Enfoque sistêmico na agricultura em oposição ao reducionismo, artigo de Roberto Naime
Agricultura, Ciência, Pesquisa
[EcoDebate] A aplicação do enfoque sistêmico na agricultura tem gerado polêmicas. Esta questão tem atraído a atenção de muitos cientistas, preocupados com a visão parcial que o reducionismo pode desenvolver.
Apontar o uso de sistemas na pesquisa agrícola pode ser a ponte entre as ciências básicas, representadas pela biologia, física e química, e as ciências aplicadas. É na construção dos modelos de simulação que podem ser formadas as equipes interdisciplinares e multidisciplinares, melhorando-se assim a qualidade das pesquisas.
Isto responde plenamente como se apropria e como se resolvem problemas ambientais. Por isto o programa de pós-graduação da Universidade FEEVALE, no qual exerci funções profissionais, tem tanto êxito, eficácia e eficiência. Ocorre interação entre professores e alunos de diversas áreas que transitam, tem transdisciplinariedade ambiental.
Mas uma visão sistêmica da agricultura foi proposta nos anos de 1950 pelos professores Davis e Goldberg (1957), quando desenvolveram o conceito de “agribusiness”, que nos anos seguintes foram introduzidos no Brasil com a denominação de complexo agroindustrial, negócio agrícola e agronegócio, entre outras denominações.
Negócio agrícola é definido não apenas em relação ao que ocorre dentro dos limites das propriedades rurais, mas a todos os processos interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura aos seus consumidores (ZYLBERSZTAJN, 1994).
É composto por muitas cadeias produtivas, ou subsistemas do negócio agrícola. As cadeias produtivas, por sua vez, possuem entre os seus componentes ou subsistemas os diversos sistemas produtivos agropecuários e agroflorestais, nos quais ocorre a produção agrícola.
Os diversos segmentos da agropecuária são apresentados, compondo-se de fornecedores de insumos produtivos como adubos, defensivos, máquinas e equipamentos agrícolas, propriedades agrícolas, de produção vegetal, animal e florestal, e unidades de processamento e transformação agroindustrial, incluindo distribuição e consumo, composto pelas estruturas de comercialização atacadista e varejista e pelos consumidores de produtos agropecuários.
Conforme HOEFLICH (2007) exemplifica. Quando se vai desenvolver um pneu, que é parte do automóvel, tem que estudar o conjunto do dirigível. Como se faz hoje em monopostos de competição. Como tem que fazer na agropecuária e em todo sistema social.
Por isso se sabe que leis e normas não vão resolver os problemas civilizatórios, embora sejam relevantes. A sociedade humana determinará nova autopoiese sistêmica, na acepção de Niklas Luhmann e Ulrich Beck, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio.
Que é um sistema totalmente instável e desequilibrado. Muito frágil e vulnerável que para sua própria sobrevivência vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.
Além dos componentes que transacionam diretamente no negócio agrícola, podem-se ainda identificar muitas organizações que prestam serviços de apoio ao agronegócio, tais como as organizações de Pesquisa e Desenvolvimento (P & D), de assistência técnica, as agências bancárias, os serviços de transporte, de vendas, de marketing, de armazenamento, os portos, as bolsas de mercadorias e os serviços de seguros.
Este conjunto de instituições está prestando serviços, e podem afetar o desempenho das organizações componentes. A análise do negócio agrícola brasileiro, pela sua abrangência, interessa ao planejamento estratégico de instituições de âmbito federal, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). É possível delimitar o negócio agrícola a uma região geográfica ou até a um estado da federação.
Nestes casos, a análise incluiria o conjunto de operações, organizações e transações e demais processos interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura da região delimitada aos seus consumidores.
Aos centros de P & D, entretanto, que trabalham com segmentos do negócio agrícola, é de maior interesse o conceito de cadeias produtivas e seus respectivos sistemas produtivos agropecuários. Por essa razão, os esforços para a determinação de demandas de determinados centros de P & D foram centrados nas cadeias produtivas.
Todos os componentes estão relacionados a um ambiente institucional (leis, normas, instituições normativas) e a um ambiente organizacional (instituições de governo ou de crédito), que em conjunto exercem influência sobre os componentes da cadeia.
As cadeias produtivas agrícolas devem suprir o consumidor final de produtos em qualidade e quantidade compatíveis com as suas necessidades e a preços competitivos. Por esta razão, é muito forte a influência do consumidor final sobre os demais componentes da cadeia e é importante conhecer as demandas desse mercado consumidor. Um outro componente de grande importância das cadeias produtivas, notadamente para a pesquisa agropecuária, são os sistemas produtivos agropecuários.
Influenciados pelas interações entre animais, vegetais e meio ambiente, os sistemas produtivos são a resposta da concepção e da inteligência humana, no gerenciamento dos sistemas produtivos (CASTRO et al. 1998).
Por isso se acredita convictamente que todos os atores sociais da atual autopoiese, quando for necessário, vão sentar numa mesa e definir novo arranjo social. Pena que estão esperando uma hecatombe para tomar esta atitude.
Referências:
BERTALANFFY, L. von. An outline of general systems theory. British Journal for the Philosophy and Science, Aberdeen, v.1, p. 134-65, 1950.
BERTALANFFY, L. von. General systems theory: a crítical review. In: BEISHON, J.; PETERS, G. H. Systems behavior. London: Open University, 1972.
CASTRO, A. M. G. de; COBBE, R. V.; GOEDERT, W. J. Prospecção de demandas tecnológicas: manual metodológico para o SNPA. Brasília, DF: EMBRAPA-DPD, 1995. 82 p.
CASTRO, A. M. G.; PAEZ, M. L. A.; LIMA, S. M. V.; GOEDERT, W. J.; FREITAS FILHO, A. de; CAMPOS, F. A. de A.; VACONCELOS, J. R. P. Prospecção de demandas tecnologias no Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). In.: CASTRO, A.M.G.; LIMA, S.M.V.; CAMPOS, F.A DE A; VASCONCELOS, J. R. P. Cadeias produtivas e sistemas naturais: prospecção tecnológica. Brasília, DF: EMBRAPA/DPD, 1998.
JOHNSON, B. B.; MARCOVITCH, J. Uses and applications of technology futures in national development: the Brazilian. Experience. Technological Forecasting and Social Change, New York, v.45, p. 1-30, 1994.
JONES, J. G. W. The use of models in agricultural and biological research Institute, 1970. In: SARAVIA, A. Un enfoque de sistemas para el desarrollo agrícola. San Jose, CR: Editorial IICA, 1986. 265 p.
SARAVIA, A. Un enfoque de sistemas para el desarrollo agrícola. San Jose, CR: Editorial IICA, 1986. 265 p.
ZYLBERSZTAJN. D. Políticas agrícolas e comércio mundial: “Agribusiness”: conceito, dimensões e tendências. In: FAGUNDES. H.H. (Org.). Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas. Brasília, DF: IPEA, 1994. (Estudos de Política Agrícola, n. 28).
HOEFLICH, V. A. Agronegócio: enfoque sistêmico na agricultura. In: HOEFLICH, V. A. Cadeia produtiva do negócio florestal. Curitiba: UFPR; Colombo: Embrapa Florestas, 2007. 17. Apostila do Curso de Pós-Graduação em Gestão Florestal.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/08/2018
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