Médicos e Professores, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] O Professor Pedro Oliveira sofreu ao revisar o meu livro “Em busca da Alma do Brasil”, pois a minha proposta era de um “livro falado”, de escrever como as pessoas falam, sem formalismos acadêmicos. O plural correto de “barzinho”, por exemplo, é “barezinhos” e não “barzinhos”, como se diz. O Professor Pedro foi suportando as escolhas do autor, até que um dia desabafou: “Está certo que seja um livro escrito em linguagem falada, mas precisa falar errado?”.
Lembrei dele, agora, com a indicação do novo Ministro da Educação. Falar em indicações políticas é questão delicada, ainda mais nesse momento. Vamos com calma, então. Críticos são pessoas que comentam o que você não disse, já observou o Mário Quintana. Ao comentar algo, deveríamos primeiro entender as intenções de quem produziu aquele conteúdo. Não dá para avaliar as decisões do Bolsonaro a partir das propostas do Haddad, ao verificar a coerência com o que foi proposto.
O discurso vencedor é repleto de apelos ao patriotismo e de críticas a interferências ideológicas. No caso do Mais Médicos, é coerente com essa lógica a substituição dos médicos cubanos por médicos brasileiros, como já está acontecendo. No caso do Ministro da Educação, colombiano de nascimento e naturalizado brasileiro, qual é a lógica? Não havia um Professor natural do país, para um posto de tão elevado significado simbólico?
Ricardo Vélez Rodríguez, nascido em 1943 em Bogotá, em 63 se graduou em Filosofia e em 67 em Teologia em Bogotá. Mudou-se para o Brasil em 1979 (aos 36 anos de idade) e desde 1981 é professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Londrina e em 1982 se tornou Doutor em Filosofia pela Universidade Gama Filho, onde a partir de 1983 vinculou-se a programas de Pós-Graduação e passou a orientar inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutorado. Está no Brasil há 39 anos, cerca da metade dos seus 75 anos de idade.
Será “xenofobia”, preconceito contra estrangeiros, estranhar a indicação de um Ministro natural da Colômbia? Eu, pessoalmente, não estranharia se um “doble chapa” (como se diz na fronteira) fosse Ministro da Indústria e Comércio, por exemplo, onde os negócios com a América Latina poderiam até ser favorecidos por sua história e vínculos pessoais. A dúvida é o que isso significa numa pasta com o simbolismo da Educação.
Voltando ao Professor Pedro, que sofre com o fato de que “falamos errado”, o que significa para os milhões de professores brasileiros serem liderados por um profissional com sotaque castelhano? E para os milhões de jovens brasileiros, ter como referência quem não vivenciou a infância e adolescência na nossa cultura? Não sei as respostas. Também não sei se os médicos cubanos vão deixar saudades, ou não.
Montserrat Martins, Colunista do EcoDebate, é Psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/12/2018
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