A Ilusão da Universalização do Consumo, por Felipe Soares de Moraes e Diego Márcio Ferreira Casemiro
A Ilusão da Universalização do Consumo
Felipe Soares de Moraes1
Diego Márcio Ferreira Casemiro2
[Ecodebate] As discussões sobre o desenvolvimento sustentável e a iminência do colapso socioambiental global tem desafiado a lógica capitalista durante décadas. A ideia de que o progresso e o desenvolvimento econômico serão acessível a todos os povos, e que os padrões de consumo dos países periféricos serão iguais aos padrões de consumo dos países desenvolvidos (FURTADO, 1974), vem sendo vendida, ilusoriamente, há anos pelos meios de comunicação capitalistas.
A falsa ideia propagada pelos países desenvolvidos de que a universalização dos padrões de consumo será possível em todos os países que buscam pelo desenvolvimento, ou seja, que em algum momento todas as pessoas do mundo poderão ter os mesmos padrões de consumo que um cidadão norte-americano, por exemplo, não é só dissimulada como naturalmente impossível (FURTADO, 1974), pois esbarra diretamente na incapacidade física da Terra em suportar tamanho consumo em escala planetária.
Ao prometerem progresso e desenvolvimento socioeconômico aos países não desenvolvidos em troca da exploração de matéria-prima em seus territórios, os imperialistas vendem a ideia de prosperidade mas omitem que é claramente impossível que essas sociedades alcancem os padrões de consumo dos países desenvolvidos devido a escassez de recursos naturais.
Para que a demanda de consumo planetária seja suprida, é necessário retirar matéria-prima do meio ambiente, ocasionando a degradação e devastação ambiental, poluição e, consequentemente, a destruição do ecossistema. De acordo com o relatório Pegada Ecológica de 2010 da Global Footprint Network, o saldo de recursos naturais da Terra está negativado, isto é, estamos consumindo mais do que produzimos. Para suprir a necessidade atual de consumo, é preciso de cerca de um planeta e meio a mais do que o existente, e seguindo esse mesmo ritmo, em 2050 serão necessários três planetas inteiros para suprir a demanda do consumo humano (NETWORK, 2010).
Só os Estados Unidos, com aproximadamente 5% da população mundial, consome cerca de 25% da energia mundial, ¼ dos recursos mundiais de combustíveis fósseis e contribui com 35% das emissões de gases do efeito estufa (GARDNER; ASSADOURIAN; SARIN, 2004). Caso os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), detentores de 65% da população mundial, tivessem o mesmo padrão de consumo dos EUA, seria necessário cerca de três planetas iguais ao nosso para suprir tamanha demanda (GUSMÃO, 2018).
De todos esses dados a conclusão é uma só: existe apenas um planeta habitável, e o atual padrão de consumo vendido pelo capitalismo não contribui para a sobrevivência do ser humano neste planeta, além de ser extremamente utópico devido a não capacidade física da Terra em suportar exacerbado consumo em escala global. Desta forma, percebemos um ciclo vicioso vendido pelo capitalismo que direciona a vida para um só rumo: trabalhar para consumir — mesmo sabendo que é impossível que toda sociedade um dia alcance o mesmo padrão de consumo de um país dito desenvolvido.
[1] FURTADO, C. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.
[2] ______________. Capitalismo e colapso ambiental. Editora Unicamp, 3° edição, 2018.
[3] NETWORK, Global Footprint. Ecological footprint atlas 2010. Retrieved May, v. 25, p. 2014, 2010. Disponível em: <http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.660.8339&rep=rep1&type=pdf> Acesso em:
[4] GARDNER, Gary; ASSADOURIAN, Erik; SARIN, Radhika. O Estado do Consumo Hoje. In: Estado do Mundo 2004. Disponível em: <http://web-resol.org/textos/O%20estado%20de%20consumo%20hoje.pdf> Acesso em: 27 mai. 2019
[5] GUSMÃO, Ronaldo. O insustentável consumo norte-americano. Disponível em: <http://www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/11> Acesso em: 27 mai. 2019.
1 Graduando Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
2 Graduando Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Bolsista de Iniciação Científica (2019-2020) pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB).
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/09/2019
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