O bônus demográfico impulsionou a renda do Leste Asiático
O bônus demográfico impulsionou a renda do Leste Asiático, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar
as velas do barco para chegar onde quer”
Confúcio (551 a.C. – 479 a.C)
[EcoDebate] O Leste Asiático e a África Subsaariana são duas regiões com comportamentos demoeconômicos diametralmente opostos nos últimos 70 anos. Os países do Leste asiático apresentam baixo crescimento demográfico e alto crescimento econômico, enquanto a África Subsaariana apresenta alto crescimento demográfico e baixo crescimento econômico.
O gráfico abaixo mostra que, em 1950, o Leste Asiático tinha uma população de 670 milhões de habitantes e uma renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp) de US$ 1.122, enquanto a África Subsaariana tinha uma população menor (de 182 milhões), mas uma renda per capita maior (de US$ 1,323), segundo dados do Projeto Maddison (2020). Porém, o quadro se alterou nas décadas seguintes e, até 2018, a África Subsaariana teve um elevado crescimento populacional (chegou a 1,05 bilhão de habitantes) e pequeno crescimento da renda per capita (chegou a US$ 3.491 em 2018), enquanto o Leste Asiático apresentou dinâmica oposta com baixo ritmo de crescimento populacional (chegou a 1,6 bilhão de habitantes), mas alto ritmo de crescimento da renda que atingiu US$ 16.327 em 2018.
Ou seja, o Leste Asiático teve um crescimento anual da população de 1,3% ao ano e um crescimento da renda per capita de 4% ao ano, enquanto a África Subsaariana teve um crescimento demográfico de 2,6% ao ano e um crescimento da renda per capita de somente 1,4% ao ano. Desta forma, o Leste Asiático que tinha uma renda per capita menor em 1950 passou a ter uma renda per capita 4,7 vezes maior do que a África Subsaariana.
População e Renda per capita do Leste Asiático e da África Subsaariana: 1950-2018
Fonte: Maddison Project 2020 https://www.rug.nl/ggdc/historicaldevelopment/maddison/
Um dos segredos da transição demográfica (menor crescimento da população devido ao aumento da esperança de vida com redução das taxas de fecundidade) é viabilizar uma mudança na estrutura etária, o que possibilita o aproveitamento do bônus demográfico.
A figura abaixo mostra a pirâmide populacional da África Subsaariana para o ano de 2020. Nota-se que a pirâmide tem uma base muito larga e um topo muito estreito, mostrando que a estrutura etária é bastante jovem. Em 2020, o grupo etário de 0 a 4 anos de idade tinha 171 milhões de crianças e o grupo etário de 65 anos e mais tinha 33 milhões de idosos. A população em idade ativa de 15 a 64 anos era de 601 milhões de pessoas, representando 55% da população total. Este percentual ficou estável entre 1950 e 2020.
A figura abaixo mostra a pirâmide populacional da região do Leste Asiático para o ano de 2020. Nota-se que a pirâmide não tem aquela forma tradicional (egípcia) e parece mais com um retângulo. A base é mais estreita que o meio da pirâmide, mostrando que a estrutura etária já não é mais jovem, mas também não é plenamente envelhecida. Em 2020, o grupo etário de 0 a 4 anos de idade tinha 94 milhões de crianças e o grupo etário de 65 anos e mais tinha 224 milhões de idosos. Portanto, a pirâmide asiática tinha muito menos crianças e muito mais idosos do que a pirâmide africana. A população em idade ativa de 15 a 64 anos era de 1,2 bilhão de pessoas, representando 70% da população total. Este percentual aumentou em relação aos 61% de 1950 no Leste Asiático.
Ou seja, a África Subsaariana demorou muito a iniciar a transição demográfica e apresenta quedas relativamente modestas da fecundidade. Como resultado mantém uma estrutura etária jovem e com alta razão de dependência e baixa proporção de pessoas em idade ativa (PIA). Como definido na literatura econômica, esta situação dificulta o aumento das taxas de investimento e a baixa proporção de pessoas na PIA não garante uma decolagem do desenvolvimento.
Já a pirâmide da região do Leste Asiático apresenta uma baixa razão de dependência demográfica, pois a queda das taxas de fecundidade permitiram a redução da base da pirâmide e o alargamento da quantidade de pessoas em idade ativa. Esta situação conhecida como “bônus demográfico” possibilitou a decolagem do desenvolvimento e um grande crescimento da renda per capita. Se os países que passam pela transição da estrutura etária garante um mínimo de justiça social na distribuição da riqueza, então o bônus demográfico é aquele momento que garante ultrapassar a “armadilha da renda média” e possibilita o salto para o grupo de renda mais elevada e de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
A renda per capita avança e possibilita alta qualidade de vida para a sociedade humana quanto o crescimento da economia mantém um ritmo superior ao crescimento demográfico. Quanto maior e quanto mais tempo durar esta diferença mais rica e próspera se torna a nação, especialmente quando se garante a justiça social e se respeita o meio ambiente.
A transição demográfica e a transição da estrutura etária é o caminho para que a África Subsaariana possa elevar o padrão de vida de sua população.
Quanto mais profunda e mais rápida for a queda das taxas de fecundidade, maiores serão as chances de se aproveitar o bônus demográfico e possibilitar um maior bem-estar para toda a população da região subsaariana.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/01/2021
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