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Novo ano, novos hábitos, artigo de Helena Ben

 

artigo de opinião

[EcoDebate] Não lembro o contexto exato dessa busca, mas, um dia, lá pelo início de 2011, eu estava em uma “operação de guerra” atrás de uma pessoa específica no Facebook. Nessa varredura pela rede social, encontrei uma foto curiosa: era uma banda liderada por um guitarrista com uma cabeça de cavalo e outras 3 pessoas com uma roupa bem estranha e uma espécie de maquiagem esquisita. O primeiro ímpeto foi clicar na pessoa marcada na cabeça do cavalo (óbvio). Busquei o perfil dele e percebi que era um estudante de medicina. Vasculhei um pouco e segui clicando em todos os nomes da banda. Não achei quem eu estava procurando, mas percebi um certo “padrão” nessas pessoas aleatórias: todos eram estudantes de medicina e, pelo que parecia, além de terem uma banda juntos, faziam jantares, iam a festas, andavam de bike e, pelo que reparei, os que tinham namorada, namoravam estudantes da turma. Sempre em grupo, sempre os mesmos estudantes de medicina.

Na época, eu também estudava e já começava a trilhar minha carreira publicitária. E, em um determinado momento, percebi que estava fazendo o mesmo que a banda da cabeça de cavalo: andava com as mesmas pessoas, ia aos mesmos lugares, fazia os mesmos programas que todos os meus amigos de faculdade. Ok, mas qual o problema disso?

Talvez para os estudantes de medicina não houvesse problema algum, justamente o contrário. O fato de conviver com pessoas que encaram a mesma jornada estressante de estudo auxiliava a lidar com a pressão e manter, o mínimo, de vida social. Já na publicidade, a gente escuta desde o começo frases do tipo: “o segredo da criatividade é saber esconder as fontes”. Ué, mas, afinal, como poderia ou deveria esconder as fontes já que todos consumiam exatamente a mesma coisa?

Então, se o segredo para a criatividade é o repertório e as conexões que fazemos, como podemos ser criativos se consumirmos, falarmos e convivermos apenas com os “iguais” a nós?

Para mim, o segredo da criatividade mora aí, em estar aberto a conhecer as coisas que estão fora das zonas do “gosto” ou “não gosto”. Estar aberto ao diferente, e não só ao que você, seus amigos e sua bolha consomem.

Vá ver Coringa, mesmo que você não goste de filmes de super-heróis, e aproveite para pegar a fila do Méqui número 1.000 só para sentir como é a experiência. À noite, permita-se entrar naquele restaurante de comida local que fica na esquina do seu bairro e que você nunca foi porque sempre está vazio.

Vá àqueles museus ‘instagramáveis’ na sua próxima viagem, mas também vá ver arte sacra, pré-histórica ou algo que você nunca teve curiosidade ou interesse, apenas para aprender algo que você não esperava.

Assine a Netflix para entender os fenômenos de La Casa de Papel, Vis a Vis e Stranger Things, mesmo que seja para assistir a um episódio e largar no meio. De vez em quando, lembre-se de assistir à Globo para ver aquele combo de Jornal Nacional + novela das 9 (e não, não troque de canal nos comerciais).

Escute suas playlists personalizadas do Spotify e descubra todas aquelas bandas novas e diferentes que só você conhece, mas permita-se fazer uma viagem um dia escutando o Top 50 do Spotify e entender o que está de fato nos ouvidos das pessoas.

Faça uma aula de Crossfit, mesmo que você só pratique o bom e velho levantamento de copo. Ou, permita-se sair da dieta um dia e vá tomar uma cerveja em plena terça-feira com seus colegas de colégio que tomaram rumos totalmente diferentes do seu.

Fique com o filho de um amigo e peça para ele te mostrar todos os vídeos de YouTube que ele gosta. Siga pessoas estranhas nas redes sociais, mesmo que você não concorde com o ponto de vista de cada uma delas.

Não é sobre ser hipster ou mainstream.

Permita-se ver e viver experiências que não têm absolutamente nada a ver com você e que, talvez, não faça sentido nenhum no momento. Afinal, nem sempre os gostos e hábitos dos nossos clientes (e dos clientes dos nossos clientes) são iguais aos nossos. Quase nunca na verdade!

Helena Ben, 30, é publicitária, sócia na agência Batuca.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/01/2020

[cite]

 

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