Resenha Crítica aos Sistemas de Gestão e Gerenciamento de Resíduos, por Ariadne Cordeiro
RESENHA CRÍTICA AOS SISTEMAS DE GESTÃO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
Por Ariadne Cordeiro
Resenha crítica apresentada na disciplina de Gestão e Gerenciamento de Resíduos na Agroindústria, do Programa em Sistemas Ambientais Sustentáveis, da Universidade do Vale do Taquari – Univates, para complementação da avaliação do semestre.
Profs.: Dr. Alexandre André Feil e Dr. Odorico Konrad
Lajeado, setembro de 2018
Juntamente com os processos de urbanização e industrialização acelerados, o consumo de alimentos, vestuário, medicamentos, eletrônicos, materiais para construções e edificações, entre outros tantos produtos, cresceu consideravelmente em um curto espaço de tempo. Esse processo de aumento do consumo tem como resultado uma imensa geração de resíduos. Dessa forma, a muito tempo já se percebeu que é imprescindível a existência de sistemas responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos gerados nos mais diversos processos.
Os maiores problemas podem ser encontrados no meio industrial, pois como a sua produção costuma ocorrer em grande escala, a quantidade de resíduo gerado será grande. Devido a esta produção em massa, qualquer contaminação e acidente que envolva o meio-ambiente podem vir a ser catastróficos. Dessa forma, em muitos casos as indústrias são apontadas como responsáveis por crimes ambientais (FREIRE et al., 2000, apud SAIDELLES et al., p. 905, 2012).
Realidade dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil
Os números referentes à geração de RSU revelam um total anual de 78,4 milhões de toneladas no país, o que demonstra uma retomada no aumento em cerca de 1% em relação a 2016. Diariamente, gera-se um total de 214.868 toneladas diárias de RSU no país. Cerca de 42,3 milhões de toneladas de RSU, ou 59,1% do coletado, são dispostos em aterros sanitários. O restante, que corresponde a 40,9% dos resíduos coletados, foi despejado em locais inadequados por 3.352 municípios brasileiros, totalizando mais 29 milhões de toneladas de resíduos em lixões ou aterros controlados, que não possuem o conjunto de sistemas e medidas necessários para proteção do meio ambiente contra danos e degradações, com danos diretos à saúde de milhões de pessoas.
Com números tão alarmantes como os acima citados, torna-se nítida a necessidade de reduzir a quantidade de resíduos produzidos e reaproveitá-los ao máximo, para que apenas o verdadeiro rejeito seja destinado a aterros sanitários.
Relação com a Natureza
Os resíduos gerados em diversos processos podem ter um alto teor contaminante, graças a produtos tóxicos presentes e que são prejudiciais aos seres vivos, podem também possuir um índice elevado de matéria orgânica concentrada, o que pode vir a resultar na intoxicação dos seres vivos e em muitos casos até mesmo ocasionar a degradação dos solos e contaminação das águas.
Quesito Econômico
Ser sustentável parece uma tarefa fácil. Teoricamente apenas seria necessário aplicar o conceito do Triple Bottom Line, que diz que os âmbitos ambiental, econômico e social devam permanecer em equilíbrio. Porém, sabe-se que não é bem isso que ocorre na prática. Sabemos que as três áreas são muito importantes para o desenvolvimento, no entanto nunca ocorrerá um equilíbrio das três num mesmo momento.
Sem sombra de dúvidas o ambiente e a sociedade são extremamente importantes para o desenvolvimento das indústrias, porém se a economia não estiver em boas condições a mesma não terá condições de financiar as outras duas áreas: ambiental e social.
Sendo então o fator econômico tão importante, é preciso considerá-lo quando se fala em adotar medidas para o gerenciamento de resíduos. As formas como irão ser destinados os resíduos podem até mesmo vir a ser uma fonte de receita, gerando um valor econômico agregado para seus produtos, que gerarão lucros e não mais despesas para as empresas, como ocorre em muitas situações onde é necessário pagar para que o resíduo seja removido e destinado.
Iniciativas para Incentivo da Destinação Adequada dos Resíduos
Para que se possa iniciar o processo de destinação correta dos resíduos é importante que existam iniciativas legais como forma de incentivar as pessoas a praticá-la. Já existem algumas Leis como o IPTU Verde por exemplo, onde os munícipes que passarem a adotar medidas sustentáveis em seus imóveis receberão em troca descontos no pagamento de seu IPTU.
Existem também Leis de Incentivos Tributários para empresas que realizem corretamente o processo de reciclagem dos resíduos sólidos. Estes incentivos ocorrem na forma de isenção de tributos em mercadorias e produtos ou na redução dos valores a serem recolhidos pela empresa.
Formas Alternativas de Gerenciamentos de Resíduos
A pergunta que ganha destaque neste cenário é: Se os resíduos são um problema, por que não encontrar meios eficazes de eliminá-los?
Com o desenvolvimento de novas tecnologias, tornou-se possível realizar o gerenciamento e destinação adequados dos resíduos gerados. Muitas empresas e indústrias já contam com processos para o tratamento e reaproveitamento dos resíduos.
Muitas são as formas de manejo que podem ser aplicadas para a transformação do resíduo em um produto secundário. Existem muitos estudos em andamento nesta área e são diversas as alternativas propostas para o tratamento dos resíduos. Algumas delas são: a utilização de cinzas da casca de arroz para a obtenção alternativa de sílica, resíduos gerados na produção de suco de laranja utilizados no processo de extração de óleos essenciais para as indústrias farmacêuticas e de cosméticos, utilização da fécula de mandioca na produção de argamassas utilizadas na construção civil, transformação de resíduos produzidos nas indústrias alimentícias em rações animais, destinação dos resíduos gerados nas criações de animais para biodigestores geradores de energia e biogás, e também incorporados no processo de compostagem para criação de biofertilizantes, entre outras muitas alternativas.
Em contrapartida, estão os altos custos para implementar estes processos nas indústrias e agroindústrias. Na maioria dos casos os processos e seus maquinários precisam passar por adequações, ou então necessita-se de espaços mais amplos para alocação, o que pode ter custos elevados, sendo pouco viável a curto prazo e em certas situações também a longo prazo.
Ariadne Cordeiro, mestranda no Programa de Sistemas Ambientais Sustentáveis pela Universidade do Vale do Taquari – Univates e graduada no curso de Ciências Biológicas pela Universidade de Passo Fundo – UPF
Bibliografia
ABRELPE, Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2017. Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, São Paulo, 73 p., 2017. Disponível em: <https://belasites.com.br/clientes/abrelpe/site/wp-content/uploads/2018/09/SITE_grappa_panoramaAbrelpe_ago_v4.pdf>. Acesso 25 de Setembro, 2018.
BRASIL, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2 ago. 2010. Disponível em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636> Acesso em: 25 de setembro, 2018.
FREIRE, R. S.; PELEGRINI, R.; KUBOTA, L. T.; DURAN, N.; PERALTA-ZAMORA, P. Novas tendências para o tratamento de resíduos industriais contendo espécies organocloradas. Química Nova, v. 23, n. 4, p. 504-511, 2000.
SAIDELLES, A. P. F.; SENNA, A. J. T.; KIRCHNER, R.; BITENCOURT, G. Gestão de Resíduos Sólidos na Indústria de Beneficiamento de Arroz. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. REGET/UFSM, v. 5, n. 5, p. 904-916, 2012.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/10/2018
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