Prato feito na guerra das redes sociais, artigo de Montserrat Martins
A guerra das redes sociais pressiona a “escolher um lado” e isso significa aderir ao “prato feito” do momento, onde você tem de consumir o que está posto, ou A ou B
[Ecodebate] Dá pra trocar o feijão por ovo? Uma alternativa importante num prato feito é poder fazer alguma troca de itens. Quando você está numa cidade desconhecida, ou num lugar não planejado, diferente de sua rotina, pode se defrontar com uma situação destas, ter de escolher dentre “o que tem pra hoje”.
Nas redes sociais também há “pratos feitos”, os mais comuns são os da direita e os da esquerda. Num cardápio vem descriminalização das drogas e do aborto, culpar o o imperialismo ianque pela Venezuela, protestar contra os abusos policiais, contra as injustiças sociais e contra os preconceitos de gênero e etnia, entre outros – e criticar a Globo e o “sistema político”.
Noutro cardápio vem a crítica às drogas e ao aborto, culpar o chavismo pela Venezuela, defender os policiais em sua luta contra o crime, em que bandido tem de ser tratado como bandido, e criticar o uso político de questões de gênero e etnia, entre outros – e criticar a Globo e o “sistema político”.
O único item de consenso entre os dois cardápios, portanto, é criticar a Globo e o “sistema político”, são o “feijão com arroz” do prato feito que comemos todos os dias nas redes sociais. No mais, você tem de optar entre um prato feito ou outro.
E se a pessoa gostar de alguns itens do cardápio mas não de todos? Tem como trocar o feijão pelo ovo? Num caso hipotético, digamos que uma pessoa seja a favor de mais polícia nas ruas, mas também seja a favor da descriminalização do aborto, ela vai ter apoio de quem para essas opiniões? Vai ser considerada “de direita” por uma opinião e “de esquerda” por outra?
Das celebridades brasileiras (atores, cantores, desportistas) que vivem no exterior, a maioria prefere os Estados Unidos e muitos deles são a favor de descriminalização das drogas (que curiosamente, foi derrotada num plebiscito na Califórnia, tido como o lugar mais liberal do mundo). Bom, se você for celebridade não precisa seguir moda, pode lançar moda, como o hibridismo.
Para os cidadãos comuns, a guerra das redes sociais pressiona a “escolher um lado” e isso significa aderir ao “prato feito” do momento, onde você tem de consumir o que está posto, ou A ou B. Não aderir significa ser tachado de “em cima do muro”, de “conivente” com o “outro lado”, de ingênuo, de mal informado, ou então, a cada opinião, ser enquadrado como “direitista” ou “comunista”, alternadamente, de acordo com o assunto.
“A sutil arte de ligar o f*da-se” foi o livro mais vendido do ano talvez por isso mesmo, pelas pressões que as pessoas recebem das outras para aderir aos pacotes prontos. Outra posição possível é ironizar os dois lados, como vi alguém postar no face: “A esquerda diz que o Presidente é ditador, a direita diz que é necessário um líder autoritário, mas eu acho que ele não manda nem nos filhos”. Só o riso liberta.
Montserrat Martins, Colunista do EcoDebate, é Psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/04/2019
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Por isso que quando me pergunto de que lado sou, respondo “Centro”.
A maconha foi legalizada na Califórina há 2 anos. Desde o dia 1º de Janeiro de 2018 ela é completamente legal, e quem foi preso apenas por posse de maconha foi solto. Além disso, fazia mais de 20 anos que a maconha medicinal era legal por lá.