Notas sobre Contaminação de Águas por Trabalhos Mineiros. Exemplo de Diagnóstico por Zonas de Amostragem
Notas sobre Contaminação de Águas por Trabalhos Mineiros. Exemplo de Diagnóstico por Zonas de Amostragem
Os rejeitos de minas são fontes de elementos potencialmente tóxicos, maiores e traços, para o ambiente da superfície da Terra
Artigo de Carlos A. de Medeiros Filho
[EcoDebate] As operações de mineração, de tratamento e concentração de minérios e descarte de rejeitos fornecem fontes óbvias de contaminação no ambiente da superfície, combinada às águas residuais das minas e dos moinhos (Adriano, 1986). Os rejeitos de minas são fontes de elementos potencialmente tóxicos, maiores e traços, para o ambiente da superfície da Terra.
A oxidação de sulfetos pode introduzir altas concentrações de metais, ácido sulfúrico (íons hidrogênio) e íons sulfato na água das descargas de minas (Fuge et al., 1993). A geração de drenagem ácida e a liberação de água contendo altas concentrações de metais dissolvidos a partir de resíduos de minas são um problema ambiental de escala internacional (Blowes et al., 2003), podendo ser responsáveis pela poluição e degradação das águas subterrâneas, córregos, rios e bacias.
Os metais pesados e os elementos traços são uma grande preocupação devido à sua natureza persistente e bioacumulativa e podem representar um risco potencial à saúde dos residentes nas proximidades das áreas de mineração (Myung, 2001).
Abraham & Susan (2017) estudaram a contaminação de água por elementos maiores e traços da Mina de Cu de Kilembe (W-Uganda), procurando avaliar as fontes e concentrações desses elementos na bacia hidrográfica de Kilembe, que no seu percurso cruza a zona de influência do depósito e dos materiais das antigas operações da mina. Amostragem de água dos rios foram desenvolvidas entre junho e setembro de 2014, com análise por ICP-MS.
A mina Kilembe está localizada a 10 km a oeste da cidade de Kasese, nas encostas da montanha Rwenzori, no oeste de Uganda. A mineração e o processamento de cobre em Kilembe, de 1956 a 1982, deixaram mais de 15 Mt de pirita cuprífera e cobaltífera despejada ao longo do vale do rio (Abraham & Susan, 2017)
Fonte: Abraham & Susan (2017)
A área estudada abrangeu o vale de Kilembe, dividida pelo rio Nyamwamba, que se origina na cordilheira de Rwenzori. Na figura 1, a região amostrada pode ser dividida em três zonas: Zona 1 no curso superior do Rio Nyamwamba antes de atingir a mina de Kilembe, Zona 2 abrange a mina de Kilembe e os locais de rejeitos e Zona 3 a jusante da mina e dos depósitos de rejeitos.
Resultados geoquímicos da pesquisa de Abraham & Susan (2017) foram tratados a partir dos teores médios de águas de rios em quatro setores da bacia hidrográfica. Dois setores (Montante Mina e Tributários) correspondem a amostragens em tributários do Rio Nyamwamba ou a montante da antiga mina. Os resultados dessas duas zonas, portanto, não estariam afetadas pelos trabalhos mineiros. Os outros dois setores (Mina Kilembe e Jusante Mina) correspondem a amostras ao longo ou a jusante da mina e, consequentemente, podendo ter sido contaminadas pelos trabalhos e rejeitos mineiros.
Figura 2
A figura 2 indica, claramente, aumentos dos teores médios de Co, Cu, Ni e Zn nos setores “Mina Kilembe” e “Jusante Mina”. Esses comportamentos assinalam, portanto, contaminações desses metais tóxicos nas águas, causados principalmente por: (i) metais pesados provenientes de águas anômalas lixiviadas da mina (ii) oxidação e liberação de metais pesados e elementos traços derivados de pilhas de rejeitos. Abraham & Susan (2017) relatam que Co apresentaram os teores acima dos limites de água potável de Wisconsin (EUA) de 40 mg/L em 53% das amostras do rio Nyamwamba.
Figura 3
A figura 3 apresenta os teores médios de As, Pb, Al e Fe. Para arsênio, observa-se um aumento no setor de influência da mina (“Mina Kilembe”), indicando uma anomalia ou contaminação localizada e não extensiva. Por outro lado, as distribuições dos teores médios de Pb, Al e Fe não mostram uma relação direta de aumento nos setores influenciados pelos trabalhos mineiros, sendo que alumínio apresenta média mais alta à montante da mina. As mineralizações de Cu-Co de Kilembe não estão associadas ou enriquecidos com Pb, Al e Fe e, consequentemente, esses elementos mostram um comportamento geoquímico similar ao background regional.
Essas notas, em síntese, procuram discutir a importância do estudo geoquímico multielementar no entorno de sítios mineiros ativos ou abandonados, por ser eles fontes óbvias de contaminação de metais tóxicos no ambiente da superfície. Busca, também, dar um exemplo da positiva aplicação do diagnóstico ambiental a partir de um método de amostragem de distintas zonas geoquímicas, no sítio mineiro e seu entorno.
Referências Bibliográficas
Abraham, M.R.; Susan,T.B. 2017. Water contamination with heavy metals and trace elements from Kilembe copper mine and tailing sites in Western Uganda; implications for domestic water quality / Chemosphere 169 (2017) 281-287
Adriano, D.C., 1986. Trace Elements in the Terrestrial Environment. Springer-Verlag, New York.
Blowes, D.W.; Ptacek, C.J.; Jambor, J.L.; Weisener, C.G. 2003. The Geochemistry of Acid Mine. Treatise on Geochemistry. Elsevier Ltd. Pp. 149 – 204.
Fuge, R.; Pearce, F.M.; Pearkins, W.T. 1993. Geochemistry of Cd in the secondary environment near abandoned metalliferous mines. Wales. Appl. Geochem. Suppl. 2, 29-35
Myung, C.J., 2001. Heavy metal contamination of soils and waters in and around the Imcheon Au-Ag mine, Korea. Appl. Geochem. 16, 1369 – 1375.
Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/08/2020
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