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Poluição das Grandes Fazendas Brasileiras – Quantas Mortes por Ano?

 

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Foto: Unsplash/University of Kent

Poluição das Grandes Fazendas Brasileiras – Quantas Mortes por Ano? artigo de José Rodrigues Filho

A brisa soprada de uma fazenda de porco carrega gases perigosos: metano, amônia e sulfato de hidrogênio. O odor das fazes de porco é muito forte. Os gases do esterco e alimentação animal produzem pequenas partículas, que irritam o pulmão e capazes de flutuar por vários quilômetros (Washington Post).

Pesquisa recente publicada pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a primeira sobre poluição do ar nas fazendas americanas, mostra que mais do que 17 mil mortes por ano são registradas no país.

A agricultura animal é o mais mortal emissor de partículas de poluição do ar, responsável por 80 por cento das mortes da poluição relacionadas com a produção de alimentos.

Os gases associados com estercos e alimentação animal produzem pequenas partículas, que irritam o pulmão, sendo capazes de flutuar por vários quilômetros. Por sua vez, a brisa soprada de uma fazenda de porco carrega gases perigosos: metano, amônia e sulfato de hidrogênio. Além disto, o odor das fazes de porco é muito forte.

Assim sendo, a pobre qualidade do ar é o maior risco de saúde ambiental nos Estados Unidos e no mundo e a agricultura é a maior fonte de poluição do ar, com a produção agrícola causando mais mortes anualmente do que as emissões das fábricas de carvão, de acordo com o estudo acima citado, sendo a maioria das mortes causadas pela produção de alimentos.

Apesar disto, das discussões sobre os impactos de alimentos na saúde ambiental, a qualidade do ar tem sido ausente. Enquanto a poluição das fábricas de carvão e de veículos é bastante regulamentada, o mesmo não acontece com a regulação da qualidade do ar das grandes fazendas. O estudo mostrou ainda as mortes relacionadas com as emissões das cadeias de suprimentos, sendo a produção de determinadas commodities como carne e porco as que mais se destacam. Os locais ou municípios que apresentaram o maior número de morte foram identificados.

Como já foi dito aqui no EcoDebate, “é fundamental que haja mais compreensão sobre as causas e riscos apresentados pela pecuária” no Brasil, considerando o alerta de cientistas “há décadas sobre os riscos das práticas agrícolas intensivas para a saúde pública”.

O danoso modelo agrícola do Brasil, concentrador de terras e frigoríficos e seu insustentável modelo de agronegócios tem que ser estudado considerando seus maléficos efeitos sobre a poluição do ar, que pode ser uma das piores do mundo.

Além disto tem-se que começar a registrar o número de mortes anualmente, causadas pela péssima qualidade do ar oriunda das grandes fazendas, fazendas industriais, frigoríficos e cadeias de suprimentos internacionais. Com a Pandemia, o mundo começou a compreender melhor como o capitalismo nas fazendas industriais e grandes cadeias de abastecimentos funcionam no Brasil, cujo propósito e coletar lucros enquanto o resto de nós arcamos com as consequências.

Para a professora Jannifer Jacquet do Departamento de Estudos Ambientais da Universidade de Nova York, a indústria de carnes está fazendo exatamente o mesmo o que as grandes companhias de petróleo fizeram para enfrentar ações climáticas, conforme matéria do Jornal Washington Post. Contudo, o público aprendeu sobre as táticas destas empresas ao longo de décadas de investigações por jornalistas, pesquisadores, juristas e grupos da sociedade civil como o Centro de Investigação do Clima.

A agricultura americana está começando a ser investigada da mesma forma, embora elas tenham preferência pelas condições climáticas em termos de energia e transporte. Para a professora Jannifer Jacquet, as promessas dos Estados Unidos para o acordo de Paris fez apenas uma referência às “fazendas de animais” e nenhuma à “carne”. Para ela, é tempo de se perguntar por que?

Enquanto os parlamentos das principais economias mundiais estão votando legislações voltadas para um capitalismo responsável, tentando aliviar o sofrimento nestes tempos difíceis, o parlamento brasileiro aproveita o silencio e isolamento da Pandemia para votar o que existe de pior contra a sociedade, a exemplo da recente lei geral do licenciamento ambiental, já chamada da “mãe de todas as boiadas”, em favor do lucro dos gananciosos e uma poluição desenfreada, que vai afetar a saúde e qualidade de vida da população. Ações desta natureza envergonham o mundo, que começa despertar para ações sustentáveis em defesa do meio ambiente e de gerações futuras.

Espera-se que as mudanças externas possam influenciar o nosso modelo agrícola perverso, baseado em atividades agrícolas intensivas, que vem destruindo a Amazônia, os biomas e todos os recursos ambientais da natureza.

Estamos vendo a Comunidade Europeia defendendo sistemas alimentares baseados numa agricultura local e regional, evitando importar toneladas de alimentos das cadeias de suprimentos internacionais, que deixou o mundo assustado e chocado, diante de suas ações antiéticas de enfrentamento do vírus.

Empresas e investidores começam a se interessar pelo chamado ESG (sigla em inglês que significa melhores práticas ambientais, sociais e de governança). Países como Canadá e Estados Unidos começam também a incentivar uma agricultura local e regional, além do surgimento de gigantes da carne de plantas.

A indústria de carnes é muito poderosa em países como Brasil e Estados Unidos, onde a carne ainda é um alimento saboroso, mas os estilos de vida estão mudando. Tanto no Canadá como nos Estados Unidos os guias alimentares buscam reduzir o consumo de carne, sem falar da China que está sugerindo a seus cidadãos uma redução pela metade do consumo de carne.

Enfim, pesquisa do Instituto Gallup mostrou que, em 2019, um em cada quatro americanos reduziu o consumo de carne, principalmente por razões ambientais e de saúde. Com a Pandemia, as questões éticas foram acrescentadas. Os líderes mundiais começam a observar as preferências e desejos dos consumidores, que num período pós-pandêmico podem trazer grandes surpresas. Não se pode esquecer o que disse o ativista Leah Garcés: é mais fácil levar metade dos americanos às comidas vegetarianas do que tornar metade deles vegetarianos.

*José Rodrigues Filho é professor da Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador nas Universidades de Johns Hopkins e Harvard. Recentemente foi professor visitante na McMaster University, Canadá. https://jrodriguesfilho.blogspot.com/

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/05/2021

 

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