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Imunologia, natureza e saúde: reverberações fisiológicas de um problema ecológico

 

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Imunologia, natureza e saúde: reverberações fisiológicas de um problema ecológico, artigo de Lázaro Araujo Santos

A destruição da biodiversidade leva à menor interação entre as microbiotas ambiental e humana. Por sua vez, isso pode levar à disfunção imune e à perda de mecanismos de tolerância em humanos

 

Imunologia, natureza e saúde: reverberações fisiológicas de um problema ecológico

Lázaro Araujo Santos¹

Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Formação de Professores – UESB

Quando pensamos na perda da biodiversidade e no evidente problema ecológico – sustentável que possuímos, a grande maioria das pessoas imaginam as derrubadas catastróficas em florestas icônicas, tal como a amazônica, ou, situações como a extinção de grandes animais, por exemplo, o rinoceronte branco. Contudo, a alteração na biodiversidade vai muito além desses exemplos, e reverbera em extremos mais díspares possíveis.

Uma perspectiva pouco utilizada e midiaticamente menos chamativa é a perda, ou, alteração da microbiota ambiental e, consequentemente, a modificação dos microrganismos existentes em nosso corpo (HANSKI et al., 2012)

A mudança nas condições climáticas, as modificações intensas nos diferentes ecossistemas, liberação de substâncias industrializadas nos oceanos e nos ares, bem como a mudança de hábitos alimentares associados a estilos de vidas típicos de século XXI, contribuíram para que os organismos microscópicos que até outrora, não apenas faziam/fazem parte da nossa constituição biológica se modificassem, como, também, em alguns casos, fossem totalmente substituídos (HAAHTELA et al, 2013).

Uma das principais consequências dessa súbita alteração da microbiota, seja ela a presente no ambiente ou a existente no organismo humano, é a desregulação do sistema imunológico.

Os seres humanos evoluíram com os micro-organismos, que não promovem respostas imunes defensivas, mas, ao contrário, induzem circuitos imunorregulatórios. Uma redução súbita na abundância ou na diversidade desses micro-organismos, até então universais, pode ter levado a falhas em regular e restaurar respostas imunes e inflamatórias de maneira apropriadas (HANSKI et al., 2012).

Além disso, a destruição da biodiversidade leva à menor interação entre as microbiotas ambiental e humana. Por sua vez, isso pode levar à disfunção imune e à perda de mecanismos de tolerância em humanos.

Pesquisas demonstraram que Participantes que viviam em fazendas ou nas proximidades de florestas tiveram uma composição bacteriana diferente em suas peles e se revelaram menos sensibilizados a alérgenos, em comparação com as pessoas que tinham menos contato com o ambiente natural e que estavam vivendo em áreas edificadas (HAAHTELA; VON HERTZEN; HANSKI, 2013).

Esses mesmos pesquisadores realizaram, ainda nesse estudo, pesquisas com adolescentes, demonstrando que em indivíduos saudáveis existe uma maior diversidade de um grupo de bactérias, do tipo gamaproteobactérias, na pele, quando comparados aos adolescentes que apresentaram maior sensibilização a alérgenos (HAAHTELA; VON HERTZEN; HANSKI, 2013).

Além disso, entre os adolescentes saudáveis, a abundância de certa gamaproteobactéria, Acinetobacter, na pele foi positivamente associada com o nível de uma importante molécula sinalizadora anti-inflamatória interleucina 10.

Essa ideia que relaciona o declínio da diversidade biológica com a disfunção do sistema imune ficou conhecido como hipótese da biodiversidade que, assim como a hipótese higiênica, creditam o surgimento e o aumento no número de doenças e quadro clínicos, tais como autoimunidade, descontrole de processos inflamatórios e maior prevalência/incidência de hipersensibilidade a nossa atual forma de nos relacionarmos com a natureza (HAAHTELA et al., 2013).

Portanto, é preciso ter em mente que a microbiota que carregamos não pode mais ser considerada como espectadores passivos e temporários, são, contudo, participantes ativos e essenciais no desenvolvimento e manutenção da função de barreira e da tolerância imunológica.

Dessa forma, torna-se evidente a necessidade de se pensar as ações conservacionistas de forma holística uma vez que a destruição e, consequente, perda da diversidade em uma escala microscópica é tão ruim quanto a derrubada de uma floresta ou extinção de animais de grande porte.

É notório que as ações humanas em relação ao ambiente acarretarão alguma consequência, é preciso, sendo assim, agirmos de forma deliberada e ecologicamente consciente a fim de que no ímpeto de querer crescer a todo custo e a toda forma, o homem não acabe se destruindo, bem como a natureza que o cerca.

Lázaro Araújo Santos; formado em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal da Bahia (IFbaiano), especialista em Neurociências pela Faculdade Venda Nova imigrante (FAVENI), e atualmente mestrando do programa de pós graduação em educação científica e formação de professores da Universidade do sudoeste da Bahia (UESB)
Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/9405066243024092

REFERÊNCIAS

Haahtela T, Holgate ST, Pawankar R, Akdis CA, Benjaponpitak S, Caraballo L, et al. and WAO Special Committee on Climate Change and Biodiversity. The biodiversity hypothesis and allergic disease: orld Allergy Organization position statement. World Allergy Organization, v. 6, n. 3, p. 1 – 5, 2013.

HAAHTELA, Tari; VON HERTZEN, Leena; HANSKI, Ilkka. Hipótese da biodiversidade explicando o aumento dos transtornos inflamatórios crônicos-alergia e asma entre eles em populações urbanizadas. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, v. 1, n. 1, p. 5-7, 2013.

Hanski I, von Hertzen L, Fyhrquistc N, Koskinen K, Torppa K, Laatikainen T, et al. Environmental biodiversity, human microbiota, and allergy are interrelated. Proc Natl Acad Sci USA, v.109, n. 1, p. 8334 – 8339, 2012.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/05/2021

 

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