Quem são Chico Mendes, Paulo Freire e Cristo? artigo de Syglea Rejane Magalhães Lopes
Quem são Chico Mendes, Paulo Freire e Cristo?
Syglea Rejane Magalhães Lopes
Profa. Universidade Estadual do Pará
O seringueiro Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, ícone da militância na Região Amazônica em foto tirada no dia 10/06/1988, em Xapuri (AC). Foto: Fernando Marques/AE
[EcoDebate] A temática a ser abordada é agroambiental, originou-se a partir de uma leitura de jornal, cujo título era “Que diferença faz quem é Chico Mendes?, diz Ricardo Salles no Roda Viva” Disponível em: <https://exame.abril.com.br/brasil/que-diferenca-faz-quem-e-chico-mendes-diz-ricardo-salles-no-roda-viva/)> Acesso: 12 de fevereiro de 2019). Busca-se, portanto não abordar quem é, mas talvez, quem não é.
Quem é Quem?
Quem é Salles? De onde veio? Mora em qual parte do globo? Eu não sei quem ele é. Mas conheço Chico Mendes, sim, ele faz parte da nossa história, assim como as comunidades extrativistas, os povos indígenas e as comunidades quilombolas. E, se hoje temos áreas protegidas com fiscais eficientes, isso se deve a ele, no que se refere as reservas extrativistas.
Aliança dos Povos da Floresta
Foi Chico quem iniciou junto com os extrativistas do Acre a luta contra a exploração que sofriam por parte dos donos dos seringais, de forma inteligente perceberam a conexão entre os empates contra o desmatamento dos seringais e a luta dos ambientalistas. Em razão disso, emergiu no Acre, no final da década de 80, uma aliança para a defesa da floresta e de seus habitantes, denominada Aliança dos Povos da Floresta, que ganhou repercussão internacional.
A Educação como Diferencial
Assim, vislumbra-se, um homem com grande diferencial, sua inteligência, porquanto embora trabalhador rural, teve a oportunidade de estudar e, desconfio que por meio do método de Paulo Freire, pois aprendeu a ler o mundo, do opressor e do oprimido. E mais, soube exercer como ninguém a articulação política, cuja repercussão foi internacional. Por isso eu não sei de onde é esse senhor que não conhece Chico, pois se não conhece Chico, também não deve conhecer Paulo Freire. Tenho dúvidas se conhece o Cristo, afinal de contas, já faz muito tempo.
Legado de Chico para Todos
Dada a importância de Chico ele precisou ser calado, prática muito comum no Brasil (https://www.cptnacional.org.br/publicacoes-2/destaque/4319-assassinatos-no-campo-batem-novo-recorde-e-atingem-maior-numero-desde-2003). Porém, o legado de Chico está reconhecido em toda a parte, até pelos países desenvolvidos dos quais tanto tentam se aproximar, lá eles também conhecem nosso Chico.
E seu legado pode ser usufruído por todos até pelos que os combatem, isso é bom, direito humano precisa de fato ser garantido a todos, até a quem supostamente não o mereça.
Verdadeiros Fiscais
Assim, temos hoje as inúmeras reservas extrativistas pelo Brasil a fora, onde moram nossos verdadeiros fiscais do ambiente. Estes sim, atentos o tempo todo, embora lhes faltem instrumentos da política agrária para auxiliar nesse processo, aqueles instrumentos ofertados ao agronegócio, que coloca nosso Produto Interno Bruto (PIB) lá no alto, como a mineração da Samarco e da Vale.
Urgência em Desmontar o Licenciamento Ambiental
Por fim, eu não sei o que é pior “desconhecer” Chico ou defender o desmonte do único instrumento capaz de impor limite as atividades econômicas. Negam sua utilidade e fingem não enxergar sua aplicação ineficiente, com baixo número de técnicos nos órgãos ambientais, orçamentos reduzidos e, forte pressão política. Exemplos não nos faltam, os mundialmente conhecidos, não sei se para todos, afinal pode ser que desconheçam também, foram as mineradoras Samarco e Vale, respectivamente.
Ambos os episódios em nenhum momento apontam problemas no instrumento licenciamento ambiental, mas na (in)aplicação do referido instrumento, pois regra geral desobedecem aos procedimentos necessários, ou quando esses são realizados posteriormente as empresas os ignoram, por ter certeza, ou de que não serão fiscalizadas, ou que mesmo sendo fiscalizadas e multadas haverá sempre formas de amenizar as punições, ou que as punições mesmo diante de danos irreparáveis, compensam. Nesse caso, consideram que será sempre melhor pagar e continuar a desrespeitar as normas ambientais do que tomar as medidas preventivas necessárias. Chama-se teoria do (des)incentivo ao cumprimento das normas.
Bem de Uso Comum do Povo
Por fim, pouco importa se conhecem ou não Chico Mendes, assim como pouco importa se fingem não ver a falta de implementação do licenciamento ambiental, o que importa é que enquanto sociedade estaremos sempre em alerta, acompanhando cada passo, por tratar-se de bem de uso comum – o meio ambiente ecologicamente equilibrado -, que pertence a todos, sujeito indeterminado e sua proteção queira ou não pertence ao Poder Público e a coletividade, aí está a diferença, Chico fez a sua parte e você?
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/02/2019
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