Inversão da pirâmide social aumentará a presença de pessoas com mais de 60 anos no mercado de trabalho e no ensino superior
Em 20 anos, população brasileira terá 24,5% de idosos
Por Andressa da Rosa
O Brasil esta ficando mais experiente. É o que apontam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2017, o país superou a marca de 30 milhões de idosos. A previsão é de que, em 2042, a população brasileira atinja 232,5 milhões de habitantes, sendo 57 milhões de idosos (24,5%).
Com a inversão na pirâmide social, já que até 2030 teremos mais idosos do que crianças de zero a 14 anos, a presença de pessoas com mais idade no mercado de trabalho e nas instituições de ensino tende a ser cada vez maior.
Para se ter uma ideia, dos mais de oito milhões de matriculados em cursos de graduação, presenciais e a distância, aproximadamente 24 mil têm 60 anos ou mais, segundo o Censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), de 2016.
Com o crescente número de idosos, o mercado de trabalho e as instituições de ensino, antes projetados apenas para jovens multitarefas, a partir de agora, necessitam de ajustes para atender ao novo cenário. Se as pessoas mais novas conseguem executar simultaneamente diferentes tarefas como andar, falar ao telefone, mexer no celular e estudar, os idosos precisam de cautela quando o assunto é foco e atenção.
O alerta é da presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Claudia Fló. “A maioria dos idosos não consegue se concentrar e realizar muitas atividades ao mesmo tempo. Ao caminhar, por exemplo, um diálogo prolongado aumenta o risco de ele desviar a atenção e, com isso, perder o equilíbrio e cair”. Quando o assunto é o processo de ensino-aprendizagem para idosos, ela é ainda mais enfática. “Um ambiente silencioso e o foco em apenas uma tarefa ou um tema a ser estudado por vez, é fundamental para o desempenho e performance do idoso”.
No que diz respeito ao limite diário de estudos, a especialista ressalta que há variação de pessoa para pessoa. “No jovem, fala-se muito sobre o período máximo de atenção plena, que é de aproximadamente 40 minutos. No caso dos idosos, não existem estudos sobre o tema para essa população específica, ou seja, é importante que ele respeite o seu próprio limite”.
Claudia ainda lembra que exercitar a mente faz bem em qualquer idade e, para os idosos, é importantíssimo se manterem ativos, especialmente, em atividades intelectuais. “Para auxiliar nesse processo de aprendizagem, levando em consideração algumas limitações adquiridas pela ação do tempo, o ideal é seguir aquela velha dica dos professores: nunca estudar na véspera”. E ela acrescenta que o motivo é clínico. “Estudar logo após o término das aulas faz com que a fixação do conteúdo seja muito melhor, pois a repetição ativa os circuitos cerebrais que auxiliam na memorização. Para o idoso, essa prática é fundamental, pois acontece uma ‘lentificação’ da fixação cerebral e ele tende a ter uma dificuldade maior que os jovens”, destaca.
E é justamente por isso que há uma preocupação na adequação das metodologias de ensino para os idosos. Na Unicesumar, por exemplo, há todo um suporte para facilitar o acesso deste público às ferramentas disponibilizadas pela instituição. “Sempre acompanhamos de perto nossos alunos para garantir o aproveitamento máximo de cada um deles. No caso dos idosos, isso é intensificado e as equipes dos polos acompanham e orientam, individualmente, cada um deles. “Assim que iniciam a trajetória na instituição, esses alunos passam por uma ambientação, onde recebem todo o suporte para o manuseio dos ambientes e para a resolução das atividades. Outro facilitador é uma disciplina chamada de Go – Projeto de Vida, criada para ajudar ao estudante da EAD a manter sua trilha de estudos”, explica Kátia Solange Coelho, diretora de Graduação e Pós-Graduação da EAD Unicesumar.
Para que os idosos tenham a certeza de que não estão sozinhos e de que a distância é apenas física, os mediadores desempenham um papel pedagógico fundamental: o de apoiar e auxiliar estes estudantes. A produção própria do material, com linguagem dialógica – que conversa com o aluno –, também permite uma aproximação maior com a instituição. “Entendemos que o cuidado, seja com o material ou com o suporte acadêmico, é essencial para evitar que eles desistam, em especial, porque muitos ficaram longos anos sem estudar e porque a tecnologia pode ser um entrave para esse perfil de estudante”, acrescenta a diretora.
Bombeiro Militar recém-aposentado, o estudante do curso de Tecnólogo em Segurança no Trabalho da EAD da Unicesumar de Indaiatuba (SP), Waldir Gonçalves Mainates, conta que iniciou uma nova graduação motivado pelo desejo de aumentar o conhecimento e agregar mais conteúdo ao seu atual trabalho. “Sou formado em Teologia e em Técnico em enfermagem, ministro cursos de primeiros socorros e traumas. Não imaginava fazer outra faculdade com a minha idade, mas percebi que precisava e escolhi o que seria um diferencial dentro área em que estou atuando”.
Ainda segundo Mainates, mais do que vontade, é preciso muito empenho e dedicação. “Com o passar dos anos, é necessário mais tempo e atenção no desenvolvimento das atividades. Porém, o auxilio da equipe de apoio do polo, a tecnologia e flexibilidade da EAD têm sido grandes aliados”, conclui o aluno, que já planeja a pós-graduação em Ergonomia.
Colaboração de Andressa da Rosa, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2018
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