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Design e sustentabilidade, artigo de Roberto Naime

 

Um carretel de fio elétrico reutilizado como mesa de centro
Um carretel de fio elétrico reutilizado como mesa de centro em uma feira de decoração do Rio de Janeiro . A reutilização de materiais é uma prática sustentável que está crescendo rapidamente entre os designers no Brasil . Foto: Wikipedia

 

Design e sustentabilidade

[EcoDebate] Luciana Della Méa e Luiza Grazziotin Selau realizam relevante abordagem sobre sustentabilidade e design. Os parâmetros de sustentabilidade tem sido cada vez mais discutidos, em nível geral e em contextos específicos.

O atual sistema de produção se caracteriza por um ritmo acelerado, que se utiliza de recursos naturais renováveis e não-renováveis.

CARDOSO (2008) argumenta que o dilema do designer no contexto atual é conciliar as questões ambientais com o modelo econômico. Não se pretende, e nem é possível, cessar a produção e consumo.

A autopoiese sistêmica dominante necessita ser alterada. Pois hoje só o consumismo garante a manutenção dos círculos virtuosos da sociedade.

Aumento de consumo gera maiores tributos, maior capacidade de intervenção estatal, maior lucratividade organizacional e manutenção das taxas de geração de ocupação e renda. O consumismo precisa ser substituído pela ideia de satisfazer as necessidades dentro de ciclos.

Mas se busca mudar o ritmo em que ocorre, pois a longo prazo, é insustentável.

Neste contexto, VEZZOLI (2010) argumenta que o design é uma parte do problema. Mas pode vir a se tornar um agente promotor da sustentabilidade ao buscar novas alternativas de projeto.

Um outro mundo é possível, mesmo dentro da livre iniciativa. Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoiese sistêmica para o arranjo social, é urgente.

Dentre essas alternativas, a abordagem de ecodesign apresenta-se como uma ferramenta valiosa, uma vez que busca minimizar os impactos ambientais ao longo de todo o ciclo de vida do produto, desde sua concepção até seu descarte.

O termo, de acordo com MANZINI e VEZZOLI (2002) caracteriza-se pela composição dos termos ecologia e design, ou seja, um modelo orientado por requisitos ecológicos.

Por isso se sabe que leis e normas não vão resolver os problemas, embora sejam relevantes. A civilização humana determinará nova autopoiese sistêmica, na acepção de Niklas Luhmann e Ulrich Beck, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio.

Que é um sistema instável, muito frágil e vulnerável. Para sua própria sobrevivência, o “sistema” vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.

Design, em sua acepção mais abrangente, se caracteriza por ser uma atividade projetual que visa à concepção de artefatos (MANZINI E VEZZOLI, 2002).

Neste processo de concepção, e em seu ciclo de vida, os artefatos geram impactos no meio ambiente, sendo que é responsabilidade do designer orientar esse processo por critérios ecológicos.

Tendo em vista o papel do designer nessa mudança de cenário, é importante que, desde a sua formação, o profissional seja preparado para lidar com as questões ambientais ao longo do projeto.

A sustentabilidade teve suas primeiras manifestações no âmbito da preservação ambiental nos anos 1960. Posteriormente evoluiu. O design se inseriu no desafio devido ao “seu papel de protagonista dentro da trilogia ambiente, produção e consumo” (DE MORAES, 2010).

A importância de estudar as questões da sustentabilidade se deve ao fato de que é clara a situação de degradação na qual o planeta se encontra.

É necessário que as pessoas em processo de formação de conhecimento e opinião compreendam as condições atuais, de impactos.

MANZINI e VEZZOLI (2002) afirmam que é possível conceber produtos mais sustentáveis, utilizando-se tecnologias limpas, reduzindo-se recursos e energia utilizados na produção, dentre alternativas que se caracterizam como novo campo de pesquisa do design.

Dentre as abordagens sustentáveis possíveis, o ecodesign ou design do ciclo de vida, apresenta-se como uma alternativa em bom nível de consolidação, mas em nível discreto de incorporação na prática profissional, conforme sugere VEZZOLI (2010).

O ecodesign concebe de forma sistêmica a redução de impactos ambientais durante todas as etapas do ciclo de vida do produto.

Esta necessidade de novos caminhos no âmbito projetual, aponta a responsabilidade do designer em conceber artefatos utilizando materiais e processos de baixo impacto ambiental. Considerando o ciclo de vida inteiro do produto e atuando de forma orientada para a sustentabilidade ambiental.

O ciclo de vida compreende as etapas de pré- produção, produção, distribuição, uso e descarte, acarretando impactos (KAZAZIAN, 2005).

A abordagem de ecodesign propõe a minimização destes, através da redução do consumo de recursos, de energia utilizada nos processos, na maior durabilidade dos produtos, entre outros fatores relacionados a cada uma das fases do ciclo de vida.

CARDOSO (2008) aponta o profissional de design como o agente capaz de projetar com uso mais eficiente dos recursos, maximizando o aproveitamento dos materiais consumidos.

Se os resíduos descartados são uma das ameaças ao meio ambiente, a reciclagem e o reaproveitamento aparecem como alternativas de design sustentável.

O projetista deve pensar no tempo de vida do objeto, desde sua concepção, reduzindo matéria-prima e energia, até o descarte. Também precisa considerar a durabilidade do produto e sua posterior reutilização e reciclagem.

O design orientado para a sustentabilidade é um novo campo de pesquisa na área, no qual se buscam novas alternativas de produtos e processos, que minimizem os impactos ambientais decorrentes do sistema de produção e consumo vigente.

A abordagem de ecodesign é uma estratégia importante, pois considera o ciclo de vida dos produtos, o que compreende uma visão sistêmica e integrada.

O designer deve atuar no desenvolvimento de projetos considerando estes fatores. MANZINI e VEZZOLI (2002) argumentam que o desenvolvimento de produtos sustentáveis requer uma nova capacidade de projetar, para que se encontrem soluções promissoras que despertem desejo do consumidor.

Para tanto, é importante que essa cultura sustentável no desenvolvimento de projetos ocorra desde a vida acadêmica, na formação do profissional.

O ensino de design basicamente mistura teoria e prática desde as primeiras escolas de ensino superior de design na Alemanha que serviram de base e inspiração para as que surgiram no Brasil.

É necessário que os profissionais responsáveis pela colocação de produtos no mercado tenham conhecimento sobre sustentabilidade, considerando, em seus projetos, materiais de menor impacto ambiental, utilização de processos industriais menos agressivos e desenvolvimento de produtos ecologicamente aceitáveis.

O design não é solução para tudo, mas é uma ferramenta fundamental para um novo arranjo de equilíbrio civilizatório.

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

Referências:

CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. 3. ed. São Paulo: E. Blucher, 2008. 273 p.

DE MORAES, Dijon. Metaprojeto: o design do design. São Paulo: Blucher, 2010.

KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: SENAC São Paulo, 2005. 194 p

MANZINI, Ezio. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. 103 p

MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2002. 366 p.

PAPANEK, Victor. Design for the Real World: Human Ecology and Social Change. United Kingdom: Thames & Hudson, 2006. 394 p.

VEZZOLI, Carlo. Design de sistemas para a sustentabilidade: teoria, métodos e ferramentas para o design sustentável de “sistemas de satisfação”. Salvador: EDUFBA, 2010. 343 p

http://www.autossustentavel.com/2015/04/design-orientado-para-sustentabilidade.html#ixzz3sKoH8fyy

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/05/2019

[cite]

 

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