O senso crítico e o esporte, artigo de Montserrat Martins
[EcoDebate] O professor Filipe de Oliveira, experiente com alunos de pré-vestibular, afirma que o aprendizado mais importante é o das séries iniciais, porque é o que ensina a pensar, a desenvolver os raciocínios básicos em linguagem, matemática e lógica. Se bem formado nos primeiros anos, o aluno desenvolve cada vez maior autonomia nos seus estudos e não vai ter problemas maiores na Universidade.
O senso crítico é uma das capacidades que se desenvolve com a capacidade de raciocínio e de análise dos fatos, ao crivo da lógica. E, sendo nosso país carente de uma boa formação nas séries iniciais, somos todos aprendizes, incipientes, nessa matéria. Há uma série de modismos que revelam nossos esforços para desenvolver esse senso crítico. Quando as pessoas criticam a Copa do Mundo, nas redes sociais, estão repudiando o uso de futebol como fator de alienação, como ocorre tradicionalmente na história do país. O que não impediu o governo anterior, hoje na oposição, de dispender mais recursos do BNDES para estádios do que para obras de infraestrutura ou serviços. Então, faz sentido o alerta contra o mau uso do futebol.
Na Copa da Rússia, no entanto, não há despesas públicas do nosso país envolvidas na participação da nossa Seleção. A CBF é uma entidade privada, tal como a FIFA, com seus próprios patrocinadores. Então, quando as pessoas dizem hoje que são contra curtir a Copa “porque o dinheiro tinha de ir para a saúde”, estão desinformadas. Esse dinheiro é proveniente de anunciantes e até dos espectadores que gostam de futebol. Não faz sentido imaginar que isso concorre com anúncios que seriam colocados dentro dos hospitais ou que as pessoas fossem pagar ingresso para assistir o espetáculo do atendimento hospitalar.
Senso crítico inclui desde a capacidade de desconfiar do “status quo” – no que a população brasileira vai indo muito bem – até a capacidade de submeter essas desconfianças ao exame das informações atualizadas e da lógica, da razão. Somos um povo incipiente nessa racionalidade, pois na Inglaterra ou na Suécia, por exemplo, que também amam futebol, as pessoas já tem uma noção mais clara da diferença entre o público e o privado. A CBF, na verdade, é fonte de renda pois paga impostos.
Desenvolver o senso crítico é fundamental para uma nação que quer e precisa se desenvolver em todas as áreas, como a nossa. O esporte não é o vilão: o mau uso dele sim. Bem utilizado, ele é fundamental para o desenvolvimento da nossa juventude, não com mega estádios mas sim com locais públicos para esportes nas comunidades e nas escolas. Enfim, não se trata de colocar o futebol em oposição à saúde ou à educação, mas de ter estratégias racionais de desenvolvimento, que abrangem diversas áreas de atuação.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e ex-presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 09/07/2018
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