‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 6/6 (Final), artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] LÉTORNEAU (2014) considera o caso das previsões que se quereriam adequadas para preparar uma “adaptação” às mudanças climáticas.
Nesta situação, não basta consultar climatologistas, também serão necessários economistas, especialistas em relações internacionais e especialistas da comunicação, sem esquecer os “experts” em construção de edifícios ao abrigo dos acasos ambientais, em logística para facilitar o trabalho no caso de evacuação, incêndio ou deslizamento de terreno.
Estas questões estão nas mãos de um pequeno número de “experts”, o que põe toda uma série de dificuldades, que se menciona. Visto que essas pessoas não estão habituadas, nem são solicitadas de maneira habitual, a trabalhar juntas, os problemas de comunicação entre elas correm o risco de serem amplificados.
E como o político está ligado aos interesses econômicos, esse tipo de questão tem a tendência de ser tratado de maneira mínima, atribuindo-se um peso prevalente a certas “expertises” e colocando de lado abordagens econômicas mais marginais como a dos economistas ecológicos.
Está claro que a questão prática da “expertise” não será colocada da mesma maneira se adotarmos um quadro de governança de tipo intra-organizacional, com uma veleidade central de controle sobre os atores, ou se for concebida a governança como participação de uma rede de atores em que todos têm recursos e “expertise”.
LÉTORNEAU (2014) atesta que estas demandas de participação sobre questões complexas e que causam impacto no longo prazo são igualmente muito elevadas e exigem acesso a uma informação vasta e contextualizada.
Quando se trata das “expertises”, não se examina os fenômenos de fronteira entre os conhecimentos, seus pontos de contato e os vazios entre elas.
De fato, temos necessidade de desenvolver abordagens inter-expertise, que são transdisciplinares, dentro da multidisciplinariedade.
O que é uma “expertise” senão um tipo de disciplinariedade baseada na resolução de problemas práticos, que difere portanto, a esse respeito de uma disciplina no sentido acadêmico.
Daí decorre a conexão que permite articular a questão da inter-expertise com o tema da inter-profissionalização, visto que especialistas também são profissionais.
A concepção de governança ambiental é ampla e derivada. Não é pretensão cristalizar uma conceituação completa e inquestionável, até mesmo porque esta situação não existiria.
Governança transcende a assistencialismo social. Conceito transposto da área empresarial, neste contexto significa mediar de forma sistêmica, os interesses envolvidos de todas as partes interessadas.
Buscando a máxima satisfação possível com a conciliação das demandas emergentes. De forma sistêmica e permanente, sem espontaneísmos e improvisações.
Mediar e compatibilizar interesses legítimos e que transcendem caráter pessoal ou financista.
E que ampliem a conceituação de preservação ambiental e de empreendimentos, procurando satisfazer as demandas das populações locais atingidas.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
Nota da redação: Sugerimos que leia, também, a parte anterior desta série de artigos:
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 1/6
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 2/6
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 3/6
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 4/6
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 5/6
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LÉTOURNEAU, Alain, O problema da expertise e as questões da governança ambiental, Sci. stud. vol. 12 no. 3 São Paulo jul./set. 2014, http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662014000300007
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/11/2018
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