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Desperdício energético no Brasil

 

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Desperdício energético no Brasil

Entre 2015 e 2017 o Brasil teve um desperdício energético da ordem de R$ 61,7 bilhões, valor que seria suficiente para a construção de 240 hospitais

O Brasil se apresenta como um País com enorme potencial para o processo de transformação da cultura de Eficiência Energética.

Por Daniela Mesquita

De acordo com a Carbon Trust em sua pesquisa intitulada “Transformative Investiment for Energy efficiency and Renewable Energy”, publicada em 2017, o mercado de eficiência energética brasileiro é estimando em R$ 18 bilhões, sendo que apenas as empresas ESCO´s (Empresas de serviço de conservação de energia) captam cerca de R$ 531 milhões anualmente.

Um levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Conservação de Energia (ABESCO) aponta, no entanto, que entre 2015 e 2017 o Brasil teve um desperdício energético da ordem de R$ 61,7 bilhões, valor que seria suficiente para a construção de 240 hospitais.

“Projetos de fomento e desenvolvimento de iniciativas em Eficiência Energética (EE) poderiam evitar esse custo para o País e, consequentemente à nossa economia, que perde em produtividade e competitividade”, detalha Frederico Araújo, presidente da entidade. Ele reforça que “só o setor da indústria poderia economizar mais de R$ 4 bilhões com ações de EE. No caso do comércio, o potencial é de R$ 2,4 bilhões, o equivalente a 17,6% da geração de uma usina como a de Belo Monte”. O especialista traz outro apontamento sobre o tema: segundo levantamento da WEG (fabricante de motores industriais), a energia consumida na indústria corresponde a 41% do total consumido no país, sendo 67% realizado por motores elétricos, o que representa 27% do consumo de toda a energia elétrica do Brasil.

Para Araújo, “um dado estarrecedor no que tange a eficiência na indústria é que existem cerca de R$ 20,8 milhões de motores instalados no Brasil, sendo que aproximadamente R$ 11,6 milhões destes têm idade maior ou igual a 19 anos, dos quais R$ 4,45 milhões com potência entre 0,16cv e 500cv, e têm um ROI (retorno sobre investimento) menor ou igual a 2 anos. Esses números indicam um mercado com grande potencial”. Observados o tamanho e ampla capacidade do mercado brasileiro, fica cada vez mais evidente a importância de se ter empresas de engenharia aptas a explorar esse universo com soluções práticas e sustentáveis para a eficiência energética.

“Atualmente a ABESCO conta com cerca de 50 associados presentes em todo o território nacional, dentre estes empresas fornecedoras de equipamentos, de consultoria e ESCO´s. A associação, após mais de 20 anos de atuação em prol da construção e fomento de um mercado de eficiência energética, acredita que há, hoje, uma estrutura de mercado com empresas sólidas e com um portfólio de soluções completas”, explica o executivo. Ações de eficiência energética têm agilidade e baixo custo de implementação, não exigência de infraestrutura e licenciamento, contribuição para modernização da indústria e aumento de competitividade, bem como aderência total às melhores práticas de sustentabilidade e descarbonização.

Com estes dois fatores como impulsionadores da eficiência energética no Brasil e no mundo, “se faz importante trazer para discussão tudo que está sendo mencionado dentro de uma agenda verde mundial, tais como mudanças climáticas, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, ESG – Environmental, Social and Governance (em português, Ambiental, Social e de Governança), Sistema B e Acordo de Paris”, complementa o presidente da ABESCO. Ele reforça a importância desses temas: “todos os pontos desta agenda verde e social no mundo têm como um dos seus principais alicerces a descarbonização e, junto dela estão, as ações de Eficiência Energética”.

Prédios públicos e residências

Nesse sentido, em 2020 o governo do Reino Unido anunciou a alocação de mais 3 bilhões de libras para aprimorar a eficiência energética de residências e prédios públicos, numa iniciativa que deve sustentar mais de 100 mil empregos. Ou seja, esse projeto do governo britânico está alinhado com o esforço da descarbonização e com os impactos sociais positivos da geração ou manutenção de empregos no País. De acordo com o presidente da associação, caso implementada pelo governo brasileiro, uma ação deste tipo teria como resultado a modernização das organizações brasileiras, o aumento da competitividade, a geração de emprego e renda e um completo alinhamento às melhores práticas de sustentabilidade, sociais e governança, colocando o Brasil dentro do cenário internacional da economia ESG.

ISO 50001

Outro fator que pode se tornar um estímulo adicional ao mercado da eficiência energética no Brasil é a adoção da ISO 50001 – uma norma internacional voluntária que fornece às organizações os requisitos para implementação do Sistema de Gestão de Energia (SGE). A ISO estabelece sistemas e processos necessários para melhorar o desempenho energético global da organização, incluindo a utilização, consumo e eficiência energética e pode ser aplicável a todos os tipos e dimensões de organizações. Para o presidente da ABESCO, a medida traz uma importante metodologia de gestão de energia, que pode reduzir o desperdício energético no Brasil.

“Nesse contexto, as ESCO´s são importantes parceiros das organizações para a implantação da ISO 50001, uma vez que podem trabalhar desde a captura de dados de consumo e variáveis relevantes que afetam o uso de energia e o seu desempenho, passando pela elaboração do diagnóstico energético, chegando à implementação das ações de Eficiência Energética, geração de indicadores, medição e verificação de resultados e acompanhamento constante. Ela pode favorecer ainda mais o desenvolvimento social e econômico do País, formando a cultura do uso racional da energia nas organizações, independentemente do porte”, concluí Araújo.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/05/2021

 

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