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Países sem controle de emissões podem ter títulos soberanos rebaixados já em 2030

 

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Países sem controle de emissões podem ter títulos soberanos rebaixados já em 2030

Aquecimento global pode rebaixar títulos soberanos já em 2030 – Alerta é dado no momento em que países emitem níveis históricos de dívida para lidar com pandemia

Por Cinthia Leone, ClimaInfo

Um time de economistas, incluindo o ex-chefe de classificação soberana da Standard and Poor’s (S&P), Moritz Kraemer, descobriu que se nada for feito para reduzir os gases de efeito estufa, 63 nações poderão ter seus títulos soberanos rebaixados em pelo menos mais de um nível até 2030. Para se ter uma ideia do risco que esse cenário representa, a atual turbulência econômica causada pela pandemia de Covid-19 resultou em 48 títulos soberanos sofrendo rebaixamentos por parte das três principais agências de classificação entre janeiro de 2020 e o mês passado.

No estudo [Rising Temperatures, Falling Ratings: The Effect of Climate Change on Sovereign Creditworthiness], pesquisadores das universidades de Cambridge e East Anglia (UEA) usaram inteligência artificial para prever o efeito da mudança climática sobre as classificações feitas pela Standard and Poor’s para 108 países para os próximos dez, trinta e cinquenta anos, e ao final do século.

Em toda a amostra, a mudança climática poderia aumentar o pagamento anual de juros sobre a dívida soberana em US? 22-33 bilhões sob uma concentração relativamente baixa de gases causadores do efeito estufa na atmosfera, da ordem de 2,6 RCP (Representative Concentration Pathway, ou trajetória representativa de concentrações).

Já em um cenário sem controle de emissões, com RCP de 8,5, esse pagamento sobe para US? 137 – 205 bilhões. O custo adicional para as empresas seria de US? 7,2 – 12,6 bilhões e US? 35,8 – 62,6 bilhões em cada cenário, respectivamente.

A simulação indica que as classificações de Brasil, Estados Unidos e Canadá cairiam dois níveis se as emissões continuarem subindo. Alemanha, Índia e Holanda desceriam três patamares, enquanto Chile, China e México estão entre as nações que poderiam cair mais de quatro níveis. O alerta é dado no momento que os países emitem níveis históricos de dívida para lidar com a Covid-19.

“Os ministros da Fazenda já estão em pânico devido às consequências fiscais da pandemia”, disse o Matthew Agarwala, coautor do trabalho e pesquisador do Instituto Bennett de Políticas Públicas de Cambridge. “Eles deveriam aproveitar esta oportunidade para investir agora na descarbonização que estimula o crescimento e na restauração ambiental, para evitar que a mudança climática afunde ainda mais as finanças públicas.”

“As agências de classificação sofreram um golpe de reputação por não terem antecipado a crise financeira de 2008”, lembra Patrycja Klusak, líder do estudo e pesquisadora afiliada do Instituto Bennett de Políticas Públicas de Cambridge e da UEA. “É imperativo que elas sejam proativas agora para refletir as consequências muito maiores da mudança climática.”

“A maioria dos países de nossa amostra sofrerá rebaixamentos até 2030 se a atual trajetória de emissões de carbono for mantida. Praticamente todos os países, sejam ricos ou pobres, quentes ou frios, serão rebaixados até 2100”, explica o coautor do trabalho Kamiar Mohaddes, professor da Cambridge Judge Business School e do King’s College.

Embora se preveja que as nações em desenvolvimento com pontuação de crédito mais baixa serão mais afetadas pelos efeitos físicos da mudança climática, as nações classificadas com AAA provavelmente enfrentariam uma redução mais severa, de acordo com o estudo. Os economistas dizem que isto se enquadra na natureza das classificações soberanas: as que estão no topo têm mais espaço para cair.

Os pesquisadores chamam suas projeções de “extremamente conservadoras”, pois os números só acompanham um aumento direto da temperatura. Quando seus modelos incorporam a volatilidade climática ao longo do tempo – eventos climáticos extremos do tipo que estamos começando a presenciar – as reduções e os custos relacionados aumentam substancialmente.

O estudo sugere que a adesão ao Acordo Climático de Paris, com temperaturas mantidas sob um aumento de dois graus Celsius, não teria nenhum impacto de curto prazo sobre as classificações de crédito soberano e manteria os efeitos de longo prazo a um nível mínimo.

ESG e Ciência do Clima

Os pesquisadores dizem que o atual emaranhado de indicadores financeiros verdes, tais como as classificações ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) e divulgações corporativas ad hoc não regulamentadas, estão completamente desligadas da ciência.

“Espera-se que o mercado de classificação ESG supere um bilhão de dólares este ano, mas falta-lhe desesperadamente os fundamentos da ciência climática”, avalia Agarwala. “O mercado precisa de informações confiáveis sobre como as mudanças climáticas se traduzem em risco material”.

“As previsões soberanas das agências de classificação raramente vão além de três anos, mas os investidores estão mantendo títulos de governos com vencimentos cada vez mais longos”, afirma Kraemer. “O curto horizonte de tempo das agências deixa cada vez mais os investidores sem uma referência confiável para exposições de crédito que podem se estender em até cem anos”. Para ele, é necessário criar classificações de crédito com horizontes de prazo ultra-longo, e as informações produzidas pela ciência climática seriam essenciais para isso.

“A inteligência artificial tem o potencial de revolucionar a forma como fazemos a avaliação de risco climático e as classificações ESG, mas devemos garantir que as melhores evidências científicas estejam incluídas nas análises”, afirma o também coautor da pesquisa Matt Burke, da Escola de Negócios Norwich da UEA.

Notas:

• O estudo completo [Rising Temperatures, Falling Ratings: The Effect of Climate Change on Sovereign Creditworthiness ] está disponível aqui: https://www.bennettinstitute.cam.ac.uk/publications/rising-temperatures-falling-ratings/

• O cenário de aquecimento utilizado para as políticas climáticas rigorosas que se mantêm fiéis ao Acordo de Paris é o RCP 2.6. O cenário de aquecimento utilizado para um cenário de altas concentrações sem controle de emissões é o RCP 8.5.

• Esta pesquisa é apoiada por um subsídio da Rede Internacional de Insights, Pesquisa e Intercâmbio de Políticas Financeiras Sustentáveis (INSPIRE) e pelo Projeto de Economia da Riqueza do Instituto Bennett de Políticas Públicas, apoiado pela LetterOne.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/03/2021

 

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