Animais domésticos não transmitem a Covid-19, artigo de Rosângela Ribeiro
Animais domésticos não transmitem a Covid-19, artigo de Rosângela Ribeiro
[EcoDebate] Desde março, quando dois cães em Hong Kong testaram positivo para o novo coronavírus, muitos cientistas e pesquisadores levantaram diversas hipóteses sobre a capacidade de infecção de animais domésticos e, principalmente, uma possível transmissão do vírus de cães e gatos para humanos.
Apesar de descobertas interessantes de como o vírus age, nada foi comprovado e todas as infecções de animais domésticos com a Covid-19 foram considerados casos de transmissão humano-animal.
Ainda assim, a simples divulgação das pesquisas preliminares, junto com outras informações desencontradas, tem gerado alarde na população. No Brasil, houve um aumento no número de casos de abandonos de animais domésticos, principalmente cães e gatos. A prática, além de ser extremamente danosa para os animais, é crime previsto em lei.
O abandono de animais leva a outras situações que impactam diretamente na saúde pública dos municípios, como o aumento das populações de cães e gatos nas ruas, mordidas por animais famintos, atropelamentos que resultam em acidentes de trânsito e o crescimento de outras zoonoses como raiva e leishmaniose.
Por isso, nós da organização não-governamental Proteção Animal Mundial, junto com o Centro Pan-Americano de Febre Aftosa e Saúde Pública Veterinária da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Panaftosa – Opas/OMS) formulamos uma série de respostas para as dúvidas frequentes da população sobre como o vírus pode afetar seus animais de estimação.
Além de tranquilizar a população, queremos deixar claro que não há até o momento qualquer evidência científica que comprove que animais de companhia são uma fonte de infecção para humanos, também não há sinais de que cães possam ficar doentes e a suscetibilidade dos felinos a infecção está sendo investigada.
Contudo, como tudo neste “novo mundo”, é preciso fazer algumas adaptações ao estilo de vida: lave sempre as mãos antes e depois de interagir com os pets e seus pertences; passe um pano úmido nos focinhos e lave as patas com agua e sabão neutro, após leva-los para passear; evite contato próximo com seu animal, como, por exemplo, lambidas e beijos e, caso fique infectado, mantenha o isolamento das outras pessoas e também dos seus animais de estimação.
Pensando em outros métodos de ajudar aos animais, elaboramos uma carta aberta aos prefeitos e governadores do Brasil com alguns direcionamentos de como atuar com as populações de cães e gatos domiciliadas e errantes durante a emergência sanitária da Covid-19. No documento, solicitamos que os governos locais criem uma rede de coordenação e apoio aos animais durante o período de pandemia e que enfrentem de forma reativa e preventiva uma série de desafios impostos pelo isolamento social.
As estimativas que temos é de que existem hoje cerca de 30 milhões de animais abandonados nas ruas do Brasil. Essas espécies dependem da ajuda das pessoas, contudo, com o isolamento e a diminuição da circulação de pessoas nas ruas e com fechamento dos restaurantes e do comércio, cães e gatos estão sofrendo de fome e sede. Além disso, há uma população de 170 mil animais sob os cuidados de ONGs, que também estão sofrendo pela falta de recursos, uma vez que, por conta da incerteza econômica, as doações estão mais escassas.
Por isso, pedimos que governos e prefeituras comuniquem de forma clara em seus canais oficiais informações sobre a Covid-19 em animais, a fim de evitar abandono e maus tratos, que estabeleçam equipes de resposta para ajudar animais em risco, que facilitem uma rede de apoio as organizações de proteção animal e protetores independentes, para que eles consigam seguir com os trabalhos, sem interrupções.
Além disso, é necessário que o poder público, por meio dos seus órgãos de bem-estar animal, possa adquirir alimentos para cães e gatos em caráter emergencial para não deixar os canis desabastecidos neste momento de pandemia.
Neste momento de pandemia e calamidade pública, é necessário que os governos atuem com veemência, auxiliando da melhor maneira possível as ONGs e aos protetores individuais de animais, além de terem rigor ao fiscalizar os casos de abandonos e maus tratos de animais. Cães e gatos só transmitem amor e carinho. Cuide dos seus animais e, se possível, fique em casa.
Rosângela Ribeiro, gerente de programas veterinários na Proteção Animal Mundial
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 14/05/2020
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