Pescadores da Baía de Guanabara pescam lixo para voltar a pescar peixes
Pescadores da Baía de Guanabara pescam lixo para voltar a pescar peixes
Em colaboração com ONG alemã One Earth One Ocean (OEOO), membros da colônia Z-10 recolhem quase três toneladas de resíduos em uma semana
Por Lygia Freitas
A poluição da Baía de Guanabara é um problema enfrentado há anos por pescadores artesanais. É por isso que a ONG Alemã One Earth One Ocean desembarcou no Rio de Janeiro para realizar um projeto piloto ao lado de pescadores da colônia Z-10, na Ilha do Governador, primeiro passo para ações contínuas em diversas áreas. Nos primeiros sete dias de trabalho, foram retiradas mais de duas toneladas de resíduos em um raio de cerca de 5 km no entorno da colônia.
Entre os principais materiais retirados das águas de uma das paisagens mais bonitas do Rio de Janeiro estão plásticos de diversos tipos, pneus, materiais de pesca, equipamentos eletrônicos, vidro e metais.
“A poluição traz inúmeros efeitos negativos. Os dez pescadores que participaram do projeto piloto relataram ter tido perda de renda pela ausência e qualidade dos peixes. Além disso, é inegável o dano que todos esses resíduos trazem para os oceanos, por isso precisa ser um trabalho contínuo”, conta Laura Kita Kejuo, diretora-presidente da OEOO Rio.
A partir de agora, os dados coletados serão analisados e os resultados serão usados para as próximas etapas do projeto, incluindo o uso de tecnologia inédita no Brasil, que será o primeiro país da América Latina a receber o SeeElefant (Elefante do Mar), barco que abriga uma usina de processamento de plástico em sua estrutura. Em construção na Alemanha, a embarcação vai contar com equipamentos capazes de fazer a coleta, a
separação e a conversão do plástico em combustível, material para reciclagem ou em geração de energia. A expectativa é de que o “Elefante” comece a navegar em 2021.
Além disso, no Rio de Janeiro, serão construídos os barcos chamados de SeeKuh (Vaca do Mar), embarcação permitindo a coleta de resíduos marítimos em até um metro de profundidade, com o uso de correias ajustáveis, minimizando assim o risco de capturar animais, em comparação com as redes. Todo o material será transferido para uma esteira e levado para grandes bolsas de armazenamento, que ficarão depositadas na embarcação até serem carregadas para a terra e encaminhadas para reciclagem. O navio é modular, completamente desmontável e pode ser acondicionado em quatro contêineres: assim sendo, ele pode navegar em diferentes locais para uso regional sem restrições.
Os brasileiros também conhecerão o SeeHamster (Hamster do Mar), em uso desde 2011 para limpar rios e lagos em países asiáticos, como Camboja e Indonésia. Essa embarcação, que também será fabricada no Rio de Janeiro, conta com uma rampa perfurada. Devido à velocidade de coleta relativamente alta e contrapressão da água, os resíduos sólidos são empurrados para cima pela rampa e podem ser armazenados manualmente em grandes bolsas.
Em paralelo ao trabalho de despoluição das águas, a equipe da OEOO Rio pretende desenvolver ações de educação ambiental, além de buscar parcerias com outras ONGs e institutos de pesquisa da região.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/10/2020
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