As diferentes realidades fluviais serão tema da nova exposição do Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)
“Rios em movimento” inaugura no dia 18 de dezembro, às 11h, no Salão de Exposições Temporárias do Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)
Misturando arte e ciência, a mostra reúne 13 obras em pintura acrílica sobre tela do artista plástico Rodrigo Andriàn, que explora as artes abstrata e contemporânea figurativa em suas criações. De forma estética e afetiva, os painéis ilustram questões urgentes no tocante à preservação dos corpos hídricos e do meio ambiente, além da dimensão cultural das águas em práticas artesãs, religiosas e outras atividades humanas. Outros recursos também estão presentes, como aparatos interativos, objetos e instalações artísticas que dialogam com a proposta educativa de “Rios em movimento”.
A exposição é um convite para que o público se deixe sensibilizar pelas histórias que os rios e suas águas contam. “Tanto numa perspectiva global quanto local, é preciso pensar criticamente a importância desse valioso elemento que nos constitui e que está diretamente relacionado à dignidade humana. A água que garante nossas condições de sobrevivência é a mesma que sofre com o mau gerenciamento das nossas riquezas naturais. Sofrem as águas e sofrem as pessoas. Mas essas águas e seus rios também são a força e a identidade de povos que lutam e resistem na defesa desse bem que é um Direito fundamental humano”, reforça Ana Carolina Gonzalez, coordenadora do Serviço de Itinerância do Museu da Vida e uma das curadoras da mostra.
Itens indispensáveis para a dignidade das gerações atuais e futuras, a água potável e o saneamento adequado são tratados como direitos humanos básicos. Por isso, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) pautam questões relevantes dentro da exposição e são vistos com mais profundidade em um grande globo que convida o visitante a conhecer a Agenda 2030. Organizada em 17 ODS e metas, trata-se de um plano de ação mundial para alcançar o desenvolvimento sustentável em três dimensões – econômica, social e ambiental.
Composta por cinco módulos – “Rio que dá vida”, “Vida e morte do Rio”, “Rios que sofrem e vidas que lutam”, “Rio que vira arte” e “Cada Rio, uma história” -, a mostra aborda assuntos diversos. No primeiro, o objetivo é conversar com os visitantes sobre a disponibilidade e uso sustentável de recursos hídricos e, no segundo, sobre a qualidade e saúde dos rios, bem como os parâmetros científicos que determinam se um rio está vivo ou em processo de morte. Atento às demandas ambientais atuais, o módulo seguinte levanta uma reflexão sobre desastres e crimes ambientais decorrentes de ações humanas, como o rompimento de barragens nas cidades mineiras de Mariana e Brumadinho.
Também nesta seção, a pintura “Faria-Timbó: um rio correndo nas veias”, concebida especialmente para a nova exposição, exalta os diferentes processos históricos, territoriais e humanos que influenciaram a formação e transformação do rio que hoje é conhecido como Faria-Timbó, entre eles os povos originários do Rio de Janeiro. No videodocumentário abaixo, o artista plástico Rodrigo Andriàn apresenta o processo criativo e os simbolismos da tela, feita após uma reunião com movimentos sociais e pesquisadores de Manguinhos e da Maré envolvidos com estudos sobre a água ou reivindicações pelo direito à água.
Outro aspecto retratado, presente no quarto módulo, são as manifestações culturais que dialogam com os rios brasileiros. Por exemplo, o quadro “Maria Pirapora e as Carrancas do Velho Chico” remete às Carrancas, esculturas de madeira que eram colocadas na frente das embarcações de pescadores para espantar maus espíritos. A inspiração para o quadro veio pela história pessoal do artista: Maria, nascida na cidade mineira de Pirapora, lavava roupa na beira do rio São Francisco e acabou se mudando para Belo Horizonte, onde começou a trabalhar na casa da bisavó de Rodrigo. As histórias sobre Maria e suas impressões das Carrancas eram contadas pela mãe do pintor e ganharam vida por meio da arte e da imaginação.
As histórias das mulheres que trabalham com cerâmica, produzindo arte com influência indígena no Vale do Jequitinhonha, são retratadas no quadro “As paneleiras do rio Jequitinhonha”.
“Eu acho importante resgatar nas pessoas a ligação primordial que temos com a natureza, por isso essa é uma preocupação constante em minhas obras. Há muita pesquisa e envolvimento na criação de cada pintura, em que se observa a ‘história’ dos rios, aspectos da ‘geografia’ e, acima de tudo, o envolvimento com a ‘ciência’. Na representação do quadro ‘Encontro dos Rios Negro e Solimões’, observamos a diferença de cor entre as águas avermelhadas pelo barro do Solimões e a aparente negritude, apesar de ser transparente, do rio Negro, causada pelos sedimentos de floresta que se depositam no leito. Por conta da densidade e temperatura de ambos, seguem lado a lado sem se misturar”, explica Andriàn.
Encerrando o percurso narrativo, o quinto módulo fala sobre os usos culturais das águas, trazendo à tona elementos como devoção, fé religiosa e crenças em mitos e lendas. Outro atrativo visual que contribui para a imersão no tema da exposição são os trechos de músicas e poesias ao longo do Salão, impressos nas paredes, fruto de uma curadoria cuidadosa de profissionais do Museu da Vida.
Recursos acessíveis e instalações artísticas também compõem a mostra
Desde o início, “Rios em movimento” foi projetada com recursos acessíveis. Haverá audiodescrição por meio de aparatos parecidos com canetas, as chamadas pentops. Com elas, os visitantes podem apontar para um determinado objeto e ouvir, com fones de ouvidos que serão disponibilizados pela equipe de visitação do Museu, a descrição do que a caneta está “vendo”.
Em outro espaço, uma maquete tátil para pessoas cegas mostra a região de Brumadinho, em Minas Gerais, antes e depois do rompimento da barragem. Por último, o quadro “Maria Pirapora e as carrancas do Velho Chico” conta com um quadro “gêmeo” elaborado em versão tátil. O objetivo é trabalhar relevos e texturas do quadro original junto ao público com deficiência visual.
Além da acessibilidade, a interação com os visitantes é outro elemento que não pode ficar de fora. O artista Rodney Wilbert, que já realizou diversos trabalhos no Museu da Vida, está assinando duas instalações artísticas que prometem mexer com o imaginário das pessoas que passarão pelo local. Uma delas é um barco ambientado, onde acontecerão oficinas, sessões de contadores de histórias e aquele momento livre para que o público mergulhe nas páginas de um dos livros que estarão disponíveis dentro do barco.
No final da exposição, outra surpresa (que já não é mais surpresa!): uma rede que pescará memórias! A ideia é que o visitante pendure algum desenho ou traga de casa uma foto afetiva com um rio que marcou sua vida. Textos em prosa, poesias, rimas e outros mimos também estão liberados! Por isso, já fique avisado: se vier visitar a exposição, traga sua foto e nos ajude a construir essa rede de relicários pessoais.
Serviço: Rios em movimento
Inauguração: 18 de dezembro, às 11h
Temporada: até dezembro de 2020
Local: Salão de exposições temporárias
Visitação: de terça a sexta, das 9h às 16h30
Sábados, das 10h às 16h
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/12/2019
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