Ambientalização de conflitos sociais, Parte 1/5, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] LOPES (2006) aborda a ambientalização dos conflitos sociais relacionadas à construção de uma nova questão social, uma nova questão pública. O processo histórico de ambientalização assim como outros processos, como a judicialização, implicam simultaneamente transformações no Estado e no comportamento das pessoas.
Na vida cotidiana e no lazer, por se tratar da questão ambiental, ocorre nova fonte de legitimidade e de argumentação nos conflitos.
LOPES (2006) avalia as apropriações relativas a algumas especificidades e dilemas da participação dos cidadãos nas questões de meio ambiente.
A conjuntura atual é a da pertinente inquietação das forças ambientalistas com os paradoxos do crescimento das tendências aos grandes empreendimentos unilateralmente produtivistas, aos agronegócios e aos setores industriais social e ambientalmente predatórios num contexto de governo.
Pois estruturas de governo não se mostram capazes de mobilizar procedimentos de governança e nem de gestão.
Que se entende por governança ambiental. Não é pretensão cristalizar uma conceituação completa e inquestionável, até mesmo porque esta situação não existiria.
Governança transcende a assistencialismo social. Conceito transposto da área empresarial, nesta situação significa mediar de forma sistêmica, os interesses envolvidos de todas as partes interessadas.
Buscando a máxima satisfação possível com a conciliação das demandas emergentes. De forma sistêmica e permanente, sem espontaneísmos e improvisações.
Mediar e compatibilizar interesses legítimos e que transcendem caráter pessoal ou financista. E que ampliem a conceituação de preservação ambiental e de empreendimentos, procurando satisfazer as demandas das populações locais atingidas.
Nos processo de mais longo prazo de invenção, consolidação e avanço da temática ambiental, que se manifesta também por conflitos, contradições, limitações internas, assim como por reações, recuperações e restaurações.
Nestes processos de gênese e consolidação, podemos observar a importância de profissionais e especialistas implantando a temática interdisciplinar nas políticas públicas e nas instituições de Estado, assim como a participação de diferentes grupos sociais, desde empreendedores a populações vulneráveis ou sob risco.
A temática ambiental é relacionada às tradições específicas dos respectivos campos, assim como a história anterior de movimentos sociais, relacionados a diferentes grupos sociais, influencia a forma como tal temática é apropriada e ligada a conflitos anteriores reelaborados sob nova linguagem.
Por outro lado, à medida mesmo que a temática se impõe e o movimento avança, os empreendedores eles próprios, causadores principais da degradação ambiental, também se apropriam da crítica à sua atuação e procuram usá-la a seu favor.
O campo empresarial passa a dividir-se entre o pólo da acumulação primitiva e o pólo da apropriação da crítica, da “responsabilidade ambiental”, e mesmo da produção voltada para a viabilização da produção limpa e ambientalmente correta, acompanhada de novos materiais.
Entre esses pólos situam-se práticas que ora usam um ou outro elemento característico dos pólos, de forma pragmática, como parte de estratégias no interior do campo. Tanto trabalhadores quanto partes das populações atingidas por danos ambientais passam a utilizar-se também da questão ambiental como repertório de seus interesses e reivindicações.
Os movimentos sociais apresentam a distorção sistêmica de articular mudanças ideológicas como se fossem soluções para questões ambientais. Mas uma nova autopoiese sistêmica para o arranjo social, é urgente e precisa ser desenvolvida pela civilização humana. Até para solucionar a evidente crise civilizatória que se vivencia.
Nada foi mais nefasto na civilização humana do que as hecatombes ambientais produzidas pela falta de liberdade e práticas ambientalmente condenáveis geradas pela auto-suficiência de ditadores socialistas.
Esta mudança deve começar logo, juntando as lutas singulares, os esforços diários, os processos de auto-organização e as reformas para retardar a crise, com uma visão centrada numa mudança de civilização e uma nova sociedade em harmonia com a natureza.
Não é preciso esperar catástrofe ecológica ou hecatombe civilizatória para determinar nova autopoiese sistêmica. Como mencionado, nada foi mais deletério em causar a maior catástrofe ambiental do planeta do que a falta de liberdade e imprensa livre dos ditos regimes socialistas.
É esse o resultado do processo de “ambientalização” dos conflitos sociais que se descreve. O sucesso mesmo desse processo leva a reações, contra-ataques, restaurações e adaptações, que variam entre a ilegalidade e ilegitimidade não fiscalizada de uma continuidade de práticas, até primitivas.
É exposto como a “participação” da população em assuntos relativos à sua cidadania e qualidade de vida, preconizada em particular nas recomendações ambientais, tem ao mesmo tempo avançado e alcançado limites inerentes às formas de seu incremento.
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Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/09/2018
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AS MAIS ESTAPAFÚRDIAS AFIRMAÇÕES.
Diante da pretensão de defender uma indefensável pseudodemocracia reinante no regime capitalista, e por este propalada como o que de mais valoroso há para a manutenção do bem-estar social, que, de fato, não existe, e nem poderia existe, pois é inerente desse regime a divisão da sociedade em classes, as quais variam da mais absoluta miséria às grandes empresas acumuladoras de capital, muitas das quais atuam em âmbito multinacional, o autor do artigo em apreço, em sua primeira abordagem (Parte 1/5), das cinco que pretende apresentar, faz afirmações estapafúrdias e infundadas, impossíveis de se imaginar fosse ele capaz de as fazer, QUE SE PODE ESPERAR DAS PRÓXIMAS QUATRO ABORDAGENS A SEREM APRESENTADAS????????????????????????????????????????????????????????????????????
Para quem lê com viés ideológico….
Grande abs…
RNaime