Janeiro Branco: a saúde mental não pode ser mais um tabu, artigo de Eduardo Guidolin
Janeiro Branco: a saúde mental não pode ser mais um tabu, artigo de Eduardo Guidolin
[EcoDebate] Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que o Brasil é o país que concentra o maior número de pessoas ansiosas no mundo. O percentual estimado é de que 9,3% da população, o que representa 18,6 milhões de brasileiros que convivem com o transtorno.
Outro levantamento realizado pela OMS mostra que 5,8% dos brasileiros sofrem com a depressão, sendo a maior taxa da América Latina, e a segunda maior das Américas, perdendo apenas para os Estados Unidos.
Infelizmente, ainda é motivo de tabu falar sobre depressão, ansiedade e outros transtornos mentais que afetam a população brasileira.
No entanto, os dados da OMS mostram que além de necessário, é urgente debater o tema e combater o preconceito. Para difundir a importância do assunto, foi criado o movimento Janeiro Branco, que tem o objetivo conscientizar e falar abertamente sobre os cuidados com a saúde mental.
O mês de conscientização chega após um período marcado pelo aumento de casos de ansiedade e depressão, que ocorrem no fim do ano. Geralmente, começa com a época do Natal, festa bastante familiar e com os reencontros. Sentimentos guardados e lembranças vem à tona, inclusive sendo comum algumas situações de conflitos no âmbito familiar. Em seguida, vem outro momento importante: a festa de Ano Novo.
Com tudo isso, os meses de dezembro e janeiro marcam um período de balanço para muitas pessoas. É um momento para analisar o que foi conquistado ou não durante o ano que se encerrou. Algumas pessoas possuem a crença de que sair do dia 31 de dezembro para o 1° de janeiro significa que tudo vai mudar, mas sabemos que não é assim. É preciso resolver as situações de forma gradual.
Para esse período, algumas dicas podem ajudar, mas é importante que elas representem uma ajuda inicial, não o a resolução de tudo. Em primeiro lugar, não se deve fazer comparações com a vida de outras pessoas. Os comerciais e propagandas costumam vender a ideia de bem-estar, de vidas bem-sucedidas, mas é uma felicidade fabricada. É necessário evitar se cobrar tanto, nem resolver tudo logo no início do ano. Tudo tem o seu tempo.
Outras dicas para controlar a ansiedade, é praticar uma atividade física, tentar reduzir o estresse no dia a dia, evitar pensamentos negativos e até deixar um pouco de lado as redes sociais, onde tudo parece um conto de fadas e servir como um gatilho para sentimentos ruins. Os sintomas de depressão e ansiedade não são causados pelo Natal e Ano Novo, mas por questões inconscientes que precisam de ajuda profissional para serem resolvidas.
É importante destacar que o Janeiro Branco alerta, ainda, para a esquizofrenia, transtorno bipolar e transtornos de personalidade. São doenças que costumam ser negligenciadas ou escondidas, principalmente pelas famílias que demoram a aceitar e reconhecer a necessidade de ajuda profissional. São situações clínicas que deveriam ser prontamente atendidas, mas que por causa do preconceito e tabu, acabam até piorando o quadro do paciente. Por isso, sempre procure ajuda profissional caso sinta qualquer sinal de que há algo errado com sua saúde mental, seja para si mesmo ou algum familiar.
Outro aspecto, que precisa ser discutido sem preconceitos, é a dependência química, que são situações clínicas avassaladoras. Ela também envolve a saúde mental e precisa ser encarada como uma doença. Derrubar as barreiras do preconceito é um dos primeiros passos para se falar mais abertamente sobre os diferentes transtornos e de se buscar o devido tratamento.
Eduardo Guidolin é psiquiatra e coordenador técnico do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) de Mogi das Cruzes, unidade gerenciada pela Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar, por meio de contrato de gestão com o município.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/01/2020
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