções em que o habitar, recrear e trabalhar podem ser realizados no mesmo ambiente e o circular perde força porque o distante se tornou bem mais próximo e de baixo custo realizados por meio das tecnologias.

Dessa forma a grande luta dos paisagistas, urbanistas e arquitetos por um planejamento urbano que priorizava a valorização do espaço público, do compartilhamento, da inclusão social, digital e interativa tornando as cidades mais criativas, pode desaparecer caso não sejam feitos novamente um trabalho de releitura desses espaços.

Por fim, o viver e morar nas cidades diante do isolamento entre as pessoas provocadas pela pandemia da COVID-19 se apresenta como fortes tendências ao individualismo e a segregação social além do distanciamento e da convivência, porém, reside exatamente nesses aspectos a aplicação no sentido mais amplo da resiliência para buscas elementos que promova a inter-relação entre e para as pessoas.

Prof. Dr. Paulo Sérgio da Silva
Universidade Federal de Uberlândia – UFU

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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