Bolsonaro descreve país imaginário em discurso na ONU
Bolsonaro descreve país imaginário em discurso na ONU
Em pouco mais de 15 minutos de fala, o que o presidente brasileiro descreveu não condiz com os fatos que estamos vivenciando no país
Nota da Oxfam Brasil sobre o discurso do presidente Bolsonaro na abertura da 75a. Assembleia das Nações Unidas
É lamentável ver o presidente brasileiro fazer o discurso de abertura da Assembleia das Nações Unidas, nesta terça-feira (22/9), descrevendo um país imaginário. “O mundo precisa da verdade para superar seus desafios”, afirmou Bolsonaro. No entanto, em pouco mais de 15 minutos de fala, o que o presidente brasileiro descreveu não condiz com os fatos que estamos vivenciando no país e com o sofrimento de milhões de brasileiros e brasileiras.
“O governo atual se especializou em disseminar a ‘pós-verdade’ para eximir-se da responsabilidade pelos graves problemas que o país enfrenta. E Iisso em nada contribui para que tenhamos as soluções necessárias”, diz Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
As queimadas que destroem a Amazônia, o cerrado e o pantanal não podem ser colocadas na conta dos povos tradicionais dessas regiões como afirmou o presidente Bolsonaro. O governo brasileiro pouco ou nada fez para garantir os recursos e as ações necessárias para o combate aos crimes ambientais que vêm sendo cometidos nos principais biomas nacionais.
Também não é fato que o Brasil seja um exemplo de respeito aos direitos humanos quando regularmente são relatadas inúmeras ameaças e violência contra povos indígenas, comunidades quilombolas, populações ribeirinhas, lideranças campesinas, população LGBTQIA+, mulheres e população negra. Os movimentos sociais e as organizações da sociedade civil estão tendo seus espaços de atuação cada vez mais reduzidos e negados. Os direitos humanos parecem só valer quando o assunto é Venezuela, numa estratégia casada com os interesses dos Estados Unidos na região.
A exaltação do agronegócio e das exportações agrícolas nacionais, afirmando que o Brasil garante a segurança alimentar de um bilhão de pessoas no mundo, beira o deboche quando confrontamos a afirmação com a realidade. O governo Bolsonaro dissolveu o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) e reduziu ou eliminou importantes programas vinculados à segurança alimentar. E o resultado é que o país está retornando ao Mapa da Fome mundial.
“O Brasil é um país diverso, com uma riqueza natural inigualável, que costumava ter na sua diplomacia os valores da solidariedade, do respeito aos direitos humanos, da construção do consenso e do respeito a outras nações. O Brasil é uma república onde o Estado é laico e onde deve haver espaço para todos os credos e religiões. Isso é inegociável!”, diz Katia Maia.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/09/2020
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