Mineração fragmenta florestas na Amazônia, por Juliana Siqueira-Gay e Luis E. Sánchez
Mineração fragmenta florestas na Amazônia, por Juliana Siqueira-Gay e Luis E. Sánchez
[EcoDebate] Áreas de mineração ocupam menos de 1% da superfície terrestre, mas seus impactos vão além dos limites das minas.
A abertura de uma nova mina de grande porte em regiões remotas pode influenciar consideravelmente a paisagem, devido à necessidade de construir vias de acesso e infraestrutura de transporte, como portos.
Em áreas de florestas, esses impactos indiretos podem representar um desmatamento até 12 vezes maior do que aquele causado apenas pela construção do projeto.
Além do desmatamento, a infraestrutura de acesso às minas, de transporte de minérios, e novas áreas urbanas causam outros impactos na paisagem regional, como é mostrado por estudo recente publicado na revista Resources Policy (Siqueira-Gay et al., 2020). Analisando o desenvolvimento da mineração no nordeste da Amazônia com ajuda de imagens de satélite, os autores identificaram significativas alterações nos padrões da paisagem no período de 1991 a 2014. A abertura da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), fechada para mineração desde 1984, poderá incrementar esses impactos, que poderão se estender para o interior de unidades de conservação (Fig 1).
Fonte: Juliana Siqueira-Gay e Luis E. Sánchez
Atualmente há apenas uma mina de ouro operando na região, que já teve minas de ferro, cromo e manganês, com destaque para esta última, na Serra do Navio, fechada em 1997, e para a exploração de caulim, próxima ao conhecido projeto Jari, de madeira e celulose. A abertura dessas minas, somadas à provisão de infraestrutura, o adensamento no entorno de estradas e vias de acesso, contribuíram para intensificar o conhecido padrão espinha de peixe, característico de paisagens fragmentadas por estradas na Amazônia.
Os impactos da mineração nas florestas são considerados apenas parcialmente nos Estudos de Impacto Ambiental e no licenciamento. Este estudo mostrou que não apenas a perda sucessiva de floresta é importante, mas também seus impactos na paisagem como um todo, como fragmentação e perda de habitats, por sua vez as maiores causas de perdas de biodiversidade atualmente no mundo.
Os autores fazem recomendações para futuras ações na região: (1) o fortalecimento dos atuais planos de manejo das unidades de conservação; e (2) avaliação desses impactos cumulativos em futuros processos de licenciamento ambiental, orientados por termos de referência cuidadosamente preparados.
Reitera-se, assim, a necessidade de quebra da tendência atual de simplificação das leis do licenciamento ambiental e enfraquecimento de instituições responsável pela conservação e manejo do meio ambiente no Brasil.
Citação:
Siqueira-Gay, J., Sonter, L.J. & Sánchez, L.E. (2020). Exploring potential impacts of mining on forest loss and fragmentation within a biodiverse region of Brazil’s northeastern Amazon. Resources Policy, 67, 101662. DOI: https://doi.org/10.1016/j.resourpol.2020.101662
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/04/2020
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Perfeito. E a sinergia de todos os impactos, inclusive ao longo tempo, deveriam ser padrão no licenciamento ambiental. E precisamos também, obviamente por conta do coronavírus, começar a pensar na ecologia das doenças. Em especial das zoonoses emergentes. É possível, e necessário, integrar isto no licenciamento ambiental.
abraços