Aquíferos – Como Manter A Sustentabilidade Para As Gerações Futuras, por Marco Antonio Ferreira Gomes e Lauro Charlet Pereira
[EcoDebate] As águas subterrâneas até o final da década de 70 eram reconhecidas como um bem muito precioso e que, por isso mesmo, deveriam ser reservadas ou protegidas para o uso das gerações vindouras.
Porém, com a mudança radical no comportamento das pessoas a partir dos anos 80, onde foi dada a largada para o consumismo sem limite, os recursos naturais, entre eles as reservas explotáveis de águas subterrâneas, também conhecidas como aquíferos, passaram a ser exploradas de forma desordenada.
Num processo de reação em cadeia, todos os setores da economia, passaram a demandar por água em seus sistemas de produção. As águas superficiais tidas como suficientes para o abastecimento da população brasileira, já não eram vistas assim nos anos 90, época em que a maioria dos mananciais superficiais próximos aos grandes centros já se encontravam completamente poluídos por meio de esgotos e resíduos das mais diversas origens. Tal cenário levou à exploração frenética dos aquíferos, sem qualquer planejamento para estabelecer um controle de retirada de água. Isso ocorreu no mundo todo e se agravou nos países mais pobres devido à perpetuação do sistema irracional e insustentável de retirada da água, permanecendo até os dias atuais em muitos lugares.
No caso do Brasil, a situação tem se agravado muito e tende a piorar para o futuro próximo, pois a escalada de exploração dos aquíferos continua sem controle. A questão maior é que já não existe água superficial para as demandas urbanas, salvo na região amazônica. Assim, o que se vê são poços e mais poços sendo abertos todos os dias em todos os lugares (áreas urbanas, rurais e industriais). Nas cidades relativamente pequenas, por exemplo, existe um poço tubular profundo em cada bairro. Isso era inimaginável há duas décadas atrás.
Diante do exposto, faz-se urgente uma mudança radical de comportamento em relação ao consumo de água, aliada a medidas fundamentais de proteção dos aquíferos e de recuperação dos mananciais superficiais. O discurso já existe há mais de duas décadas, mas infelizmente as ações não avançaram no mesmo ritmo da deterioração dos recursos hídricos de um modo geral.
Um exemplo de como não avançamos muito no processo de consumo racional de água é o tão conhecido e necessário reuso, que já deveria ser obrigatório em todos os setores, mesmo nas residências mais simples, com projetos sustentáveis e de fácil acesso à população. Outra questão é o aproveitamento das águas de chuvas por meio dos telhados. Existem estudos em universidades que já mostraram a viabilidade de coleta e uso, principalmente em empresas cujas edificações ocupam extensas áreas. No caso dos resíduos sólidos (esgotos), as estações de tratamento (ETES) não avançaram muito. Existem muitas cidades brasileiras que não possuem ETES e outras tantas que tratam uma quantidade insignificante de seus esgotos, fazendo com que seus cursos d’água continuem fétidos e mal cheirosos diariamente.
Tal conjunto de problemas acima citados, se atenuados ou minimizados, auxiliaria muito na conservação dos aquíferos, pois retiraria destes a imensa pressão de exploração atualmente existente.
Para completar todo esse processo, dentro de um contexto sustentável, haveria então a necessidade de proteção dos aquíferos no sentido mais stritu da palavra. Tal proteção, começaria pelas áreas de recarga direta (quando houver), que são locais desprotegidos, onde o risco de contaminação é maior. Sobre tais áreas o uso passaria a ser restrito, com faixas ou zonas de proteção, com possibilidades de enquadramento como Áreas de Proteção Permanente – APPs (nível mais restrito). Nas porções confinadas (protegidas naturalmente), o controle seria em função de cada poço aberto (avaliação da necessidade de abertura, fiscalização permanente depois de aberto e controle da explotação – uso racional).
Assim, com o conjunto de medidas acima exposto, certamente os aquíferos estariam em condições mais sustentáveis para manter a sobrevivência das gerações futuras.
Trata-se aqui de um panorama global e sintetizado no sentido de mostrar ao leitor a complexidade que envolve os aquíferos e, consequentemente, a água em nossa vida. Afinal, a água é essencial para a nossa sobrevivência, apesar da teimosia em relegar para segundo plano essa realidade incontestável.
Consultas:
http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/aguas_subterraneas/protecao_das_aguas_subterraneas.html
https://www.ecycle.com.br/2629-agua-de-reuso-aproveitamento-de-agua-da-chuva
Marco Antonio Ferreira Gomes* & Lauro Charlet Pereira*
*Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 03/09/2018
[cite]
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Marco Antônio, meus parabéns pelo artigo.
Gostaria de relatar um fato que ocorreu comigo há duas semanas quando fui levar minhas neta para. aula de ginástica olímpica.
Chegando ao clube me deparei com um funcionário varrendo o chão com água. Imediatamente me dirigi a ele mostrando-lhe o absurdo que estava cometendo.
Ele parou de varrer, mas mais tarde, quando acabou a aula de uma das netas, lá estava ele varrendo de novo o chão com água. A justificativa era essa: o clube tinha um poço de onde estava sendo retirada a água.
É exatamente esse o pensamento da maioria. Se a água vem de um poço particular, ninguém tem nada com isso.
Fui para o computador e protestei por escrito contra essa aberracao e acredito que fui bem sucedido.
“Aquíferos – Como Manter A Sustentabilidade Para As Gerações Futuras,” por Marco Antonio Ferreira Gomes e Lauro Charlet Pereira.
[título do artigo em apreço].
Os autores estão apresentando um problema para o qual não existe solução, a não ser aquela que virá após a destruição total – ou quase total – da vida que ainda há.
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