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Artigo

A Índia com fecundidade abaixo do nível de reposição, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

taxa de fecundidade total da Índia, por estados

 

[EcoDebate] A Índia deve se tornar o país mais populoso do mundo a partir de 2024, quando deve ultrapassar o volume populacional da China. Isto acontece porque o ritmo de queda da taxa de fecundidade total (TFT) indiana foi mais lento do que o ritmo da transição da fecundidade chinesa e mais lento do que a média da Ásia.

Mas, internamente, a transição da fecundidade se deu de forma diferenciada, como mostra o mapa acima, que indica que todo o centro-sul do país já tem fecundidade abaixo do nível de reposição e as maiores taxas se encontram no norte, especialmente em Uttar Pradesh com IDH de 0,583, enquanto o da Índia foi de 0,639 em 2017. Os dois estados do norte da Índia com menor fecundidade são exatamente aqueles com maior Índice de Desenvolvimento Humano, que são Punjab (IDH = 0,721) e Skkim (IDH = 0,716). Recentemente, o estado de Skkim recebeu um prêmio da ONU por se tornar um local 100% orgânico.

A população da Índia era de 376,3 milhões de habitantes, em 1950, atingiu 1 bilhão de habitantes em 1998. Em 2018, a Índia tinha 1,34 bilhão da Índia, devendo atingir o pico populacional em 2061, com um volume de 1,68 bilhão de habitantes. A estimativa da Divisão de População da ONU, na projeção média, para 2100 é de 1,52 bilhão de pessoas. Mas se não houver queda da fecundidade a população da Índia pode chegar a 2,4 bilhões de habitantes em 2100 e, se a fecundidade cair mais rápido, a população indiana pode ficar abaixo de 1 bilhão de habitantes no final do século, conforme mostra o gráfico abaixo.

 

taxa de fecundidade total e cenários de projeção da população de Índia

 

Considerando, os diferenciais de fecundidade por religião, nota-se que a média de filhos já estava abaixo do nível de reposição (2015-16) para as religiões Cristã, Sikh, Budista e Jain (Jainismo). Entre os Hindus (que são a grande maioria da população) a taxa de fecundidade de 2,13 filhos por mulher, muito próximo do nível de reposição. O maior nível da fecundidade é encontrado entre a população muçulmana (mas mesmo entre os muçulmanos a queda foi de 3,4 filhos em 2005-06 para 2,61 em 2015-16).

 

taxa de fecundidade total da Índia, por religião

 

O gráfico abaixo mostra que existe uma clara relação inversa entre o aumento da renda e a redução da fecundidade. As pessoas e as regiões mais ricas já possuem taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição. Desta forma, o alto crescimento da economia e a mobilizada social ascendente deve contribuir para a redução ainda maior da fecundidade.

 

correlação entre renda per capita e taxa de fecundidade total: Índia

 

Outra correlação comprovada é entre o empoderamento das mulheres e a baixa fecundidade. A Índia é um país que discrimina muito as mulheres no mercado de trabalho e na sociedade. Mas a luta pela equidade de gênero avança. Por exemplo, no dia 1º de janeiro de 2019, cerca de 5 milhões de mulheres formaram um muro de 620 quilômetros em toda a extensão do estado indiano de Kerala (população de 35 milhões). Não era como o muro de Donald Trump e sim um muro contra tradições cujo propósito é humilhar. A razão imediata para a muralha das mulheres foi a luta pela entrada delas no templo de Sabrimala, ao sul de Kerala. Em 28 de setembro de 2018, a Suprema Corte da Índia determinou que elas podem entrar no templo, já que a proibição seletiva das mulheres não era uma “parte essencial” do hinduísmo, mas sim uma forma de “patriarcado religioso”.

O patriarcado representa o poder do “patrão, padre, pai e marido” para restringir a autonomia das mulheres e restringir os direitos sexuais e reprodutivos. A maior equidade de gênero é fundamental para a transição da fecundidade.

Quanto mais rápido a TFT da Índia atingir níveis abaixo da reposição, mais rápido, no futuro, haverá um decrescimento da população. A redução do volume populacional é fundamental para se avançar na qualidade de vida humana e também ambiental.

A Índia é um país com imensos problemas ecológicos e a redução da população pode ajudar a equacionar as questões de sustentabilidade ambiental.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

Referência:
Rema Nagarajan. Fertility rate below replacement level for all but Hindus & Muslins. Times of India, 12/01/2018
http://timesofindia.indiatimes.com/articleshow/62465588.cms?utm_source=contentofinterest&utm_medium=text&utm_campaign=cppst

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 04/02/2019

[cite]

 

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