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Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs): um universo da segurança alimentar a explorar, artigo de Sucena Shkrada Resk

Guia Prático de PANC – Plantas Alimentícias Não Convencionais
Guia Prático de PANC – Plantas Alimentícias Não Convencionais – Publicações Instituto Kairós

 

Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs): um universo da segurança alimentar a explorar, artigo de Sucena Shkrada Resk

O tema da segurança alimentar é rico em multiplicidades de enfoques, sendo que um deles trata do reconhecimento da importância das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). O termo foi criado pelos pesquisadores Valdely Kinupp e Harri Lorenzi, resultando no livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) no Brasil”, lançado em 2015, que se tornou uma referência básica sobre o assunto, com o destaque de 351 espécies e 1.053 receitas. De lá para cá, há outras iniciativas de disseminação do tema, como o Guia Prático sobre PANCs , do Instituto Kairós.

Quantas vezes passamos entre ou sobre estas plantas (até pisando nelas) ou as avistamos pelo caminho, as taxando de “mato”, “erva-daninha” ou uma semente, flor, vegetal e/ou planta ornamental sem importância? A falta de cultura da popularização desses conhecimentos, muitas vezes, circunscritos a regionalidades de biomas, nos leva a esse estado de ignorância e consequentemente a desprezarmos o potencial nutricional dessas espécies que não fazem parte do nosso cotidiano. Ou melhor, até fazem, mas não sabemos o valor implícito dessas plantas, que desprezamos a olho nu.

Quando estão em área rural ou na roça, a sua coleta fica mais fácil. Mas ao serem expostas a poluentes e contaminação em calçadas e até ruas, não se tornam indicadas para consumo. Aí um cuidado redobrado com a higienização. Com isso, potencializa a ampliação dos cultivos em nossas hortas caseiras ou comunitárias.

Ao nos enveredarmos neste universo de aprendizado, certamente todo cuidado é necessário, para inadvertidamente não ingerirmos alguma planta tóxica, sem o devido cuidado de saber, por meio de pesquisa nas fontes primárias, se realmente pode ser comestível, e como deve ser ingerida (crua, refogada, processada, em infusão, em forma de suco…). De resto, a recomendação é se deixar levar pela experiência da degustação, contato sinestésico e combinações de cardápio, que enriqueçam nossos pratos. O que pode ser uma PANC para mim no Sudeste, pode não ser no Nordeste ou na Amazônia, e vice-versa. Isso nos leva a viajarmos nas raízes tradicionais da flora da Mata Atlântica, do Cerrado, da Amazônia, dos Pampas e do Semi-Árido.

Nos relatos dos povos tradicionais e indígenas, muitas dessas espécies vegetais emergem nas narrativas e práticas a gerações, o que faz da escuta atenta a essas narrativas algo cada vez mais importante, aliada ao aprofundamento realizado pela Ciência. Outras são oriundas de outros países. 

Eu tive a oportunidade de passar por um breve exercício, no último sábado, durante uma aula/palestra com a chef de cozinha Simone Gomes, da Cia da Não-Ficção, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, em São Paulo. Foi uma forma de abrir um horizonte nutricional e aguçar a curiosidade para aprender mais. Moral da história: somente pesquisando e quebrando preconceitos, conseguimos valorizar, de fato, todo o potencial das plantas na natureza. Tato, olfato, paladar… tudo isso foi impulsionado. Afinal, a alimentação também deve ser um ato prazeroso.

Durante a atividade, pude conhecer e sentir o sabor da stevia, que é um adoçante natural (e conhecemos industrializada); da flor capuchinha (Tropaeolum majus), que é uma herbácea com propriedades diuréticas e anti-inflamatórias, expectorante, que tem vitamina C, usada em salada; das folhas de taioba (Xanthosoma sagittifolium), com sabor semelhante ao espinafre, rica em vitaminas, ferro e cálcio, que podem ser comidas cozidas ou refogadas; e de caruru (Amaranthus spp.), também utilizada em refogados e saladas e rica em cálcio, entre outros nutrientes e da azedinha (Rumex acetosa);

Nesta abundância de variedades, ainda havia a planta do hibisco (Hibiscus) e da erva-baleeira (Cordia verbenacea), utilizadas em chás; como também o almeirão-roxo (Lactuca indica L./canadensis); o jambú-do-pará (do gênero Acmella), que entre os seus usos, está no tradicional tacacá, com grande concentração de vitamina C; e uma planta chamada “major-gomes” (Talinum paniculatum), com alto teor de cálcio e potássio, entre outras.

Apesar de ser muita informação, sabores e cheiros para um dia, já foi um bom começo para aguçar a curiosidade para um maior aprofundamento, não é? Segue o convite, então, para que conversem com seus avós, com representantes de povos tradicionais e estabeleçam os seus primeiros contatos com as PANCs, após também se abastecerem da leitura oficial básica sobre as espécies e suas funcionalidades e modos de preparo. A partir daí, bom apetite!

* Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 26 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (http://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/05/2018

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