‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 5/6, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] LÉTORNEAU (2014) evidencia que estes debates que dizem respeito à água, à energia, à floresta, à pesca, aos ecossistemas, são, cada vez mais, complexos e difíceis de dominar.
Os recursos à expertise são disseminados tanto entre os gestores como junto ao grande público que são as pessoas que desejam manter-se atualizadas e, se possível, participar da discussão (LÉTOURNEAU, 2012).
Se um interesse pelas questões ambientais é algo importante para uma pessoa, esse cidadão se encontra facilmente nos dias de hoje encharcado e quase afogado no discurso especializado de todos os tipos, facilmente disponíveis sobretudo pela internet.
E visto que somos utilizadores da internet sempre também em busca de uma informação “confiável”, não se abandona as fontes reputadas e válidas de informação como o são as mídias bem estabelecidas, ou novas mídias que terão sabido angariar credibilidade.
O que não quer dizer que se limite a esse tipo de fonte. Será preciso também ir até as ONGs e às instituições reputadas que são conhecidas como boas fontes. A questão das fontes acessíveis da “expertise” se colocará para todos. Todas as “expertises” sérias representam um custo de tempo, energia e dinheiro.
É preciso um saber prático a esse respeito, sobretudo aquele que consiste em ver a utilidade, mas também os limites, das lentes utilizadas. As “expertises” são fatores de ocultação de certos problemas. Já dissemos que o “expert” corre o risco de perder de vista todas as outras questões que são igualmente importantes, dentro da visão holística da questão em foco.
A solução é convocar seleções de especialistas, tentando cobrir tudo numa abordagem multidisciplinar. Permanecendo com uma justaposição de saberes especializados, essa solução não será suficiente. Uma abordagem de pesquisa sobre o que se produz no mundo deveria incluir uma melhor consciência dos limites disciplinares por todos os parceiros.
Portanto, precisa ainda contar com uma forte interdisciplinaridade, o que demanda uma boa dose de interesse de pesquisa, motivação para fazê-lo e um conhecimento do que são as diferentes expertises em questão. (LÉTOURNEAU, 2008).
A questão da “expertise” nas sociedades democráticas já tinha sido posta em boa parte pelo debate entre Walter Lippmann e John Dewey. Lippmann tinha sublinhado os defeitos de nossa idealização do “público”, pedindo ao cidadão conhecer tudo a respeito de tudo, que é uma exigência impossível de cumprir.
A complexidade e a multiplicidade das questões de interesse nos dirigem forçosamente em direção ao recurso dos “experts”, que cada vez mais devem trabalhar em grupos e dar conselho aos governantes.
Admitindo que os especialistas são necessários, Dewey sublinha sobretudo que os públicos devem ser construídos a partir das questões e da discussão dos atores, não existem em si, mas permanecem possíveis e são exigidos pela democracia.
É possível uma educação para manter a expertise sob o fluxo da discussão democrática, mas é preciso desenvolver inicialmente uma concepção interativa e múltipla dos públicos que devem ser construídos (DEWEY, 2003 [1927], LIPPMAN, 2008 [1927]).
Monografias especializadas desenvolveram a reflexão específica sobre esse problema no domínio ambiental. Na prática, os saberes especializados sobre as questões ambientais vão se desdobrar em grandes tipos de lugares, os trabalhos práticos em torno de organismos públicos ou privados.
Tais como agências de bacias hídricas, ministérios, municipalidades ou empreendimentos privados e já para o grande público, isso se fará sobretudo nas mídias, rádio, televisão e jornais, incluindo, bem entendido, as novas mídias eletrônicas, os sítios das ONGs, os tweeters, as plataformas das grandes mídias em via de se renovar profundamente na web, com toda a integração dos documentos de texto, áudio e vídeo que se conhece.
Se assiste à eclosão de uma profusão de mídias especializadas, que se dirigem a públicos bem delimitados e cujos conteúdos não são retomados pelas mídias generalistas, por várias razões. Todos esses tipos de atores têm também necessidade de especialistas e fazem referência a eles.
Com efeito, as organizações que acabamos de mencionar também recorrem às mídias e nelas encontram igualmente um certo “esclarecimento”, tanto sobre os conteúdos que se tornam especializados quanto sobre o trabalho dos próprios especialistas, que são valorizados nos espaços da mídia.
LÉTORNEAU (2014) assevera que o recurso à “expertise” ocorre também na imprensa escrita e eletrônica, trate-se de problemas de mudança climática, de biodiversidade, de usos de energias renováveis ou não-renováveis.
A imprensa clássica é limitada no seu emprego dessas linguagens especializadas, pois ela se dá como tarefa atingir o público mais vasto possível.
Viver em sociedade democrática significa ter instâncias de representação decisórias em regime de separação de poderes, mas que permanecem em ligações estreitas com uma sociedade civil dada (HABERMAS, 1997 e NANZ, 200
A sociedade civil e seus membros singulares, terá necessidade da “expertise” para compreender do que se trata nos debates especializados. Por seu lado, nos limites e com variantes segundo os países, as instâncias de decisão e os gestores públicos devem permanecer em contato estreito com os debates sobre as questões de interesse comum, nem que seja por razões eleitoreiras.
Os discursos especializados possuem um limiar muito elevado de dificuldade, o que vai exigir do cidadão ou do agente singular uma boa dose de motivação, se ele ou ela deseja somente se interessar ativamente por certas questões de interesse público.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
Nota da redação: Sugerimos que leia, também, a parte anterior desta série de artigos:
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 1/6
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 2/6
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 3/6
‘Expertise’ e governança ambiental, Parte 4/6
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/11/2018
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