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A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 1/7, artigo de Roberto Naime

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A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 1/7, artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] SILVA et al (1997) propõem que a questão ambiental deve ser compreendida através das relações e interpretações que se estabeleceram historicamente entre o homem e a natureza.

ROSSET (1989) argumenta que as filosofias (apesar de um certo arbítrio) são classificáveis em “naturalistas” e “artificialistas”. Considera que, na história da filosofia ocidental, este é o caso de dois breves períodos, nos quais o pensamento artificialista representou oficialmente a filosofia, na ausência momentânea de qualquer paisagem naturalista oferecida à crença dos homens pela imaginação filosófica.

Deste modo, essas lacunas da paisagem naturalista seriam suficientemente possantes para engendrar filosofias artificialistas, ou seja, haveria um momento de “depressão filosófica” intercalando-se entre a derrocada de uma representação naturalista e a reorganização de uma nova, a qual estaria encarregada de assegurar a importância dos temas naturalistas interrompidos temporariamente.

A história da filosofia ocidental, segundo o autor, conheceu duas grandes depressões: a pré-socrática, após a ruína da representação animista e antes do naturalismo antigo de Platão e Aristóteles e a pré-cartesiana, após a ruína do aristotelismo e antes da reconstituição de um naturalismo moderno por Descartes, Locke e Rosseau (ROSSET, 1989).

Um outro mundo é possível. Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia.

Mas uma nova autopoiese sistêmica para o arranjo social, é urgente. Que transcenda posicionamentos meramente filosóficos.

Habermas considera que a racionalização progressiva da sociedade está ligada à institucionalização do progresso científico e técnico, através do qual as próprias instituições modificam-se e antigas legitimações desmontam-se. Portanto, “secularização” e “desenfeitiçamento” das imagens do mundo são a contrapartida de uma racionalidade crescente do agir social (HABERMAS, 1983).

Ao se referir à ciência contemporânea, Hottois prefere empregar o termo tecnociência pois este destaca a estreita ligação entre o técnico e o epistêmico, a ação e a cognição, assim como a ruptura com o antigo projeto filosófico do saber.

A tecnociência, para ele produziu um mito evolucionista que vê a física, a biologia e as tecnologias da inteligência sob um ângulo sistemista e operacionalista, destacando que o mito tecnocientífico busca se desenvolver de “forma absolutizada ou autonomizada”, fora de toda consideração antropológica e, bem entendida, ética (HOTTOIS,1994).

Deste modo, para tentar melhor compreender todas as rápidas transformações ocorridas nas relações homem/natureza e suas implicações ético-filosóficas, sociais, ambientais e políticas, pode-se buscar na instauração do mundo moderno, ou seja, na passagem dos séculos XVI para o XVII, as bases do projeto atual de dominação da natureza pelo saber-fazer tecnocientífico. Que mistifica este posicionamento como ciência isenta, como se isto fosse possível.

Com as descobertas do século XVI, um período de transformações profundas surge no Ocidente. Como escreve Châtelet, “o recomeço da filosofia nos séculos XVI e XVII está ligado ao aparecimento de um outro contexto, o da ciência” (CHÂTELET, 1994:53).

Discursos inovadores são elaborados então, num contexto científico incipiente, através de diversos pensadores, entre eles, Francis Bacon (1561-1626). Precocemente, Bacon registrou o que seria marcado pelo século do “artificialismo” (da metade do século XVI à metade do XVII), ao afirmar que: “preconceito é olhar a arte como uma espécie de apêndice da natureza. As coisas artificiais não diferem das naturais nem pela forma nem pela essência, mas somente pela causa eficiente. E quando as coisas são dispostas para produzir um determinado efeito, pouco importa que isso se faça com ou sem o homem” (ROSSET, 1989: 64-65). Desta forma, estavam lançadas as bases científicas para a intervenção técnica sobre os processos naturais.

A experiência e os sentidos passaram a ser utilizados na validação de hipóteses, constituindo, deste modo, um marco na revolução científica que separa a Idade Medieval do Mundo Moderno.

Nicolau Copérnico (1473-1543) e Andrès Vesalio (1514-1564), entre outros, ao utilizarem o método experimental e indutivo, estão entre os pioneiros na aplicação do novo método científico que revolucionará ideias e comportamentos.

Giordano Bruno (1562-1600) demonstrou o significado que este método e a cosmologia copernicana representaram para a nova visão de mundo que se instaurava. “os deuses deram ao homem o intelecto e as mãos) outorgando-lhe poder sobre os demais animais. Eles supõem não só que o homem seja capaz de atuar conforme a sua própria natureza mas que também possa operar à margem das leis naturais, para deste modo triunfar mantendo-se como deus da terra” (Bruno, 1852 apud EDMUNDS & LETEY, 1975:37).

Parece chato discussão filosófica. Mas aqui começa a se entender porque o distanciamento tecnologicista de qualquer sistema político com a natureza.

A abordagem sociológica e antropológica alicerça movimentos da sociedade que propugnam alterações ideológicas como apanágios para a solução de problemas ambientais.

Não ocorre encaminhamento de soluções, pois tanto vertentes socialistas como da livre iniciativa rezam pela cartilha de crescimento permanente como forma de incrementar círculos econômicos virtuosos.

E a raiz destas posições, sejam socialistas ou de livre iniciativa, está assentada em outras abordagens. Começa com o homem se considerando um Deus na terra.

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Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/07/2018

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2 thoughts on “A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 1/7, artigo de Roberto Naime

  • Juan Luis Berterretche

    Me interesaria leer el articulo de Roberto Naime completo y no por capitulos para poder luego citarlo. No esta en Internet?

  • Prezado Juan,

    O artigo não está disponível porque é inédito e foi concebido para ser publicado em partes, em razão de seu tamanho.

    Atenciosamente

    Redação Ecodebate

Fechado para comentários.