Eufemismos Ambientais: Uma Crônica Potiguar, por Carlos Augusto de Medeiros Filho
Assisti algumas palestras e participei de debates e conversas sobre o novo Plano Diretor de Natal (PDN) que vai ser discutido e definido pela nova Câmara Municipal a ser eleita nas eleições municipais de 2020.
Essa futura responsabilidade é, creio, o principal motivo de se estudar criteriosamente em que vereador votar. Deve-se escolher um candidato que tenha posições claras e embasadas sobre pontos críticos do PDN e que defenda uma Natal ou Grande Natal que procure harmonizar um desenvolvimento urbano com as necessidades sociais de toda população e que respeite as exigências de proteção do meio ambiente.
Constatei opiniões de acadêmicos e políticos que defendem o uso “racional” ou a “ocupação com desenvolvimento sustentável” de Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs) da cidade de Natal (1,2).
Mesmo admitindo a inocente boa intenção de alguns, opino que, na maioria dos casos, trata-se de eufemismos que traduz, na realidade, o sentimento da elite empresarial e política associada com a insaciável sede da especulação imobiliária.
ZPA do Estuário do Potengi (fonte: afaunanatal)
A responsabilidade do sistema capitalista pelo desastre ambiental iminente é amplamente reconhecida. O Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si, sem pronunciar a palavra “capitalismo”, denunciou um sistema estruturalmente perverso de relações comerciais e de propriedade, baseado exclusivamente no “princípio da maximização do lucro”, como responsável tanto pela injustiça social como pela destruição da nossa casa comum, a natureza (3).
Uma análise das dez ZPAs que constam do Plano Diretor de 1994 mostra que, devido sua fragilidade ambiental ou importância hidrogeológica, é inadmissível qualquer intervenção ou ocupação humana, mesmo que acompanhada de todos tipos de eufemismos que procuram mascarar suas reais intenções.
Então, uma orientação que acredito que deve ser seguida na escolha do voto à Câmara Municipal é naqueles candidatos que defendam radicalmente a regulamentação e preservação das ZPAs e que, inclusive, adicione novas áreas de proteção ambiental.
Referências Bibliográficas
1 – https://www.natal.rn.gov.br/semurb/paginas/ctd-594.html
3 – Lowy, M. 2020. Treze teses sobre a catástrofe ecológica. Site A Terra e Redonda.
Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/02/2020
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