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Estudo revela viabilidade da expansão da soja em 18,5 milhões de hectares já desmatados no Cerrado

desmatamento
Colniza, MT, Brasil: Área degradada no município de Colniza, noroeste do Mato Grosso. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

·         Número é mais do que o dobro dos 7,3 milhões de hectares necessários para garantir a demanda crescente por ,pelo menos, dez anos;

·         Instrumentos financeiros podem auxiliar no desenvolvimento de uma nova economia para a soja, atendendo à demanda do mercado por produtos mais sustentáveis

Por Maria Paula Angelelli

A organização ambiental The Nature Conservancy (TNC) mostra, em estudo, que é possível garantir o aumento de produção de soja no Cerrado sem desmatar a vegetação nativa, ao utilizar áreas de pastagem subutilizadas e com aptidão agrícola.

A partir da análise da dinâmica do uso da terra para a expansão de soja neste bioma, executada em parceria com a consultoria Agroicone, o estudo mostra que há mais de 18,5 milhões de hectares de pastagens no Cerrado adequadas à produção de soja, número que corresponde a mais do que o dobro dos 7,3 milhões de hectares que serão necessários, nas condições atuais de mercado, para garantir a expansão por, pelo menos, dez anos. Além disso, o relatório indica uma combinação de ações para apoiar a intensificação da pecuária, liberando áreas de pastagens de baixa produtividade o que estimularia a conversão dessas áreas subutilizadas na produção de grãos.

Os dados ajudam a indicar uma alternativa para o problema do desmatamento avaliado no estudo: 38% da produção (cerca de 3,65 milhões de hectares) de soja colhida no Cerrado no ciclo 2016/2017 estava em terras cobertas por vegetação nativa em 1999, enquanto a área de produção do grão aumentou no total 9,6 milhões hectares – ou 128% – entre 2000 e 2017.

Estamos comprometidos em construir caminhos e soluções para tornar a agricultura brasileira uma potência global na produção sem desmatamento, atendendo ao aumento esperado da demanda por alimentos de forma sustentável” aponta José Otavio Passos, especialista em negócios e investimentos na TNC Brasil, que conduziu o estudo.

O estudo conclui ainda que a expansão da soja em terras de pasto já existentes possui menor custo de implantação e maior produtividade do que a conversão de áreas de vegetação nativa em cultivo – já que é três vezes mais rápido atingir rendimentos máximos de colheitas em terras de pastagens já convertidas.

Instrumentos financeiros também podem ser usados para melhorar os retornos da produção de soja realizada em pastagens arrendadas ou adquiridas. Produtos financeiros, como financiamentos com prazos mais longos e custos mais interessantes para os produtores, podem ajudar a mudar a forma da expansão em favor dos modelos sem conversão de vegetação nativa e servir como complementos à crescente demanda do mercado por produtos mais sustentáveis. O modelo, então, estimula o financiamento para a aquisição e conversão de pastagens, em detrimento da aquisição de áreas preservadas.

A área do Cerrado é maior do que a soma dos territórios da Alemanha, Espanha, Itália, França e Reino Unido, ou quase cinco vezes o tamanho da Califórnia. É também uma das principais regiões agrícolas do mundo, considerada o centro da produção de alimentos nas últimas décadas. Mas, a expansão da pecuária e da agricultura levou à conversão de metade da vegetação nativa do bioma. E a perda de vegetação nativa deixa uma grande consequência em termos de emissões de carbono e ameaça a biodiversidade da região, como indica o estudo.

No Cerrado, epicentro da expansão da soja no Brasil, em uma parte do bioma, na área agrícola conhecida como Matopiba, que engloba parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, mais de 80% da expansão da soja nas últimas duas décadas ocorreu sobre a vegetação nativa. Ainda, segundo o estudo, esta região é a que abriga os remanescentes mais significativos do Cerrado nativo em terras privadas adequadas para a produção de soja, reunindo 45% da reserva legal excedente do Cerrado, o que representa 4,5 milhões de hectares.

A produção e a natureza estão diretamente relacionadas. Diversos atores, como produtores, traders e setor financeiro, precisam trabalhar juntos para encontrar mecanismos que permitam garantir segurança alimentar, conservando a natureza”, afirma Passos. O especialista conclui que “para uma produção em quantidade, constância e qualidade adequadas, precisamos de sistemas resilientes o que depende da preservação do meio ambiente”.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/04/2020

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