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O Brasil é o país do BRICS mais afetado pela pandemia qualquer que seja o critério, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

O Brasil é o país do BRICS mais afetado pela pandemia qualquer que seja o critério, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Brasil é o país mais afetado do mundo pela pandemia da covid-19, atrás apenas dos EUA em números acumulados de casos e de mortes

[EcoDebate] O Brasil é o país mais afetado do mundo pela pandemia da covid-19, atrás apenas dos EUA em números acumulados de casos e de mortes. Desta forma, não é surpresa que esteja à frente de todos os países do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Mas é interessante verificar que a triste liderança do Brasil ocorre em todos os indicadores. O gráfico (do jornal Financial Times) abaixo mostra o número de casos acumulados nos 5 países do BRICS. Como a África do Sul ultrapassou a China nesta semana, o Brasil tem mais casos e a China menos casos entre os países do BRICS.

covid-19 número de casos acumulados nos 5 países do BRICS

O gráfico abaixo mostra o número de mortes acumuladas nos 5 países do BRICS e mais uma vez o Brasil aparece em primeiro lugar e a África do Sul em quinto lugar, mas com uma curva mais vertical e a China com uma curva mais horizontal, significando que o país africano vai ultrapassar em breve o país do leste asiático em número acumulado de mortes.

covid-19 - número de mortes acumuladas nos 5 países do BRICS

Nos dois gráficos acima, quando se considera os números acumulados, o Brasil só ficava atrás dos EUA. Mas nos dois gráficos seguintes, quando se considera a variação diária, o Brasil aparece como o líder isolado não só do BRICS, mas de todos os países.

No gráfico abaixo o Brasil aparece com um número de casos de cerca de 30 mil pessoas infectadas por dia na última semana, os EUA com pouco mais de 20 mil e a Índia com pouco mais de 10mil. A China que vinha tendo menos de 10 casos diários, teve um repique e passou para uma média em torno de 30 casos diários. A Rússia tem apresentado variações diárias em queda e pode ser ultrapassada pela África do Sul que apresenta uma curva mais vertical.

covid-19 No gráfico abaixo o Brasil aparece com um número de casos de cerca de 30 mil pessoas infectadas por dia na última semana

O gráfico abaixo mostra a variação diária do número de óbitos, com o Brasil na liderança isolada, com cerca de 1 mil mortes diárias nas últimas semanas. A Rússia estabilizou em torno de 150 mortes diárias, a África do Sul tem cerca de 50 mortes diárias e a Índia ultrapassou 500 mortes diárias. A China teve apenas 1 morte no último mês.

covid-19 O gráfico abaixo mostra a variação diária do número de óbitos, com o Brasil na liderança isolada, com cerca de 1 mil mortes diárias nas últimas semanas

O gráfico abaixo apresenta o coeficiente de incidência diário para os países do BRICS. Nota-se que o Brasil está na frente dos demais países do Brics, com cerca de 140 casos por milhão de habitantes, enquanto a Rússia e a África do Sul possuem cerca de 50 casos por milhão, a Índia cerca de 10 casos por milhão e a China, praticamente, zero caso por milhão de habitantes. O Brasil só fica atrás de países pequenos como Qatar, Kuwait e Bahrain.

covid-19 O gráfico abaixo apresenta o coeficiente de incidência diário para os países do BRICS

O gráfico abaixo apresenta o coeficiente de mortalidade diário para os países do BRICS. Nota-se que o Brasil está na frente dos demais países do Brics, com cerca de 5 mortes diárias por milhão de habitantes, enquanto a Rússia e a África do Sul possuem cerca de 1 morte diária por milhão, a Índia menos de uma morte diária por milhão e a China, praticamente, zero morte diária por milhão de habitantes. O Brasil só fica atrás, atualmente, do Chile e do Peru em termos de coeficiente diário de mortalidade.

covid-19 O gráfico abaixo apresenta o coeficiente de mortalidade diário para os países do BRICS

O grupo BRICS está passando por um momento difícil. Além da pandemia, há uma divergência crescente entre o Brasil que tem um governo totalmente alinhado com os EUA, mas principalmente uma divergência crescente entre os dois países mais populosos do mundo, China e Índia. Em 26 de janeiro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro participou como convidado de honra das comemorações do 71º Dia da República da Índia, evento ocorrido em Nova Delhi, e que conta com desfiles de militares.

A Índia já tinha apresentado divergências com a China em vários momentos do passado recente. Por exemplo, a Índia se recusou a participar da iniciativa “Um cinturão Uma Rota”. A Índia também se recusou a assinar os termos da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês), que é um pacto que inclui disposições sobre comércio de serviços, investimento, resolução de disputas e propriedade intelectual, etc. A RCEP reúne os 10 países da ASEAN (Tailândia, Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Mianmar, Brunei, Vietnã, Laos e Camboja), mais os três países mais avançados tecnologicamente (China, Japão e Coreia do Sul), além dos dois grandes países da Oceania (Austrália e Nova Zelândia). No dia 04 de novembro de 2019 aconteceu a 3ª Cúpula da RCEP, ocorrida em Bangkok, na Tailândia e, embora o Primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi estivesse presente, não assinou o acordo.

Mas o pior aconteceu agora em junho de 2020. No dia 15/06 diversos soldados indianos foram feridos ou mortos em confrontos com a força chinesa no Vale de Galwan, na região do Himalaia, no confronto fronteiriço mais grave na região desde 1975. O clima de hostilidade entre os dois países aumentou muito e a Índia, que se opões à aliança entre a China e o Paquistão, tem buscado se aproximar dos EUA tanto em termos de comércio, quanto de aliança militar.

Aliás o Primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, promoveu uma grande manifestação em homenagem a Donald Trump, no final de fevereiro de 2020, quando a pandemia já dava sinais de avançar sobre o país. O governo da Índia preparou uma recepção em grande estilo (dia 24/02), com um encontro diante de uma multidão ao lado do primeiro-ministro Narendra Modi em um novo estádio para 110 mil pessoas. O Sardar Patel, em Ahmedabab, é o maior estádio de críquete do mundo. O evento ganhou o nome de “Namastê Trump”, usando o tradicional cumprimento indiano. Trump foi aplaudido prometendo aos indianos “um acordo comercial incrível” e “o equipamento militar mais temido do planeta” no seu maior comício no exterior.

A 11ª Cúpula do Brics, ocorreu em novembro do ano passado em Brasília. A 12ª Cúpula estava prevista para a cidade de São Petersburgo, na Rússia em julho de 2020. Mas tudo ficou incerto com o avanço da pandemia. A própria continuidade do grupo, tal como se encontra hoje, está sob questionamento. O que parece é que Brasil e Índia estão se deslocando do caminho tradicional do BRICS. A pandemia da covid-19 pode acelerar uma crise, que já estava sendo gestada no grupo. Mas um conflito armado de longo prazo entre os dois gigantes da Ásia é o que mais pode colocar fim ao BRICS.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. Parceria Econômica Global Abrangente (RCEP) e a trilateral China-Japão-Coreia do Sul, Ecodebate, 15/01/2020

https://www.ecodebate.com.br/2020/01/15/parceria-economica-global-abrangente-rcep-e-a-trilateral-china-japao-coreia-do-sul-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Financial Times. Coronavirus tracked: the latest figures as countries start to reopen | Free to read, 23/06/2020 https://www.ft.com/content/a26fbf7e-48f8-11ea-aeb3-955839e06441

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/06/2020

 

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