Ecocídio no Antropoceno: 60% dos animais silvestres foram extintos em 44 anos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Ecocídio no Antropoceno: 60% dos animais silvestres foram extintos em 44 anos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
“É triste pensar que a natureza fala e que a humanidade não a ouve”
Victor Hugo
O Relatório Planeta Vivo 2018 divulgado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), no final de outubro, mostra que o avanço da produção e consumo da humanidade tem provocado uma degradação generalizada dos ecossistemas globais e gerado um ecocídio da vida selvagem do planeta: as populações de vertebrados silvestres, como mamíferos, pássaros, peixes, répteis e anfíbios, sofreram uma redução de 60% entre 1970 e 2014.
O relatório da WWF é baseado no acompanhamento de mais de 16.700 populações de 4 mil espécies, utilizando câmeras, análise de pegadas, programas de investigação e ciências participativas. A perda de biodiversidade é inquestionável e indica que o monopólio humano não tem sido bom para a riqueza da vida na Terra.
Um dos indicadores mostrados no relatório é sobre o impacto crescente do lixo plástico nos oceanos e a interferência no modo de vida e sobrevida das diversas espécies, inclusive as aves marinhas. Na década de 1960, apenas 5% das aves tinham fragmentos de plástico no estômago. Hoje, o índice é de 90%. O desenvolvimento econômico tem gerado um holocausto biológico e uma maior morbidade da vida animal.
O mundo caminha para um colapso ambiental. A verdade é que a escassez ecológica está se generalizando. Não haverá petróleo suficiente para suprir as necessidades energéticas globais até o final deste século. A falta de água doce já representa uma grande crise em muitas partes do mundo. O ar e o solo estão mais poluídos do que nunca.
E, neste momento, mal se pode alimentar o planeta inteiro, mas a demanda global por alimentos deverá aumentar dramaticamente nos próximos anos. Se a humanidade continuar fazendo as coisas da maneira que tem feito pode-se esperar um futuro de insegurança alimentar, agitação civil, caos ambiental e guerras. O globo está à beira do colapso planetário total, mas como isso está acontecendo em câmera lenta, a maioria das pessoas não sente a necessidade de fazer algo a respeito.
O Brasil é o país que possui a maior biocapacidade global, mas que também tem, de maneira insana, provocado uma grande destruição dos ecossistemas e da sua riqueza natural. O relatório Planeta Vivo mostra que a floresta amazônica se reduz cada vez mais, do mesmo modo que o Cerrado, diante do avanço da agricultura e da pecuária. Por ano, uma área equivalente a 1,4 milhão de campos de futebol de área verde desaparecem do mapa por causa do desmatamento.
A ferro e fogo, ao longo da sua história, o Brasil destruiu 90% da Mata Atlântica. Somente de 1970 para cá, destruiu 20% da Amazônia e 50% do Cerrado. Este processo de desmatamento e destruição da vegetação natural pode atingir um ponto de não retorno, com consequências dramáticas sobre a população brasileira e mundial.
O relatório da WWF foi divulgado junto do resultado do segundo turno das eleições presidenciais do Brasil. Durante a campanha o presidente eleito, Jair Bolsonaro, propôs:
1) Seguir os passos de Donald Trump e retirar o Brasil do Acordo de Paris;
2) Fim da demarcação das terras indígenas;
3) Fim das multas por desmatamento;
4) Apoio ao agronegócio e ao desmatamento do Cerrado e da Amazônia;
5) Fim do Ministério do Meio Ambiente e criação de uma secretaria do Meio Ambiente subordinada ao Ministério da Agricultura;
6) Liberação da caça de animais selvagens, etc.
Se estas propostas forem colocadas em prática, o meio ambiente pode ser a maior vítima das políticas do próximo governo, agravando o quadro de colapso global. Um retrocesso nacional, neste momento, pode cimentar o caminho para uma destruição universal irreversível.
O ecocídio é o caminho mais curto para o suicídio civilizacional. O Brasil deveria ouvir o alerta trazido pelo relatório Planeta Vivo 2018 e cuidar do meio ambiente e das espécies vivas do território nacional. Caso contrário não haverá futuro nem para o Brasil e nem para o mundo, pois sem ECOlogia não há ECOnomia.
A aniquilação biológica e a defaunação são crimes caracterizados como especismo e refletem a falta de ética do ser humano em relação aos demais seres vivos do Planeta. Porém, na continuidade das tendências atuais, a perda de biodiversidade pode provocar, no longo prazo, a extinção da própria humanidade.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Referências:
WWF. Planeta Vivo 2018
https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/relatorio_planeta_vivo_2018/
WWF. Living Planet Report 2018: Aiming higher
https://c402277.ssl.cf1.rackcdn.com/publications/1187/files/original/LPR2018_Full_Report_Spreads.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/11/201
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