Fechado para visitação, Parque Nacional da Tijuca vê aumento na frequência de animais silvestres durante isolamento social
Parque Nacional da Tijuca – Sete espécies diferentes foram vistas em locais que costumavam estar cheios de gente e não de bichos desde março, quando a visitação foi interrompida pela pandemia de coronavírus
Parque Nacional da Tijuca. Foto: ICMBio
Por Marcus Vinicius
O Parque Nacional da Tijuca, o maior em visitação do país, tem registrado um aumento de visitantes que não costumam entrar para as estatísticas turísticas. Desde o dia 17 de março de 2020, quando a visitação foi suspensa por causa da pandemia do novo coronavírus, as cutias, jabutis-tinga, saracuras do brejo, quatis, esquilos, macacos prego e até uma lagarta gatinho começaram a explorar muito mais à vontade as áreas do Parque. Desde então, vários representantes dessas sete espécies, todas nativas, foram vistos em estradas e pontos turísticos que, antes do isolamento social, ficavam lotados, mas de visitantes humanos.
Os responsáveis por presenciar essa “farra” dos bichos foram alguns funcionários que, pela natureza de seus cargos, eventualmente precisam se deslocar pelo Parque para cumprir algumas de suas atividades. As fotos e vídeos foram feitas em locais como estradas de acesso a trilhas famosas, como a Estrada da Cascatinha, que dá acesso para a trilha do Pico da Tijuca (ponto mais alto do Parque e o segundo mais alto da cidade do Rio de Janeiro); a Estrada das Paineiras, que é o caminho até o Corcovado, onde fica o Cristo Redentor, e o Parque Lage, um dos pontos turísticos mais frequentados do Rio. Para se ter ideia, em 2019, o Parque teve, em média, cerca de 8 mil visitantes por dia durante o mesmo período do isolamento social deste ano até agora (entre o dia 17 de março e 29 de abril de 2020).
A bióloga e servidora do ICMBio, Katyucha Von Kossel, explica que, diante deste cenário de isolamento social, o aumento na circulação dos animais é normal. “A fauna do Parque se sente menos ameaçada com a ausência de pessoas e de barulho, que costuma ser provocado pela atividade humana. As cutias e saracuras, por exemplo, são mais tímidas e difíceis de visualizar andando calmamente”, detalha Katyucha.
Ainda de acordo com a bióloga, como esses animais vivem em um parque que fica no meio de uma megalópole, a particularidade do atual cenário está no fato de que, antes do isolamento social, a livre movimentação acontecia apenas entre algumas espécies e em algumas faixas de horários, como no início da manhã ou início da noite. Com essa pausa da sociedade, veio a segurança para mais animais e para a circulação em diferentes horários. Deixou de existir, pelo menos temporariamente, o conflito com as atividades humanas em estradas e locais com alta movimentação de turistas, o que trazia riscos como mortes por atropelamentos ou o consumo de alimentos cedidos por visitantes.
Em busca da relação sustentável com a atividade humana, o chefe do Parque Nacional da Tijuca, André Mello, pontua questões importantes sobre o fenômeno observado recentemente. “Quando o Parque for reaberto, os visitantes precisam se lembrar que o limite de velocidade de circulação nas estradas que cortam o Parque é de 30 km/h e que os bichos não devem ser alimentados nunca. O retorno à rotina pré-isolamento social vai fazer com que os animais se afastem novamente dos pontos onde foram observados. Porém, o contato com as pessoas eventualmente vai acontecer. Então, é importante que todos saibam como agir, respeitando regras que visam a boa experiência de visitação e a preservação da fauna e da flora do parque”, orienta André.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/05/2020
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