Natureza sistêmica da realidade e sustentabilidade, Parte 1/3, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] CÓRDULA (2011) assevera que o planeta passa por profundas mudanças em virtude das modificações impostas pelo modo de vida da humanidade, que vem causando sérios desequilíbrios ambientais e que afetam diretamente o ambiente e a sociedade.
Os estudos da natureza e da realidade vêm evoluindo ao longo dos séculos, e de visões fragmentadas de análise como a cartesiana, passando pela holonômica, ecológica, holística e culminando na sistêmica, onde o planeta passa a ser visto como um organismo em constante ritmicidade cíclica e com meios próprios de retorno da homeostase.
No núcleo destes eventos, que culminam em mudanças em todos os níveis no planeta, estão os seres humanos, que precisam estar sensibilizados para entender e assimilar nosso papel neste sistema para conseguirem continuar evoluindo e desenvolvendo a vida de forma sustentável e em equilíbrio com o meio ambiente.
O planeta é composto de partes que estão a todo o momento num ritmo de movimento contínuo, se relacionando.
A vida está conectada e interagindo tanto com o meio, como com os demais organismos a nossa volta.
Mesmo em um simples ato de caminhar contemplativo, existe a interação com esta sistêmica global, tendo contato visual com outras pessoas e pelas quais passamos, trocamos olhares, gestos, palavras e, mentalmente, articulamos suposições deste pré-contato (CAPRA, 2006).
Além disto, há uma constante integração com o ambiente. É uma teia interminável de interações bióticas e abióticas, que se repercutem localmente aos fenômenos descritos até um nível sistemático global, em uma teia ecológica que permite e sustenta a vida (CAPRA, 1996).
Para CAPRA (2006), tudo no planeta está interligado em uma projeção sistêmica de interdependência tão tênue, e ao mesmo tempo tão necessária, que permite o sustentáculo da vida.
Estes sistemas são rítmicos, pois possuem ciclos de funcionamento e ocorrências que permitem sua estabilidade e, mesmo que entrem em desequilíbrio, pois encontram de forma natural, meios para retorno da progressiva homeostase. A ritmicidade está presente em todos os seres vivos e no meio ambiente, sendo que “os modelos rítmicos são um fenômeno universal” (CAPRA, 2006, p.294).
Neste processo rítmico de mudança, flutuação e desenvolvimento do universo exterior e interior, permitem que percebamos “energias sutis” que descrevem a natureza holonômica da realidade, onde ocorre a existência do “todo na parte e da parte do todo” (CAPRA, 2006, p.297).
Para criar uma imagem desta concepção, se recorrem a modelos, semelhantes a fractais, onde de forma simplória traçamos círculos para designar a ritmicidade cíclica da vida e de suas interações do todo com suas partes e ao mesmo tempo a presença do todo em cada uma das partes (CAPRA, 2006, p.297).
CÓRDULA (2011) assinala que a este todo, se poderia designar a concepção totalitária e integrada do meio ambiente, que está presente em cada ecossistema, em cada bioma, em cada habitat, em cada organismo e em como se relacionam, estão interdependentes e interligados.
Este modelo permite um fluxo e uma flexibilidade maior de interação e mobilidade do todo e entre as partes, possibilitando, em um eventual desequilíbrio, uma forma do sistema holonômico, encontrar por si próprio, a homeostase.
O equilíbrio ocorre devido ao sistema ser aberto e em constante contato com o meio interno e externo (CAPRA, 2006; CAPRA, 1996).
Para MATURANA e VARELA (1997), a organização cíclica dos seres vivos é denominada de autopoiese, com vários níveis organizacionais e diferentes ordens hierárquicas.
A mesma autopoiese que significa novo arranjo de equilíbrio sistêmico que tanto se fala.
A fragmentação cartesiana não pode comprometer a compreensão do todo. A civilização humana vai acabar determinando nova autopoiese sistêmica, na acepção de Niklas Luhmann e Ulrich Beck, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio. Para sua própria sobrevivência, o “sistema” vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.
A ecologia trouxe ao longo do século XX contribuições fundamentais no entendimento da interligação entre os meios bióticos e abióticos, passando a uma forma linear de entendimento em cadeia, para um sistema ramificado em rede ou teia, mas ainda fechado, possibilitando o desenvolvimento e manutenção da vida (CAPRA, 1996).
A ênfase nas partes tem sido chamada de mecanicista, reducionista ou atomística; a ênfase no todo, de holística, organísmica ou ecológica. Na ciência do século XX, a perspectiva holística tornou-se conhecida como “sistêmica”, e a maneira de pensar que ela implica passou a ser conhecida como “pensamento sistêmico” (CAPRA, 1996, p. 33)
O holismo considerava o estudo de todas as partes do meio ambiente, porém, as interconexões ainda permaneciam camufladas (CAPRA, 1996). Com a evolução gradativa do pensamento filosófico, agregado a uma nova concepção da vida planetária, houve uma mudança na forma de observar e analisar os fenômenos naturais a partir das suas partes que era uma concepção cartesiana, linear e fragmentado para uma linha de pensamento do todo e de forma mais complexa (CAPRA, 1996; MATURANA e VARELA, 1997; LOVELOCK, 2006ª e CAPRA, 2006).
A concepção sistêmica engloba os pensamentos ecológicos, holonômicos e o holismo e a autopoiese, para o entendimento do funcionamento do sistema planetário, em como estamos influenciando e em como se pode ser afetado. E quais as causas ambientais que se repercutirão ao longo das décadas (CAPRA, 1996; MATURANA e VARELA, 1997; LOVELOCK, 2006ª e CAPRA, 2006).
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Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/08/2018
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