Plantas exóticas invasoras, artigo de Roberto Naime
Plantas exóticas invasoras, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Reduzindo a cobertura vegetal do planeta e poluindo rios e mares, os seres humanos já determinaram a extinção de milhares de espécies e atualmente se calcula que mais de 40% da superfície terrestre do planeta já esteja alterada em decorrência das ações antrópicas.
Se estima que a velocidade com que as espécies estão se extinguindo atualmente é de 100 a 1.000 vezes maior do que seria se a espécie humana não agisse de modo tão impactante.
A maioria das pessoas compreende que o desmatamento e a poluição geram graves impactos ambientais. Mas existe outra ameaça aos ecossistemas, menos óbvia que é a introdução de espécies exóticas e invasoras.
Espécies exóticas são organismos que podem ser plantas, animais ou fungos que são introduzidos pelo homem em uma região onde antes eles não ocorriam.
E na nova paisagem, passam a se reproduzir e se espalham sem controle, causando impactos sobre as espécies nativas. Animais como ratos, coelhos e cabras introduzidos em ilhas já causaram prejuízos incalculáveis aos ecossistemas nativos, levando à extinção de várias espécies de aves.
Mas não são apenas animais exóticos que geram problemas. Plantas exóticas, também, podem causar impactos. Os danos ambientais gerados por algumas espécies invasoras são graves e podem resultar na alteração radical de ecossistemas e na redução da biodiversidade nativa, como é o caso dos impactos gerados pelos pinheiros no cerrado, pelas jaqueiras na mata atlântica e pelas algarobeiras na caatinga.
Muitas pessoas não estão cientes dos riscos que essas plantas levam aos ecossistemas naturais e, na condição de apreciadoras de plantas ornamentais e sem ciência dos impactos gerados pelas plantas invasoras, acabam disseminando pelo uso ornamental plantas que geram problemas ambientais.
Antes de se permitir que uma espécie exótica seja introduzida em uma nova área, é preciso que equipes técnicas qualificadas de cada país avaliem cuidadosamente se esta espécie poderá se tornar invasora.
Caso a espécie tenha potencial de se reproduzir sem controle e de competir com as espécies nativas, a introdução da espécie deve ser proibida.
Mas nem sempre é o que acontece, e de tempos em tempos, uma nova planta exótica, potencialmente perigosa, é colocada no mercado de mudas como uma novidade e é amplamente disseminada. Um bom exemplo é o “nim indiano”, que tem sido cultivado na arborização e paisagismo de várias cidades do nordeste.
Não apenas no Ceará o “nim”, é muito comum, e infelizmente mais e mais mudas continuam sendo distribuídas. O problema é que esta árvore está se reproduzindo e está começando a se espalhar em áreas com vegetação nativa.
Se esta planta vier a se estabelecer como invasora, certamente vai competir por espaço com as árvores nativas e será mais uma fonte de impactos para a já tão ameaçada flora da região nordeste.
Outro exemplo é a chamada “trepadeira viuvinha”, trazida da África como ornamental e atualmente ocupa os carnaubais do Ceará, crescendo descontroladamente sobre esta árvore.
Um efeito colateral da disseminação indiscriminada de plantas exóticas e da desvalorização da flora nativa é que hoje qualquer pessoa sabe reconhecer um indivíduo de “nim”, mas poucos sabem o que é um juazeiro, oiticica, pau-branco, angico, trapiá e tantas outras plantas nativas dos nossos ecossistemas
Isto é uma incoerência, considerando que o Brasil é reconhecido como o país com mais espécies de plantas nativas do mundo. As plantas nativas dos nossos ecossistemas deveriam ser conhecidas, valorizadas e disseminadas por meio da arborização e do paisagismo.
Devido ao desconhecimento dos gestores públicos e prefeituras, todos acabam apoiando e incentivando a disseminação de mais espécies invasoras recém-chegadas, ao mesmo tempo em que não contribuem para a disseminação da flora regional.
E a falta de plantas nativas nas cidades representa, além de irreparável perda natural, uma perda cultural, também. O juazeiro, o mandacaru, a carnaúba, tão cantados em versos e prosas e presentes nos ecossistemas naturais de região nordeste, raramente podem ser vistos na nossa arborização.
Uma criança que nasce hoje em uma cidade brasileira, dificilmente, tem ou terá a oportunidade de reconhecer o que é um pé de cajá, caju, jenipapo, chichá, oiticica, espécies que deveriam ser cultivadas e disseminadas através da produção e plantio de mudas.
Não é um esforço tão grande assim e nem depende de vultuoso recursos alterar este cenário de forma satisfatória.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
Referência:
Marcelo Freire Moro “Reflexão ambiental – Nem tudo são flores: problemas gerados pelas plantas exóticas invasoras no Brasil”
http://www.oestadoce.com.br/noticia/reflexao-ambiental-nem-tudo-sao-flores-problemas-gerados-pelas-plantas-exoticas-invasoras-no
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/01/2019
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