Cai a natalidade e a fecundidade nos EUA depois da pandemia da Covid-19
Cai a natalidade e a fecundidade nos EUA depois da pandemia da Covid-19
“Diferentemente das pragas da idade das trevas ou das doenças contemporâneas que ainda não compreendemos, a praga moderna da superpopulação é solúvel pelos meios que descobrimos e com os recursos que possuímos. O que falta não é conhecimento suficiente da solução, mas consciência universal da gravidade do problema e educação dos bilhões que são suas vítimas” Martin Luther King (1966)
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A taxa de natalidade (filhos pela população total) e a taxa de fecundidade (filhos por mulher) estão caindo nos EUA há bastante tempo, mas com a pandemia do novo coronavírus a trajetória de queda parece ser mais acentuada, embora ainda não haja dados definitivos.
O número de crianças nascidas vivas nos EUA bateu o recorde em 2007 e já apresentava tendência de redução. Dados do Center for Disease Control and Prevention (CDC) mostram que o número de nascidos vivos atingiu um pico em 1990, com 4,16 milhões de nascimentos, teve um declínio nos anos 1990 e voltou a subir na primeira década do século XXI, quando chegou a 4,06 milhões em 2000 e atingiu o zênite de 4,32 milhões de nascimentos em 2007. O gráfico abaixo mostra que o número de nascimentos ficou abaixo de 4 milhões a partir de 2010, atingindo 3,79 milhões em 2018.
A taxa geral de fecundidade, que estava em torno de 90 por mil em 1970, caiu para 59,1 por mil em 2018 e os dados preliminares mostram que a taxa continua caindo em 2019 e chegou a 58 por mil no primeiro quadrimestre de 2020.
O Instituto PEW classifica as diferentes gerações da seguinte maneira: Geração silêncio (1928-45), Geração Baby boomers (1946-1964), Geração X (1965-80) e Geração do milênio ou Y ou Millennials (1981-96). Enquanto a “Geração Silêncio” era formada por filhos de famílias que passaram pela Grande Depressão e pela Segunda Guerra, valorizavam demais o emprego, o comportamento obediente e a liderança autoritária e tiveram muitos filhos e formaram a “Geração baby boomers”; a “Geração do milênio” é contemporânea das tecnologias digitais, do emprego flexível, do alto padrão de consumo e da busca individual pelo prazer. A “Geração do milênio” não está interessada em formar famílias grandes e há uma alta parcela de pessoas que prefere não ter filhos (childlessness).
Portanto, as novas gerações já apresentam uma tendência de adotar famílias menores. E esta realidade foi agravada pela pandemia da covid-19. Matéria de Eliana Dockterman, na revista Time (15/10/2020), mostra que muitas americanas jovens estão adiando a gravidez e outras estão, inclusive, desistindo de ter filhos. O resultado é que no ano de 2021 deve nascer menos 500 mil bebês, fazendo o número de nascidos vivos cair para 3,3 milhões de crianças no ano que vem, número equivalente àqueles da década de 1970 quando a população dos EUA era muito menor.
Se o número de nascimentos anuais permanecer abaixo de 4 milhões e a esperança de vida ao nascer ficar próxima de 80 anos, então a população dos EUA tenderia a ficar em torno de 320 milhões de habitantes (4 milhões vezes 80 = 320 milhões). Mas o número real dependeria das tendências da imigração. Se o fluxo de imigrantes ficar acima de 1 milhão por ano, então é possível que a população dos EUA chegue a 400 milhões até o final do século XXI. Mas uma queda mais substancial da fecundidade geraria uma população menor.
Qualquer número entre 350 e 400 milhões de habitantes não é pouca gente. Os EUA são o segundo maior emissor de gases de efeito estufa (GEE) e possuem emissões per capita muito elevadas. Uma redução da fecundidade é uma boa notícia para o meio ambiente. Como mostrou o relatório do Fórum Econômico Mundial, de janeiro de 2020, a crise climática é o maior risco global da atualidade. O esforço para reduzir as emissões de CO2 deve ser geral, mas, sem dúvida, menos crianças significa menos emissões.
Como disse o grande naturalista David Attenborough: “Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de resolver com menos pessoas e mais difíceis e, em última instância, impossíveis de resolver com cada vez mais pessoas”.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
CDC, Births: Final Data for 2018, NVSS, Volume 68, Number 13, November 27, 2019
https://www.cdc.gov/nchs/data/nvsr/nvsr68/nvsr68_13-508.pdf
ELIANA DOCKTERMAN. Women Are Deciding Not to Have Babies Because of the Pandemic in USA, Time, 15/10/2020 https://time.com/5892749/covid-19-baby-bust/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/12/2020
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