Gestão de resíduos: geração de valor agregado, artigo de Iane de Brito Reiter
Gestão de resíduos: geração de valor agregado, artigo de Iane de Brito Reiter
Pode parecer um tanto dramático, porém, é primordial tratar da gestão de resíduos com seriedade. A gestão de resíduos além de ser uma obrigação das empresas brasileiras, em determinadas atividades industriais pode ser uma oportunidade de gerar valor agregado (BRASIL, 2010).
O aumento considerável de resíduos nos últimos 40 anos é reflexo da altos níveis de produção e consumo. Ao mesmo tempo em que as pessoas consomem mais, estão contribuindo para à própria ameaça: a poluição ambiental.
Empresas são potenciais geradoras de resíduos. Atualmente, no Brasil, para uma empresa encaminhar registro nos órgãos federais, estaduais e municipais, é necessário que ela descrimine o resíduo que será gerado pela atividade e também como será a gestão deste resíduo (BRASIL, 2010). Executar a gestão do resíduo é trabalhoso, e em um primeiro momento pode ser desgastante para o empresário enfrentar essa questão. No entanto, não se pode desanimar, pois como será visto adiante, é possível agregar valor econômico aos resíduos.
A geração de resíduos é considerada um dos maiores impactos ambientais, mas através de esforços para mapear a geração de resíduos, é possível diminuir a geração e até mesmo reciclar ou reaproveitá-los. Além de criar problemas ambientais, os resíduos representam perdas de matérias-primas e energia, exigindo investimentos expressivos em tratamentos para conter a poluição (PELIZER; PONTIERI; MORAES, 2007). Os resíduos, por vezes, têm alto valor de reutilização, os quais podem ser utilizados na geração de novos produtos ou até como insumo do processo produtivo (SAIDELLES, et al. 2012).
Através de estudos pontuais em organizações foi possível identificar em qual etapa surgia o resíduo. No processo de beneficiamento de arroz, encontrou-se como resíduo, a casca de arroz. Identificou-se, portanto, que parte da casca de arroz (resíduo) seria consumida no processo de secagem de arroz e o excedente seria processado (extrusado) para a confecção de briquete (ou pellets) para comercialização (FRANK; et al., 2010)
Ainda no setor de beneficiamento de arroz, outro estudo demonstrou uma diferente possibilidade de destinação para o resíduo (casca de arroz) através do processamento de sílica. A cinza gerada nos queimadores foi destinada para a produção de sílica, matéria prima para geração de novos produtos, como exemplo o cimento, (DELLA; KUHNA; HOTZAA, 2005).
Na indústria sulcroalcooeira, identificou-se a possibilidade de substituir a lavagem da cana-de-açúcar com água por lavagem à seco, gerando economia de água e redução de resíduo. O único resíduo gerado na etapa de limpeza desta matéria prima era a palha de cana de açúcar, cuja destinação é retornar à lavoura protegendo-a contra o sol. Na fase de moagem da cana-de-açúcar, outro resíduo gerado é o bagaço da cana. Como destinação deste resíduo a indústria em estudo transforma o resíduo em energia elétrica, através da queima. Parte da energia é utilizada no processo da indústria e o excedente é distribuído entre os funcionários ou para a concessionária de energia elétrica (LORENA et al., 2017).
Constatou-se através destes estudos, que a gestão de resíduos pode trazer oportunidades para a organização. Como visto, além de destinar o resíduo, o que é obrigatório por lei, as indústrias agregaram valor econômico ao produzir um novo produto.
Para determinadas organizações a gestão de resíduo nem sempre pode ser tratada internamente. É o caso das micro e pequenas empresas que geralmente não possuem espaço, conhecimento e/ou tempo para processar o resíduo até transformá-lo em um novo produto. Neste caso, a solução mais econômica e confiável é transportar o resíduo para quem tenha capacidade de transformá-lo em um novo produto, de forma responsável e ambientalmente correta, pagando um valor que, para a empresa, custa menos do que se ela mesma processar seu resíduo.
Inúmeros são os benefícios deste processo. Se por um lado a indústria que gera o resíduo consegue destiná-lo de forma adequada (como prevê a PNRS), por outro, quem recebe o resíduo está processando-o de forma que se transforme em adubo orgânico que retorna à terra, recuperando-a energeticamente.
O objetivo principal da gestão de resíduos é minimizar o impacto ambiental, e quando bem conduzida pode se tornar uma oportunidade de agregar valor à empresa. Estes são alguns exemplos de como a gestão de resíduos pode ser considerada uma oportunidade de negócio.
Nem tudo são flores, mas se nada for feito para mudar as questões ambientais, estaremos promulgando o fim da nossa existência.
Iane de Brito Reiter é graduada em Ciências Contábeis e Mestranda em Sistemas Ambientais Sustentáveis
Referências
BRASIL. LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 19 set. 2018.
DELLA, V. P. KUHNA, I. HOTZAA, D. Reciclagem de Resíduos Agro-Industriais: Cinza de Casca de Arroz como Fonte Alternativa de Sílica. Cerâmica Industrial. V. 10, n°. 2, 2005.
FRANK, et al. ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICA PARA A IMPLANTAÇÃO DE UMA INDÚSTRIA DE BRIQUETAGEM DE BIOMASSA VEGETAL (CASCA DE ARROZ) EM UMA EMPRESA. In: Congresso de Iniciação Científica (CIC) e Encontro de Pós-Graduação (ENPOS), XIX e XII, 2010, Pelotas. Anais… Pelotas: UFPEL, 2010.
LORENA, E. M. G. et al. GESTÃO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS DO SETOR SUCROALCOOEIRO: ESTUDO DE CASO DE PERNAMBUCO, BRASIL. R. Gest. Industr., Ponta Grossa, v. 13, n. 2, p. 182-197, jun./ago. 2017.
PELIZER, L. H.; PONTIERI, M. H.; MORAES, I. O. UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS AGRO-INDUSTRIAIS EM PROCESSOS BIOTECNOLÓGICOS COMO PERSPECTIVA DE REDUÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL. J. Technol. Manag. Innov. 2007, v 2. P. 118-127.
SAIDELLES, A.P. et al., GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DE ARROZ. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. V. 5, n°5, p. 904 – 916, 2012.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/10/2018
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