Negação do racismo é recorrente entre autoridades públicas
Negação do racismo é recorrente entre autoridades públicas
O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro, por seguranças do supermercado Carrefour, em Porto Alegre, na última quinta-feira (19), foi comentado nesta sexta pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Mourão lamentou o ocorrido, mas afirmou que não existe racismo no Brasil.
Por Matheus Zanon
De acordo com levantamento inédito publicado da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e da Terra de Direitos, a fala do vice-presidente, de negação do racismo, é um retrato da postura de autoridades públicas.
O levantamento, lançado nesta sexta-feira, mapeou, desde 1º de janeiro de 2019 a 06 de novembro de 2020, 49 manifestações ou declarações racistas de autoridades públicas, entre elas, o presidente da república, deputados federais e estaduais, vereadores e membros do judiciário.
No total foram sete falas negando o racismo. O estudo destaca que “é discurso racista a negação/minimização da gravidade do racismo e/ou a utilização de doutrinas já superadas de negação do racismo, como mestiçagem ou democracia racial. Em um país onde há um genocídio contra o povo negro em curso, negar o racismo é de extrema gravidade”.
“A fala do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em relação ao caso ocorrido em Porto Alegre, é uma fala conectada com a liderança do presidente Jair Bolsonaro e das demais autoridades que vem utilizando os espaços institucionais para a prática do racismo e usam o negacionismo do racismo de forma institucionalizada. Reforçamos que a sociedade precisa se posicionar e não aceitar que os poderes utilizem os seus expedientes para promover o racismo. A nossa pesquisa demonstra com dados o quanto as pessoas se investem de cargos públicos para cometer o crime de racismo em diversas formas, maquiados de liberdade de expressão”, destaca a cofundadora da Conaq, Givânia Silva.
“Existe um ciclo que reproduz o racismo e a violência que não para. É uma máquina de moer vidas negras, a sua dignidade e os seus direitos. Mesmo a crueldade da morte não interrompe esse ciclo. Depois da morte vem os discursos racistas justificar à violência como uma violência qualquer, retirando da vida negra o seu valor e negando o racismo que mata todos os dias. Em nenhum momento, nenhum, vemos autoridades públicas assumindo qualquer responsabilidade perante o racismo”, afirma a coordenadora da Terra de Direitos, Élida Lauris.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/11/2020
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