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Biofilia: A importância do contato com a biodiversidade para a saúde e bem-estar dos seres humanos

 

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Biofilia: A importância do contato com a biodiversidade para a saúde e bem-estar dos seres humanos, artigo de Lázaro Araújo Santos

O urbanismo biofílico concentra-se na utilização de elementos naturais na concepção e função das cidades

BIOFILIA: A IMPORTÂNCIA DO CONTATO COM BIODIVERSIDADE PARA SAÚDE E BEM-ESTAR DOS SERES HUMANOS

Lázaro Araújo Santos¹

¹Mestrando do programa Educação cientifica e Formação de Professores – UESB. lazaro15_@hotmail.com

Um breve panorama

O termo biofilia foi cunhado pelo psicólogo social Erich From, mas ficou conhecida pela aplicação nas teorias do Edward Wilson (1984), que descreve o termo como: a relação de amor à natureza, e a ligação emocional dos humanos com outros organismos vivos.

Para esses autores a necessidade de interação inata do ser humano para com a natureza configura-se em um desejo humano decorrente de traços da nossa evolução. Como explicam Heerwagen e Iloftness (2012) o conceito de biofilia implica que os seres humanos têm uma necessidade biológica de conexão com a natureza nos níveis físico, mental e social. “A ideia da biofilia origina-se em uma compreensão da evolução, onde por mais de 99% da nossa história de espécies nos desenvolvemos biologicamente em resposta adaptativa a forças naturais não artificiais ou humanas criadas.” (KELLERT; CALABRESE, 2015).

Contudo, ao analisarmos os últimos capítulos da historia da humanidade, veremos que nossa espécie vem gradativamente se afastando do mundo natural. Desviando de uma história natural trilhada, em sua maior parte, em intima interação com a biodiversidade. Vivemos em um tempo no qual a maior parte da população se encontra em centros urbanos e conglomerados que expõe o Homo sapiens a uma realidade completamente diferente daquela dos nossos antepassados (UNITED NATIONS; 2015).

Natureza e bem-estar: biodiversidade como terapia

A interação humana com a natureza proporciona um aumento atividade parassimpática, resultando em melhor função corporal e redução da atividade simpática. Ou seja, o conectar-se com ambientes naturais, reduz atividade do sistema responsável por lutar ou fugir (estresse) e aumenta a atividade do sistema responsável pela calma, saciedade e repouso. O resultado é diminuição do estresse e irritabilidade, e a capacidade aumentada de se concentrar.

A participação em atividades que envolvam contato com a natureza nas cidades tem benefícios emocionais e fisiológicos positivos, como a diminuição do estresse, raiva, tensão. Os locais verdes das cidades também são pontos de interação entre os residentes e ajudam no processo de socialização. “A interação com o meio ambiente pode executar uma função restauradora e contribuir para o bem-estar” (BEATLEY; NEWMAN, 2013).

Estudos realizados por Berg; Joyce; De vries (2013) concluíram que pacientes apresentados a simples quadros ou fotografias de ambientes naturais apresentavam um aumento significativo na recuperação frente aqueles que foram submetidos a essa apresentação.

Além disso, os trabalhos de Mass et al.,(2009) apontaram que pessoas que viviam proximamente a ambientes naturais, verdes e com uma diversidade ecossistêmica considerável possuem menor risco de desenvolverem quadros depressivos ou de ansiedade, Louv (2016) também demonstrou que pacientes acometido pelo Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ao caminhar durante 20-30 minutos em parques ou áreas verdes apresentavam a mesma resposta que a utilizada pelo metilfenidato, que é o fármaco mais prescrito para o TDAH.

Na contra mão dos benefícios trazidos ao homem pelo contato com a natureza, os ambientes atuais não saudáveis presentes nos centros urbanos de grandes cidades tem, segundo a OMS (2016), contribuído direta ou indiretamente para o óbito de 12,6 milhões de pessoas.

Ademais, a artificialidade que permeia a existência da espécie humana atual, bem como a desconexão progressiva da humanidade em relação a natureza, contribui, segundo McCurdy et al.,(2010), para o aumento de incidência e prevalência de doenças como obesidade, asma, doenças auto imunes desencadeada pelo modo de vida estressante e hipercalórico atual e carência de vitamina D.

Algumas conclusões e possíveis soluções

Partindo dessa perspectiva, e tendo como pressuposto a hipótese da biofilia, é necessário que repensemos nosso modelo de cidade e urbanização, haja vista não apenas a considerar nosso aspecto evolutivo enquanto espécie, mas, também, os aspectos associados a saúde pública.

Nesse ínterim, emerge o que se denominou de urbanismo biofílico. Conforme Beatley e Newman (2013) o urbanismo biofílico concentra-se na utilização de elementos naturais na concepção e função das cidades. Tais elementos reduzem o efeito das chamadas ilhas de calor, diminuem as cargas de aquecimento e resfriamento dos edifícios, melhoram a qualidade do ar, ajudam diminuir a violência urbana e a depressão, além de servir como ambientes terapêuticos.

As cidades estão sendo construídas como aglomerados de edificações sólidas e frias, que não respeitam o meio ambiente no qual se inserem, ao contrário, o negam, e crescem inexpressivas, desprendidas de qualquer vínculo emocional que a arquitetura possa ter para com o homem e com a natureza. A cidade moderna é o símbolo de uma sociedade complexa, que apresenta um caos visual devido à falta de organização dos seus elementos, assim como um total desligamento da humanidade com a natureza que o formou.

É importante que tenhamos em mente que o ser humano reconhece o mundo e coleta informações por meio dos sentidos, dessa forma, a percepção do meio ambiente influencia diretamente no comportamento humano, pois o homem atribui significados na medida em que realiza suas interpretações do meio exterior.

Dessa forma, e tendo essa complexa conjectura como uma das principais problemáticas atuais. Esperamos ter apresentado de forma satisfatória a necessidade de retornarmos os nossos olhares para natureza, não com uma perspectiva utilitarista, mas como transformados e transformadores do meio que nos cerca.

REFERÊNCIAS

OMS, Organização Mundial da Saúde.10 fatos sobre a prevenção de doenças em ambientes saudáveis, março de 2016. Disponível em:<https://www.who.int/features/factfiles/environmental-disease-burden/en/> Acesso em: 19 Abr. 2021.

WILSON, E. O. Biophilia: the human bond with other species. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1984.

McCURDY, L. E.; WINTERBOTTOM, K. E.; MEHTA, S. S.; ROBERTS, J. R. Using nature and outdoor activity to improve children health. Current problems in Pediatric Adolescent Health Care, v. 40, n. 5, p. 102-117, 2010.

LOUV, R. A última criança na natureza: resgatando nossas crianças do transtorno de deficit de natureza. São Paulo: Aquariana, 2016.

MAAS, J.; VERHEIJ, R. A.; VRIES, S.; SPREEUWENBERG, P., GROENEWEGEN, P. P.; SCHELLEVIS, F. G. Morbidity is related to a green living environment. Journal of Epidemiology & Community Health, v. 63, n. 12, p. 967-973, 2009.

BERG, A. E. V. D.; JOYCE, Y.; DE VRIES, S. Health benefits of nature. In: STEG, L.; BERG, A. E. van den; DE GROOT, J. I. M. (Eds.). Environmental psychology: An introduction. New York: Wiley-Blackwell, 2013. p. 47-56.

UNITED NATIONS, Department of Economic and Social Affairs, population Division. World Urbanization Prospects: The 2014 Revision (ST/ESA/SER.A/366), 2015.

BEATLEY, T.; NEWMAN, P. Biophilic cities are sustainable, resilient cities. Sustentability, v. 5, n. 8, p. 3328- 3345, 2013.

KELLERT, S. R.; CALABRESE, E. F. Nature by Design: The Practice of Biophilic Design. New Have: Yale University Press, 2015.

HEERWAGEN, J.; ILOFTNESS, V. The economics of biofilia : Why designing with nature in mind makes financial sense. New York: Terrapin Bright Green, 2012.

 

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