Representações Sociais de um Grupo de Docentes da Educação Básica sobre a Inserção Curricular dos Temas Transversais em Diferentes Áreas do Currículo
Representações Sociais de um Grupo de Docentes da Educação Básica sobre a Inserção Curricular dos Temas Transversais em Diferentes Áreas do Currículo
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UM GRUPO DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA SOBRE A INSERÇÃO CURRICULAR DOS TEMAS TRANSVERSAIS EM DIFERENTES ÁREAS DO CURRÍCULO.
Ricardo Santos David1
Resumo: Neste artigo científico tem por objetivo identificar as Representações Sociais de um grupo de docentes do Ensino Fundamental sobre os temas transversais (ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, pluralidade cultural, trabalho e o consumo), conforme proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
O estudo fundamentou-se na Teoria das Representações Sociais de Moscovici (2012) e também teóricos como Jodelet (2001), Tardif (2002), Gauthier (2006). Os resultados revelaram que as Representações Sociais dos docentes estão ancoradas em práticas baseadas nos saberes experienciais, ou seja, eles recriam formas de trabalhar à medida que os problemas sociais são trazidos, de acordo com demanda social e experiencial dos alunos. Os dados também mostraram que o tema mais trabalhado pelos docentes é o meio ambiente, mas não foi possível comprovar a transversalidade no desenvolvimento dos temas descritos por eles. A contribuição dos temas para formação integral do aluno foi um dos aspectos positivos da pesquisa. Espera-se que os resultados contribuam para a discussão e reflexão com gestores, professores e alunos e também para o enriquecimento do projeto pedagógico escolar, embasando futuras ações e uma nova visão no que se refere à inserção dos temas transversais nos conteúdos pedagógicos.
Palavras-Chave: Temas Transversais, Representações Sociais, Educação Básica, Formação de Professores
Abstract: This scientific article aims to identify the Social Representations of a group of Elementary School teachers on cross-cutting themes (ethics, health, environment, sexual orientation, cultural plurality, work and consumption), as proposed by the National Curriculum Parameters (PCN). The study was based on Moscovici’s Theory of Social Representations (2012) and also theorists such as Jodelet (2001), Tardif (2002), Gauthier (2006). The results revealed that the Social Representations of teachers are anchored in practices based on experiential knowledge, that is, they recreate ways of working as social problems are brought up, according to students’ social and experiential demands. The data also showed that the theme most worked by teachers is the environment, but it was not possible to prove the transversality in the development of the themes they describe. The contribution of the themes to the integral formation of the student was one of the positive aspects of the research. The results are expected to contribute to the discussion and reflection with managers, teachers and students and also to the enrichment of the school pedagogical project, supporting future actions and a new vision regarding the insertion of transversal themes in the pedagogical content.
Keywords: Cross-cutting Themes; Social Representations; Basic education; Teacher Training.
Introdução:
A Teoria das Representações Sociais (TRS) foi criada por Serge Moscovici e um de seus pressupostos é que “[…] a representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem a função de elaboração dos comportamentos e da comunicação entre os indivíduos” (MOSCOVICI, 2012, p. 27).
As Representações Sociais consistem numa forma de pensar e interpretar a realidade cotidiana: uma atividade mental desenvolvida pelos grupos e indivíduos na interação social para apresentar seu pensamento diante das situações, eventos, objetos e comunicações.
Para Jovchlovitch (2000), as Representações Sociais são sempre representação de algum objeto ou de alguém. Ao mesmo tempo, elas apresentam alguma coisa, reconstroem uma realidade social. As representações são formadas nos espaços públicos, nas interações sociais. São móveis, versáteis e mudam constantemente.
De acordo com Jodelet (2001), que foi orientanda e colaboradora de Moscovici, as Representações Sociais são fenômenos complexos sempre ativados e em ação na vida social. Estão presentes em diversos elementos, como cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões, imagens, etc. “Estes elementos são organizados sempre sob a aparência de um saber que diz algo sobre o estado da realidade” (JODELET 2001, p.21).
Segundo Gomes (2004), as Representações Sociais são fenômenos sociais, construídos e compartilhados socialmente, para compreensão da realidade social. A representação social é uma maneira de interpretar a realidade social (senso comum), na qual o indivíduo constrói e elabora, através das interações sociais, num determinado grupo social, para fixar suas opiniões ou ideias, frente a diferentes objetos, acontecimentos, situações.
Ela acontece na interface entre o individual e o coletivo, o psicológico e o social (MOSCOVICI, 2012). Moscovici (1988) diferencia três modos pelos quais as representações tornam-se sociais, passando a ser classificadas como: Hegemônicas ou coletivas, emancipadas e polêmicas.
As RS hegemônicas ou coletivas ancoram-se nas crenças e valores partilhados por todos os sujeitos que pertencem a determinado grupo social, sendo uniformes e coercivos, refletindo uma homogeneidade e estabilidade. Já as RS emancipadas são ancoradas nas relações de cooperação entre os grupos, agem como um complemento, por resultarem das trocas e partilha de símbolos e interpretações num determinado grupo.
As polêmicas ancoram-se e são mantidas em situações de conflito, não partilhadas entre os grupos sociais.
Além disso, de acordo com Abric (1998), as Representações Sociais possuem quatro funções essenciais, sendo elas: a função do saber, a função identitária, função de orientação e a função de justificação.
A função de saber permite compreender e explicar a realidade, na qual os indivíduos vão adquirindo novos conhecimentos que lhes permitam estabelecer uma coerência com seus valores e seu funcionamento cognitivo (ABRIC, 1998).
A Teoria das Representações Sociais é considerada um campo de estudo da Psicologia Social. Ela foi criada pelo romeno Serge Moscovici, que se naturalizou francês, utilizando-a pela primeira vez, em 1961, na defesa de sua tese cujo trabalho intitulado “Psicanálise, sua imagem e seu público”, publicado na França.
Ele realizou um estudo sobre a representação social da psicanálise na França em meados dos anos 50. Seu objetivo foi analisar a relação entre os conhecimentos produzidos pela Psicanálise enquanto ciência e a maneira como ela era apreendida por várias camadas da população.
Também enfatizou as diferenças entre os modelos científicos e os não científicos envolvendo a psicanálise, relacionando as Representações Sociais ao saber elaborado pelo senso comum, referindo-se à “[…] formação de um outro tipo de conhecimento adaptado a outras necessidades, obedecendo a outros critérios, num contexto social específico” (MOSCOVICI, 2012, p.25).
A representação social situa-se na intersecção entre o individual e o social tentando introduzir uma articulação entre a experiência individual e os modelos sociais e resultando num modo particular de apreensão do real. Moscovici (2012) faz uma articulação entre o individual e o social, enfatizando a necessidade de se fazer da representação uma ponte entre esses dois mundos.
Por meio dessa conexão entre o individual e o social é que ocorre uma interligação de dois universos de pensamento que Moscovici (2011) introduz, sendo estes: o universo consensual e o universo reificado, que serão esclarecidos no próximo tópico.
Na sociedade, os grupos e pessoas recebem cada vez mais informações diariamente, absorvendo-as quer queiram ou não e, nas interações sociais e diante dos fatos corriqueiros que lhe exigem tomadas de posições, os sujeitos elaboram ideias sobre determinado fenômeno.
Desta forma, essas ideias, decisões ou posições, que fazem parte da vida diária, são consideradas conhecimentos do senso comum, vão criando “universos consensuais”.
[…] a sociedade vê a si mesma representada por especialistas em certas áreas do saber (físicos, psicólogos…) aos quais ela restringe o poder de falar sobre estes conhecimentos. De outro lado reconhece a liberdade individual de seus membros se expressarem em diversas áreas do conhecimento (religião, política, educação…) e de se agruparem a partir de suas ideias em comum (GOMES, 2004, p. 133).
Seguindo o pensamento acima, enquanto que no universo reificado o conhecimento fica restrito aos sujeitos que possuem certa qualificação, no universo consensual o conhecimento é de todos os que compartilham as ideias e opiniões, havendo trocas e construção de conhecimentos.
Para Moscovici (2011), as Representações Sociais são elaboradas em espaços comuns sendo partilhadas por todos e se constituem numa realidade social. Assim, no universo consensual, os sujeitos pertencem a uma sociedade onde há sentido e finalidade e todos se comunicam livremente em locais públicos, como em bares, clubes etc.
No universo reificado, há uma sociedade hierarquizada, segmentada em classes, pela qual a participação dos sujeitos é permitida de acordo com sua competência. O autor complementa a ideia, destacando que a ciência é o meio adequado para se compreender o universo reificado, enquanto que as Representações Sociais se responsabilizam por compreender o universo consensual. Para finalizar, ele afirma que o lugar das representações na sociedade é o universo consensual (MOSCOVICI, 2011).
À primeira vista, os dois universos podem parecer opostos, porém, não são, pois eles estão relacionados. As pessoas fazem parte desses universos consensuais, veiculadas ao senso comum dos grupos sociais, recebendo influência de diferentes ambientes, culturas, por meio da comunicação social e da educação formal, entre outros.
Para acessar e/ou fazer o download do artigo “Representações Sociais de um Grupo de Docentes da Educação Básica sobre a Inserção Curricular dos Temas Transversais em Diferentes Áreas do Currículo#, por Ricardo Santos David, na íntegra, no formato PDF, clique no link Representações Sociais de um Grupo de Docentes da Educação Básica
______________
1 Pós – Doutorado em Educação: Formação de Professores e Novas Tecnologias, pelo IESLA – FCU – EUA. Doutorado e Mestrado em Educação: Formação de Professores e Novas Tecnologias, pela Uniatlántico. Especialização em Docência do Ensino Superior, Linguística Aplicada e Educação Ambiental Sustentabilidade, pela UCAM – Rio de Janeiro. Graduação em Letras, Pedagogia e Bacharelado em Linguística. E-mail: ricardosdavid@hotmail.com