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Artigo

O fracasso de todos os dias, por Mayron Régis

 

artigo de opinião

 

[EcoDebate] Uma palavra proferida no momento certo diz muito sobre a realidade circundante. É difícil escapar a sensação de fracasso que assola o cotidiano. Talvez algum feito heroico ou alguma conquista do dia a dia configurem sucessos. Por pouco tempo.

Por pouco é sempre pouco “Estamos quase sempre otimistas/tudo vai dar quase certo/pois o ano esta quase acabando/depois de termos quase certeza/…/ por pouco não trouxemos o penta…” (Por pouco, Mundo Livre).

A letra de “Por pouco” estrutura situações dispersas na memória coletiva as quais a sociedade brasileira deseja esquecer porque significam fracassos.  As músicas do Mundo Livre releem a história e a cultura brasileiras através dos fracassos sociais que o Estado brasileiro institucionalizou como por exemplo o samba que a ditadura de Getulio Vargas elegeu maior expressão cultural brasileira num claro processo de apropriação.

Pode-se dizer que o Estado brasileiro em todas as suas facetas e esferas fracassou em seu projeto de dar coesão social ao Brasil e fracassou em responder e corresponder as demandas por politicas públicas da sociedade. O fracasso em não atender questões estruturantes e estruturais exigidas pela sociedade corresponde ao atendimento de questões não urgentes do ponto de vista social e econômico.

A apropriação da cultura pelo Estado brasileiro e a reelaboração dessa cultura por grupos econômicos com aval desse mesmo Estado desvia a atenção da sociedade do que realmente importa para o que menos importa. Construiu-se uma imagem quase inesgotável que o maranhense é receptivo solicito e educado. 

Nenhuma generalização pretende chegar a verdade. A generalização qualquer que seja é uma forma de encobrir as verdades desagradáveis que vicejam. Quem nunca escutou a expressão antiga “ela é pretinha mas é educada”. Ou seja, o preconceito racial e social enraizado só é refreado pelas boas maneiras e pela boa educação.

Então, como o maranhense é  bem-educado dentro de um certo prisma ele deve seguir as boas maneiras e não receber mal suas visitas mesmo que elas venham com grosserias e com violência.

O que é o avanço das monoculturas sobre as florestas maranhenses se não atos de grosseria e de violência por parte de setores majoritários economicamente com aval do governo do estado so que reelaborados através do discurso de olha como os maranhenses são bonzinhos bem educados e bem-dispostos? 

Os plantadores de soja (família Intronivi e Strobel) que compõem o conselho da área de proteção ambiental Morros Garapenses ao serem denunciados pelo desmatamento da Chapada do Brejão em Buriti responderam que não mereciam tais denúncias porque se sentiam maranhenses.

* Mayron Régis, Colaborador do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/10/2019

[cite]

 

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