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Artigo

A Era da Incerteza, artigo de Montserrat Martins

 

artigo de opinião

[EcoDebate] O século XXI pode ser chamado de “Era da Incerteza”, ou também de Era da Ansiedade, já que as pessoas sentem falta de ter “certezas” para ficarem tranquilas. A “capacidade de conviver com a incerteza” é a habilidade psicológica mais importante que você precisa desenvolver, diante do excesso de informações, de alternativas, de decisões a serem tomadas diante de inúmeros problemas e múltiplas possibilidades que surgem diariamente. A angústia da incerteza leva a buscar certezas, eleger verdades e lutar contra outras formas de pensar, fazendo inimigos.

“Se você não está confuso, está mail informado” é a frase que melhor define o emaranhado de informações contraditórias que recebe o tempo todo. Terapeutas de família ressaltam as dicotomias da vida moderna, onde a pessoa é cobrada (pelos padrões sociais vigentes) para sair de casa e ser “competitivo” para ser “vencedor” no trabalho, mas ao chegar em casa tem de ser “agregador” para ser “harmonioso” com sua família.

Em poucas décadas, o mundo mudou totalmente. O século XXI é cada vez mais “virtual”, o que começou com comunicações pela internet, passou a influenciar os relacionamentos (hoje mais da metade dos relacionamentos iniciam pelas redes sociais) e desagua agora no teletrabalho e a telemedicina, que já vinham se desenvolvendo no mundo inteiro e foram acelerados, agora, pela pandemia.

O cérebro humano não acompanha tantas mudanças, não assimila tão rapidamente, eis que somos uma espécie de milhares de anos de evolução, com um sistema nervoso programado para reações de “luta e fuga” que nos protegiam desde os tempos de brigar com outros animais pela sobrevivência. Ainda estamos brigando com “outros animais”, mas agora eles são invisíveis (os vírus) e nossas “armas” contra eles são outras, a inteligência, a ciência e o equilíbrio emocional para as condutas necessárias a esse enfrentamento. Em vez brigas físicas, precisamos racionalidade.

Não precisarmos mais brigar com outras espécies animais do nosso tamanho ou maiores, pela sobrevivência, usamos agora essa energia e raiva pelas frustrações para direcionar nossa energia contra inimigos humanos, buscando polêmicas onde possamos escolher um grupo de “amigos” para nos unirmos contra os “inimigos” que escolhemos para combater.

Muitas “reações de luta e fuga”, instigadas pela nossa produção de adrenalina, ao invés de resolver problemas nos criam mais problemas, nos dias de hoje, mas vai levar muito tempo para nosso cérebro ser “reprogramado” pela evolução para modos de funcionamento mais inteligente, científico e estratégico para a nossa felicidade. Se não podemos mudar nosso cérebro, podemos compreender como ele funciona e fugir de suas armadilhas.

A busca por “certezas”, que nos lega a eleger verdades e inimigos, pode ser substituída por aprender a conviver com incertezas

Montserrat Martins, Médico, autor de “Em busca da Alma do Brasil”

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/05/2020

[cite]

 

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