Dobra o número de casos e de mortes da covid-19 no Líbano pós explosão em Beirute
Dobra o número de casos e de mortes da covid-19 no Líbano pós explosão em Beirute
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A explosão no porto de Beirute, no dia 4 de agosto de 2020, ocorreu em um depósito que armazenava nitrato de amônio e deixou todo o mundo estupefato. A explosão lançou uma nuvem de poeira no ar e sacudiu o centro de Beirute destruindo tudo em volta, causando quase 200 mortes e mais de 6.000 feridos, além de forçar mais de 300.000 pessoas a deixarem suas casas. Houve a formação de um “cogumelo gigante” de calor, que provocou a destruição de imóveis não só próximos ao porto, mas com o efeito “varredura” a devastação gerou a destruição de benfeitorias em larga escala e por quilômetros de distância. Pessoas foram jogadas ao mar, carros foram virados de ponta cabeça e vidros foram estilhaçados por toda a cidade.
Esta tragédia veio se somar à catástrofe econômica, resultado da convergência de má administração, corrupção e instabilidade política. Desde outubro de 2019, a lira desvalorizou 80%, provocando cenas de fome e desespero até então raras num país que até a década passada era considerado um oásis de prosperidade no Oriente Médio. A insatisfação cresceu entre a população libanesa, os jovens foram para as ruas protestar e, uma semana depois o primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou a demissão em bloco de seu Governo.
Com toda a movimentação gerada pela explosão e a mobilização das pessoas para procurar o sistema de saúde, para limpar os destroços e para protestar contra a inépcia do governo, houve um agravamento da pandemia do novo coronavírus.
O gráfico abaixo mostra que a média móvel do número de novas pessoas infectadas estava em torno de 160 casos até o dia 04 de agosto e subiu para mais de 300 casos dez dias depois. No dia 15/08 houve recorde de 397 casos e a tendência é de aumento.
O gráfico abaixo mostra o número diário de mortes da covid-19 e a média móvel de 7 dias. Antes da explosão o máximo de vítimas fatais diárias foi de 4 óbitos e a média móvel não passava de 2 óbitos. Porém, depois da explosão no porto de Beirute, o número de mortes chegou a 8 vítimas no dia 08 de agosto e a média móvel passou para 3 óbitos diários. E apresenta tendência de elevação.
Sem dúvida, existe uma crise econômica, social, política e de saúde e o Estado libanês não consegue dar respostas para os problemas do país, pois a divisão sectária dificulta o enfrentamento do bem comum. O sistema de cotas instituído após a guerra civil (1975-1990), reserva posições no governo e no Parlamento de acordo com as diversas religiões do país. Tradicionalmente, o primeiro-ministro é sunita, o presidente é cristão e o líder do parlamento é xiita e isto se reproduz em outras instâncias do poder.
Além das divisões internas, o Líbano fica dividido entre as influências síria, iraniana e ocidental. Na busca de um pluralismo cultural e político, a fragmentação gera uma instabilidade crônica no país. Todas estas contradições explodiram junto com a explosão do porto no dia 04 de agosto, em meio a uma quarentena. Agora o Líbano vive uma tempestade perfeita. E a explosão de casos e mortes pela covid-19 é mais um grave problema que se soma a tantos outros.
Localizado na região do Crescente Fértil, o Líbano abrigou diversos reinos que foram sucessivamente conquistados por potências estrangeiras. Os moradores de Beirute se orgulham da cidade que já foi reconstruída 7 vezes. Não será fácil, mas como se costuma dizer: “A Fênix poderá se reerguer novamente”.
José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020
ALVES, JED. Presidente quinta-coluna não combate a pandemia e instala o Necroceno no Brasil, Ecodebate, 08/06/2020
ALVES, JED. América do Sul se consolida como epicentro da pandemia, Ecodebate, 10/06/2020
ALVES, JED. O novo coronavírus já infectou mais de 1 pessoa em cada 1 mil habitantes do mundo, Ecodebate, 15/06/2020
ALVES, JED. Passado, Presente e Futuro da Pandemia da Covid-19, Instituto Fernando Braudel, SP, 11/06/2020 https://pt.scribd.com/document/465506796/O-passado-o-presente-e-o-futuro-da-pandemia-do-novo-coronavirus
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/08/2020
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