As mudanças climáticas estão afetando o equilíbrio hídrico do nosso planeta
As mudanças climáticas estão afetando o equilíbrio hídrico do nosso planeta
As mudanças climáticas estão afetando o equilíbrio hídrico do nosso planeta: dependendo da região e da época do ano, isso pode influenciar a quantidade de água nos rios, resultando potencialmente em mais enchentes ou secas
O fluxo dos rios mudou significativamente em todo o mundo nas últimas décadas. Uma equipe de pesquisa internacional liderada pela ETH Zurich demonstrou agora que são as mudanças climáticas, e não a gestão da água e do solo, que desempenham um papel crucial em nível global.
Por Claudia Hoffmann*, Eidgenössische Technische Hochschule Zürich
As mudanças climáticas estão afetando o equilíbrio hídrico do nosso planeta: dependendo da região e da época do ano, isso pode influenciar a quantidade de água nos rios, resultando potencialmente em mais enchentes ou secas. A vazão do rio é um indicador importante dos recursos hídricos disponíveis para o homem e o meio ambiente. A quantidade de água disponível também depende de outros fatores, como intervenções diretas no ciclo da água ou mudança no uso da terra: se, por exemplo, a água é desviada para irrigação ou regulada por meio de reservatórios, ou as florestas são desmatadas e monoculturas cultivadas em seu lugar, isso pode ter um impacto no fluxo do rio.
No entanto, como o fluxo do rio mudou em todo o mundo nos últimos anos, até agora não foi investigado por meio de observações diretas. Da mesma forma, a questão de saber se as mudanças globalmente visíveis são atribuíveis às mudanças climáticas ou à gestão da água e da terra não foi esclarecida.
Agora, uma equipe internacional de pesquisa liderada pela ETH Zurich conseguiu quebrar a influência desses fatores, após analisar dados de 7.250 estações de medição em todo o mundo. O estudo, que foi publicado na renomada revista científica Science, demonstra que o fluxo do rio mudou sistematicamente entre 1971 e 2010. Padrões complexos foram revelados – algumas regiões como o Mediterrâneo e o Nordeste do Brasil ficaram mais secas, enquanto em outras o volume de água aumentou, como na Escandinávia.
A busca pelas causas
“A verdadeira questão, no entanto, dizia respeito à causa dessa mudança”, diz Lukas Gudmundsson, principal autor do estudo e assistente sênior no grupo liderado por Sonia Seneviratne, professora do Instituto de Ciências Atmosféricas e Climáticas da ETH Zurique.
Para responder a essa questão, os pesquisadores realizaram várias simulações em computador, usando modelos hidrológicos globais alimentados com dados climáticos observados no período estudado (1971 a 2010). Os resultados dos cálculos do modelo corresponderam de perto à análise do fluxo do rio observado. “Isso significa que as condições climáticas podem explicar as tendências observadas nos volumes de fluxo”, diz Gudmundsson. Em um segundo procedimento, os pesquisadores incluíram o manejo adicional da água e da terra em suas simulações para estudar a influência desses fatores. Isso não afetou o resultado, no entanto. “Evidentemente, as mudanças na gestão da água e do solo não são a causa das mudanças globais nos rios”, diz ele.
Embora a gestão da água e o uso do solo possam resultar em grandes flutuações locais nos volumes de fluxo, investigar isso não estava dentro do escopo do estudo, acrescenta Gudmundsson: “Para nós, não se tratava de tendências locais, mas de mudanças globais que se tornam visíveis em períodos mais longos. ” É por isso que os pesquisadores não consideraram dados de estações de medição individuais de forma isolada, mas os agruparam em regiões subcontinentais maiores para a análise, tornando assim possível identificar a influência das mudanças climáticas.
O impacto dos gases de efeito estufa
Os pesquisadores foram capazes de comprovar o papel das mudanças climáticas usando o método de detecção e atribuição. Para isso, eles compararam as observações com simulações de modelos climáticos que foram calculados uma vez com gases de efeito estufa produzidos pelo homem e uma vez sem. No primeiro caso, a simulação coincidiu com os dados reais, mas no segundo caso não. “Isso sugere que as mudanças observadas são altamente improváveis sem as mudanças climáticas”, diz Gudmundsson.
O estudo é o primeiro a usar observações diretas para demonstrar que as mudanças climáticas têm uma influência globalmente visível nos rios. “Isso só foi possível graças à grande colaboração entre pesquisadores e instituições de 12 países”, enfatiza Gudmundsson. A coleta de dados de 7.250 estações de medição em todo o mundo também foi o resultado de um esforço conjunto: os pesquisadores reuniram os dados com parceiros de colaboração australianos em um estudo anterior. Esses dados agora representam o maior conjunto de dados global com observações de fluxo de rios disponíveis hoje. “Graças a esses dados, pudemos validar os modelos e demonstrar que eles refletem bem a realidade”, afirma Gudmundsson.
Isso significa que os modelos também podem fornecer cenários confiáveis sobre como os rios continuarão a mudar no futuro. Essas projeções fornecem uma base importante para o planejamento nas regiões afetadas, a fim de garantir o abastecimento de água e se ajustar às mudanças climáticas.
Referência:
Gudmundsson L et al. Globally observed trends in mean and extreme river flow attributed to climate change. Science (2021). doi: 10.1126/science.aba3996
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 15/03/2021
A manutenção da revista eletrônica EcoDebate é possível graças ao apoio técnico e hospedagem da Porto Fácil.
Nota: Para receber atualizações pelo grupo de notícias do EcoDebate no WhatsApp, adicione o telefone 21 98682-4779 e, em seguida, envie uma mensagem com o texto ADICIONAR.
[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394,
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.
Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.