Governo brasileiro na contramão da sustentabilidade, artigo de José Rodrigues Filho
Governo brasileiro na contramão da sustentabilidade, artigo de José Rodrigues Filho
[EcoDebate] A maioria do povo brasileiro acreditou que o sujeito oculto seria a solução dos problemas de nossa sociedade, embora sejamos carentes de soluções reflexivas para quase todos nossos problemas. Apesar dos conflitos, o país vinha adotando políticas ambientais e de controle de queimadas que se tornaram um modelo de preservação ambiental para o mundo, embora a partir dos governos de Dilma e Temer as queimadas na Amazônia aumentaram de forma substancial.
Contudo, no governo atual, o céu de fumaça tomou conta da região em níveis nunca vistos, depois da adoção de políticas voltadas para a devastação do maior jardim da natureza. Em resumo, a proposta ambiental do governo Bolsonaro assombrou o mundo.
A revolta nacional e, principalmente, internacional levou o governo a dar marcha ré no seu discurso agressivo e, pelo menos, propôs apagar as chamas. A consciência mundial de consumo sustentável e a fama de que o Brasil está adotando políticas ambientais predatórias surgiram imediatamente, de todos os lados, principalmente nos países desenvolvidos, que poderiam e ainda podem atingir em cheio a economia brasileira, com consequências desastrosas, prejuízos incalculáveis e o desemprego em massa.
O boicote mundial aos produtos brasileiros é uma ameaça assustadora e medidas devem ser tomadas para amenizar o problema. O agronegócio no Brasil, reconhecido por não ter boas práticas de preservação ambiental, poderá adotar medidas para desfazer sua imagem predatória, mesmo tendo apoiado o atual governo. As grandes corporações mundiais começam a repensar a questão ambiental, na suas práticas de desenvolvimento sustentável.
Nos Estados Unidos, por exemplo, muitos Estados americanos e grandes empresas não seguem a política ambiental do governo Trump. As grandes montadoras, na Califórnia, por exemplo, são contrárias às suas políticas ambientais. Assim sendo, o setor do agronegócio no Brasil deve investir em pesquisas nas universidades para mostrar seu engajamento com a sustentabilidade. Eliminando as queimadas não resolve o problema. O que importa é a política de desmatamento da Amazônia, uma vez que, como já foi dito, “refazer a imagem do Brasil não é tarefa fácil”, diante do discurso do atual governo, que não se limita apenas às questões ambientais, mas a questões ideológicas falsas e infundadas, que tentam camuflar o repúdio às práticas democráticas, institucionalizadas no país a duras penas.
O medo que se tem é que as práticas avançadas de Responsabilidade Social Corporativa e de Sustentabilidade Social sejam vistas no discurso ideológico do atual governo como práticas comunistas. A moderna administração está cada vez mais dando atenção a forma como as empresas possam alinhar a sustentabilidade social com a competitividade e as pesquisas em Responsabilidade Social Corporativa e Sustentabilidade insistem de forma consistente que as empresas precisam mudar sua cultura corporativa para habilitar um enfoque integrado contemplando questões econômicas e sociais.
A sustentabilidade social implica em avançar em práticas democráticas, participação, inovações sociais, igualdade objetiva e subjetiva de oportunidades, diversidade cultural, solidariedade e tolerância e não intolerância e obscurantismo.
Recente relatório da ONG Amazon Watch denunciou práticas destrutivas de várias multinacionais na Amazônia, entre elas a JBS, Bunge, Cargill e o banco Santander. É possível que estas empresas apresentem comprometimentos com a sustentabilidade e governança em seus relatórios. Contudo, é preciso esclarecer que muitas destas empresas apresentam um conceito de sustentabilidade muito estreito, chamado de sustentabilidade fraca e que se limita a manter a continuação de suas atividades como sempre. Os próprios nativos da região reclamam das atividades destas empresas, ou seja, as atividades do agronegócio são incompatíveis com as atividades dos nativos. Isto demonstra a falta de um plano de desenvolvimento sustentável na região.
A região Amazônica é carente de conhecimento em todas as áreas para o seu desenvolvimento. Cabe ao agronegócio incentivar atividades de pesquisas sobre as práticas e gestão de negócios na região, entre outras, integrando todos os setores produtivos da região. Por sua vez, estas empresas devem mostrar para o mundo suas práticas de responsabilidade e sustentabilidade social e sua defesa não só da soberania nacional, mas a defesa e soberania da Mãe Terra. Portanto, podemos supor que a sustentabilidade social está expressa na cultura corporativa e está dentro da Responsabilidade Social Corporativa, onde estratégias, políticas e sistemas gerenciais podem assegurar considerações sociais juntamente com as questões econômicas.
O cuidado da natureza é um cuidado social e deve fazer parte da sustentabilidade social. Neste sentido, o planejamento e a implementação da sustentabilidade social deve ganhar importância para todos os dirigentes do setor do agronegócio no Brasil, mesmo contrariando políticas governamentais de devastação da natureza, que premiam a ignorância e o obscurantismo, em detrimento do desenvolvimento e da criação do conhecimento.
José Rodrigues Filho é professor da Universidade Federal da Paraíba. Foi pesquisador nas Universidades de Johns Hopkins e Harvard (USA). https://jrodriguesfilho.blogspot.com/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/09/2019
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