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Quem são os donos da Vale e como cobrá-los por mais fiscalização

Quem são os donos da Vale e como cobrá-los por mais fiscalização

Guia dos Bancos Responsáveis mostra se instituição se preocupa com impactos ambientais e sociais de empresas nas quais investe

A tragédia de Brumadinho completa um ano no próximo sábado (25). De lá para cá, a Vale, responsável pela barragem que se rompeu, enfrentou uma breve desvalorização no mercado, mas já recuperou seu valor na Bolsa de Valores. Mas como o consumidor pode ajudar a evitar tragédias como essa e cobrar que as empresas sejam mais responsáveis pelos seus empreendimentos? O Guia dos Bancos Responsáveis (GBR) é uma forma de saber se o seu banco usa seu dinheiro para investir em empresas responsáveis social e ambientalmente. 

Com base nos dados do GBR, o consumidor brasileiro pode comparar seu banco e exigir que ele atue de forma mais responsável em seus investimentos. Você pode pressionar os bancos que têm influência sobre a Vale a fazerem com que a empresa seja mais rígida no controle de suas barragens e com os impactos que gera no entorno de projetos. Para isso, explicamos quem são os donos da Vale.

A maior parte das ações da Vale estão nas mãos da Litel e Litela Participações, empresas brasileiras controladas por fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ), Caixa (Funcef) e Petrobras (Petros). BB e Caixa indicam metade dos diretores dos seus respectivos fundos de pensão e, portanto, também têm responsabilidade sobre o investimento que eles fazem. Sozinhas, Litela e Litel somam quase 13 bilhões de dólares em ações da Vale, o que representa 19,1% do valor da companhia.

O BNDESPar, empresa de investimentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), é o segundo maior acionista individual da Vale, com 6,3%. Logo atrás está a Bradespar, empresa de investimentos do Bradesco, com 5,7% das ações da mineradora. 

Essas grandes empresas têm direito a assentos no Conselho de Administração da Vale, ou seja, podem interferir diretamente em sua atuação. Por isso, é possível pressionar o Banco do Brasil, o BNDES, o Bradesco e a Caixa para que eles exijam atitudes mais responsáveis da Vale!

Quem são os donos da Vale? Composição acionária em 31 de dezembro de 2019

quem são os donos da Vale

Fonte: site oficial da Vale/ Dez de 2019

Saiba mais sobre “os donos da Vale”

Elaborado desde 2011 pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), o estudo de bancos do GBR brasileiro é divulgado a cada dois anos. O último, de 2018, mostra a baixa pontuação dessas instituições no país no tema mineração, o que reflete não apenas a ausência de políticas específicas para o setor, como também o baixo grau de exigência da legislação nacional para os projetos dessa área quando comparada a padrões internacionais. Durante a última avaliação, somente Banco do Brasil e BNDES apresentaram políticas específicas para a mineração.

No Japão, por exemplo, um estudo inédito do GBR de lá sobre o caso de Brumadinho apontou deficiências na política e no monitoramento dos bancos japoneses sobre as empresas em que investem. Os três maiores bancos do país, Mitsubishi UFJ, Mizuho e Sumitomo Mitsui, aportaram 15 bilhões de dólares em financiamentos e quase 650 milhões em subscrição de títulos para a Vale. Também investiram mais de 38 bilhões de reais na Mitsui&Co, multinacional japonesa que tem 5,6% das ações da Vale. Segundo Shigeru Tanaka, responsável por questões internacionais da PARC (Pacific Asia Resource Center), organização que faz parte do GBR no Japão, “embora a responsabilidade associada à falha mortal da barragem obviamente recaia sobre a Vale, seus parceiros de negócios que poderiam ter influenciado a administração e governança da Vale também devem assumir parte da responsabilidade”. Ele lembra também que até agora as famílias afetadas pelo desastre em Brumadinho não foram devidamente indenizadas.

As instituições financeiras e investidores individuais devem exigir da Vale e outras mineradoras a adoção de políticas de RSA (responsabilidade socioambiental) para que a vida e a conservação do meio ambiente estejam acima do lucro e da valorização de ações.

Como os consumidores podem ajudar a evitar novas tragédias?

O primeiro passo é cobrar transparência dos bancos. Infelizmente quase todos os bancos brasileiros não divulgam informações sobre as empresas nas quais eles investem e quais as políticas que eles têm para elas. O segundo passo é cobrar responsabilidade ao investir em empresas de setores sensíveis como a mineração.

Um exemplo da força da mobilização dos consumidores por meio do GBR ocorreu na  Suécia. Em 2015, o GBR sueco – em cooperação com a Anistia Internacional – divulgou o relatório “Investimentos responsáveis”, revelando que os 7 principais bancos do país investiam o dinheiro de seus clientes em empresas com envolvimento em violações de direitos humanos, como a Shell e a Renault. 

Após a publicação dos dados, os consumidores enviaram milhares de e-mails pelo site do GBR, exigindo que os bancos parassem de investir nessas empresas. Todos os 7 bancos adotaram medidas para garantir investimentos responsáveis, por exemplo, empregando mais especialistas em questões ambientais, sociais e de governança (ESG) e excluindo empresas que violam os direitos humanos das suas listas de financiadas. Por consequência, as empresas afetadas pela perda de investimentos também passaram a adotar práticas responsáveis, como foi o caso da Shell, que incorporou os direitos humanos em suas políticas, sistemas e processos de negócios e alegou que aprimorou seu sistema de resposta e remediação a derramamentos de petróleo. 

O GBR Brasileiro está disponível para consulta no seguinte link https://guiadosbancosresponsaveis.org.br/ . Lá também o consumidor encontra a opção de pressionar os bancos enviando e-mail para eles.

Fonte: Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor)

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/01/2020

[cite]

 

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